quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cérebro e açúcar

Estudávamos digestão, e nos deparamos com um vídeo em três partes no site Youtube. Vídeo excelente, ele explica as fases da digestão com a autoridade de quem está na era da Internet. A parte que nos interessa trata da primeira fase, a de mastigação (na boca é claro), quando a enzima Ptialina "ataca" os alimentos que possuem glicose em sua cadeia química.

Perguntamos então: por que o tratamento da glicose em primeiro lugar ?

Qualquer alimento com amido (que é uma cadeia carbônica com glicose em sua constituição) mastigado durante 3 minutos já libera um gosto doce na boca. Somos obrigados a crer que se o açúcar é priorizado, é porque tem alta importância. O cérebro considera importante liberá-lo logo. E sabem por quê ? Porque se o corpo, estrutura mantenedora e transportadora do regente dele mesmo, estiver com sua sobrevivência ameaçada, ele quer garantir a existência do seu controlador: o cérebro.

Se você estiver se sentindo fraco, a beira de um desmaio, basta chupar uma bala, ou mastigar um pedaço de chocolate, ou barra de cereal.

O cérebro e o corpo priorizam o açúcar, pois ele é fonte direta de glicose.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Conversando e montando um quebra-cabeças

No post anterior falamos sobre os fragmentos que o cérebro vai unindo, colando para compor as idéias. Existe outro modus operandi do cérebro em relação a este aspecto. À medida em que alguém que está conversando conosco vai falando, o cérebro se antecipa um pouco, tentando completar (adivinhar) a idéia que o nosso interlocutor está tentando nos transmitir. Nosso cérebro pode fazer isto numa medida proporcional à sua maturidade.

Um exemplo:

Alguém está nos contando que outra pessoa (um terceiro) estava no telhado colocando uma antena de TV. Ora, antes de concluir a narração, nosso cérebro já antecipa certas coisas, como: a pessoa caiu, um raio a atingiu, etc. Mas a pessoa pode contar que quem estava colocando a antena simplesmente achou um pássaro morto no telhado.

Isto ocorre porque durante a conversa o cérebro acessa suas redes neurais relacionadas a acidentes com pessoas em lugares propensos a riscos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Fragmentos de linguagem

A visão do cérebro como um montador de fragmentos coaduna com o nosso prazer de recompor as figuras dos quebra-cabeças, de resolver enigmas, de procurar fazer a classificação de tudo o que vemos a nossa volta. Não existe um "continum" na nossa linguagem, e sim estruturas léxicas que unem fragmentos de idéias através de preposições, pronomes relativos (que, qual, cujo) e outros vocábulos de ligação. Estes acabam sendo ignorados pela nossa memória de curta duração, que só guarda o necessário, e as vezes nem isso.

Se nos dizem:

"O presidente Lula afirmou que sai satisfeito com o seu duplo governo, e que a satisfação se completa ao deixar a sua companheira Dilma como praticamente uma substituta capaz ",

o que fica ecoando em nossa mente após esta frase ser dita, após algum tempo é:

Lula está satisfeito, com o governo que fez, e com Dilma em seu lugar.

A mente não fez realmente um resumo como muitos poderiam dizer apressadamente. Ela se submeteu aos fragmentos mais importantes: Lula, satisfeito, governo e Dilma. O que se poderia denominar resumo são as palavras chave de maior expressão, para o contexto de maturidade de quem ouviu. Uma criança, que conheça o polvo e a lula de algum trabalho escolar, mas que não saiba que Lula é um apelido de alguém, talvez suponha que uma forma de peixe ficou satisfeita , mas não saberia bem o porquê, e até esquecesse o nome Dilma, muito menos conhecida do que Lula.

O cérebro é um montador de fragmentos

Estamos tão acostumados com as frases que aprendemos dos pais e professores, que achamos que elas contêm realmente uma estrutura ordenada apropriada para entendimento. Isto é uma utopia. Consideremos a diversidade de línguas e dialetos correntes em nosso mundo. Se houvesse uma linguagem apropriada, com esta característica de estrutura ordenada, perfeitamente inteligível pelo cérebro, teríamos uma só língua (como antes da torre de Babel).

