sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Hierarquia da Linguagem