Vamos mais longe, então, postulando que o cérebro é capaz de entender qualquer linguagem que se conceba. E sabem por que ? Porque o cérebro liga, relaciona os fragmentos que pronunciamos em nossos diálogos ou lemos em textos, fazendo experimentos de relações que aprendemos ao longo da vida, e, ao final dos experimentos, estabelece um sentido no qual vai acreditar (isto porque "cada cérebro uma sentença").

Um exemplo:

O gato comeu o rato.

Nosso cérebro recebe as duas entidades: gato e rato. Antes de processar a ação de comeu, ele já imagina (devido à nossa cultura adquirida) o gato correndo atrás do rato e talvez, ao alcançá-lo, comendo o rato. Quando a ação (última a ser percebida, pois é mais abstrata do que entidades muito conhecidas por nós) comeu é processada em nossa mente, aceitamos a idéia, e o enunciado é repetido no cérebro.

É assim que o cérebro trabalha. Ele primeiro captura e depois liga fragmentos. Não existe a linguagem (sintaxe) ideal para o cérebro. Qualquer uma serve, contanto que tenha regras previsíveis e que façam sentido para o cérebro.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O princípio da economia cerebral - III

Vamos falar da PREGUIÇA.

Não julgue e condene os preguiçosos, pois eles assim o fazem para reter o açúcar para utilizar em outra hora e para outros fins. Quem dá esta ordem é o Cérebro, maior usuário deste recurso molecular. Se suas pernas ou seus braços gastarem o açúcar, o cérebro ficará "assustado" e com medo de não tê-lo na hora que precisar.

Já viu como você ganha forças quando precisa fazer algo para saciar sua fome ? Já viu como o ser humano é capaz de roubar e matar por comida ? É o cérebro que lhe dá esta ordem, senão todo o corpo que trabalha para ele pode morrer, e ele junto, por consequência.

Superar a preguiça é uma opção do cérebro educado e disciplinado. Ele diz, após conhecer a verdade, ao corpo para que trabalhe para ganhar o dinheiro para comprar "açúcar" (qualquer alimento que o contenha) e que faça exercício, de outra forma o corpo não poderá se deslocar para o trabalho nem ter forças nos braços para fazer o esforço que é recompensado com o dinheiro para comprar "açúcar".

sábado, 20 de março de 2010

A linguagem é uma chave para desvendar o cérebro

De um exemplo da língua portuguesa, que dei ao meu filho, surgiu a frase sobre a qual vamos discutir:

"O cérebro é uma máquina de produzir textos"

Como cheguei a esta conclusão ?

Leia o seguinte post no blog da utilidade do português.

O mecanismo manifestado no exemplo que dei, da narrativa de um acidente é o seguinte:

Meu filho vê o acidente
A imagem adentra seu cérebro através dos olhos
Se cérebro traduz a imagem em narrativa
A narrativa gera uma nova imagem composta apenas pelos componentes que fazem parte do mundo que este cérebro conhece (seu vocabulário, sua memória)
Baseado nesta nova imagem, meu filho narra o fato visto a partir de agora

Por isto se diz que o fato é alterado, na narração, por aquele que o narra. Se este narrador for cego para detalhes que viu, mas que não conhece, estes detalhes serão desprezados e perdidos.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O princípio da economia cerebral - II

Outra estratégia que o inconsciente coletivo inventou, pois seus cérebros clamaram por tal coisa é a mnemonização, simbolização e as abreviaturas.

Os mnemônicos transformam longas expressões em uma palavra, como é o caso de modem (modulador e demodulador) e Reficofage na biologia (Reino, Filo, Classe, Família, Gênero e Espécie).

As abreviaturas utilizam as primeiras letras das palavras contidas numa expressão, como ONU (Organização das Nações Unidas), TV (Televisão) e IR (Imposto de Renda).

Deixamos a simbolização por último por ser mais complexa. As figuras, símbolos e a linguagem figurada propõe uma impressão que armazena uma enorme quantidade de significado. É o caso das placas de trânsito, personagens mitológicos, estrofes musicais (como a do filme dos Contatos imediatos de terceiro grau ou do 007).

São todas as estratégias do cérebro para compactar significados e facilitar o acesso à memória.

O princípio da economia cerebral - I

Sendo um dispositivo responsável pelo controle de todo o nosso ser, o cérebro faz o possível para economizar energia. E neste regime de economia está implícito o processo de compactação. Até uns cinco anos atrás, mais ou menos, não se sabia disto, e, no entanto, na ciência da computação, este processo já estava bem desenvolvido.

No terreno da visão, David Hubel e Torsten Wiesel fizeram experimentos com a visão do gato, e constataram as simplificações que a mesma faz para transferência das imagens para a memória.

Se pararmos para meditar um pouco, realmente vamos achar razoável o fato de que nossa memória realmente guarda "impressões" do que vemos, e não quadros detalhadíssimos das cenas que chegam aos nossos olhos. O movimento impressionista na pintura antecipou este princípio teórico.

O cérebro faz isto não só com a visão, mas com a audição, onde meios tons, a igualdade forçada de sustenidos e bemóis, não nos dão nenhuma reação desagradável, pois o cérebro completa os "buracos" para nós.

O fenômeno dos anos 90 e 2000

Desde os anos 90, com o aumento de recursos tecnológicos, e seu avanço a patamares de simplificação inimagináveis. Músicas são feitas na base da manipulação da escala musical em softwares. Romances são escritos na base do copiar e colar. Estruturas de engenharia são feitas em softwares de simulação. Até o túnel de vento pode ser substituído por um tunel virtual.

Desta forma, o ser humano está perdendo o seu senso investigativo realmente biológico, reduzindo sua capacidade de observação e de concepção teórica. Alunos não são mais estudantes. A pesquisa pode ser buscada no Google, sem esforço. Alguns nem modificam as palavras, colocam os trechos do jeito que estão em seus textos de trabalhos.

Isto mostra o Princípio da Economia Cerebral em sei extremo danoso e perigoso, pois ficaremos estacionados num estágio de desenvolvimento que não atenderá às exigências futuras.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Memória gravada no Código Genético

Uma das coisas que mais me estarreceu nos últimos meses foi a descoberta, em artigos da Scientific American e em livros de PhDs em Neurociência, de que a nossa memória está codificada no código genético dos neurônios.

Em nossa simplicidade de leigos, sempre achamos que o DNA e o RNA estavam relacionados apenas à multiplicação e síntese de proteínas da célula. Mas como Deus não dá ponto sem nó, os cientistas vieram a descobrir que o RNAm (mensageiro) participa do processo de envio da memória de curta duração para a de longa duração.

E tem mais. O teórico da máquina de processamento, Von Neumann, enveredous-se, antes de conceber seu projeto (o computador) em neurosciência e neurofisiologia.

Em outras palavras, um novo neurônio gerado na memória de curta duração codifica uma sensação, ou uma nova informação em forma de síntese proteica com o auxílio do RNA. Durante o sono, se esta memória for considerada relevante,  ela será transferida para a porção do cérebro que armazena uma memória de longa duração para esta informação recebida.

Uma das características do DNA e RNA é a de ser uma sequência de genes codificadores (grupos de 3 núcleos) com propriedades compatíveis com a codificação dos bytes no campo da ciência da computação. Suas sequências são códigos. Cada código tem um significado. Só sei que este código permite armazenar conceitos como automóvel, pai, mãe e outras idéias. O como é que nem os cientistas ainda sabem.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sono e memória

Nosso sono é primordial para consolidação do aprendizado do dia que o antecedeu. Já se mapeou este mecanismo com suficiente detalhamento que pudesse possibilitar dizer que a transmissão da memória de curta duração para memória permanente é feita através de mecanismos relacionados ao código genético. O RNA mensageiro transfere o código genético (DNA) da célula nervosa para a nova memória permanente no local apropriado do cérebro.

Isto foi resultado do estudo para justamente impedir a consolidação das memórias indesejáveis referentes a desastres, por exemplo, nas vítimas. Uma estratégia seria impedir que esta pessoa passasse pelo processo de sono após o desastre. Isto pode ser conseguido através de medicamentos.

E todos nós pensávamos que o DNA só se referia à transferência de características entre parentes. No entanto, ele tem esta segunda função: a de participar da memorização, da aprendizagem, etc.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Compensação de incapacidade / Rapinagem de existência

Estou a alguns anos meditando sobre Herança de Personalidade, ou seja, a manifestação de pessoas que, tendo uma personalidade inexpressiva, usam raciocínios dos outros SEM CRÍTICA OU AVALIAÇÂO. Este fenômeno tem sido provocado por novelas e programas de entrevista, que em busca de opiniões rápidas, incutem ou conduzem as respostas dos entrevistados, geralmente pessoas do povo pouco articulado devido à falta de estudo e de esforço mental.

Para dar um quadro mais acessível, pense naquele seu amigo, colega ou companheiro que vive contando casos ocorridos com outros, ou que se orgulha dos conhecimentos pessoais que teve ou tem até hoje. É só você falar de um assunto, e este indivíduo já tem um caso de um conhecido (nunca dele mesmo) expressivo para contar, melhor do que o que você citou.

Após raciocinar sobre este fenômeno, deduzi que este tipo de indivíduo usa uma COMPENSAÇÃO para a sua falta de experiência ou vivência. Ele pode não ter um bom emprego, mas um conhecido tem um emprego ótimo, com altíssimo salário. Ele pode não ter nem um rádio, mas tem um conhecido que tem um aparelho de som caríssimo. Ele pode nem ter uma namorada, mas tem um conhecido casado com uma mulher maravilhosa.

Na gíria existe uma expressão para isto, mas que não vou colocar em meu respeitoso blog. Basta o meu leitor saber do problema, para não incorrer nele. Fale de figuras públicas, pois públicas são e a todos dão ciência de seus teres e haveres, para não tornar este hábito ou síndrome um vício, e acabar se anulando ou inchando-se de "ar alheio".

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Respeito ao GRANDE

Outro dia estava observando meu filho em uma aula na quadra. Ele é um menor de 18 anos. Reparei os coleguinhas vindo pedir autorização ao professor para ir ao banheiro ou para beber água. A cena era sempre dos coleguinhas chegando diante do professor, levantando a cabeça para ver os olhos do mestre e ouvir melhor sua voz, e pedindo a autorização devida.

Guardei em minha memória visual aquele "olhar para cima" e comecei a filosofar. Deus fez realmente as crianças menores na estatura para que tivessem que respeitar algo palpável para sua mente infantil: o fato de que o humano que nelas manda é MAIOR (em estatura) que ela. E são tantos os anos que se passarão nesta condição, que ela acabará percebendo que o parâmetro real e efetivo é o da idade de quem manda, de sua experiência.

Sabedoria de Deus frente ao mundo que tem que ser visual a princípio, até que se formem as estruturas de raciocínio segundo a razão e espiritualidade.

Para este estágio, ainda vale "tamanho é documento". Respeita-se o Grande. Metaforizou-se até Deus, o inmetaforizável: Deus é grande. E é mesmo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Por que os mais velhos demoram mais a dar suas opiniões ?

Jovens e velhos tem 86 bilhões de neurônios. A diferença é o estabelecimento das conexões neuronais, à medida em que o ser humano amadurece. Amadurecimento é, portanto, significado de rede neuronal mais complexa, com muitas ramificações possíveis. E nesta rede complexa, no amadurecido, uma idéia caminha, não em linha reta como seria no jovem mais imaturo que pudermos encontrar, mas virando à direita, depois à esquerda, como alguém que caminha entre as prateleiras de um supermercado. De vez em quando volta para trás e recomeça o trajeto, podendo alterar uma das direções que já tinha feito. Esta é a mente e o pensamento do ser maduro.

Se o caminho da idéia é assim tão complexo, é claro que os mais velhos vão demorar um pouco mais a dar suas opiniões. O caminho é maior. E o jovem vai continuar a dar as suas opiniões precipitadas, oriundas de sua rede que é quase uma linha reta.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Porque os mais velhos lembram de coisas antigas.

Novos e velhos tem 86 bilhões de neurônios. A diferença é a complexidade das ligações (que é o elo com a realidade). O velho (prefiro chamar maduro) tem mais ligações neuronais. Ora, estas ligações acabam por conectar indiretamente neurônios distantes da memória. E aquela memória da infância ou juventude, outrora distante das memórias mais recentes, acabam por ficar ligadas.

Quando o ser maduro olha para aquela árvore de natal em sua sala, acaba por ligar a todas as referências de árvore de sua vida: a árvore da casa do pai, a ávore do jardim de infância, a árvore de hierarquia dos reinos animais em biologia, a árvore de natal da casa da tia, e a árvore de natal que está olhando. Por isto os mais maduros são pensativos (os normais).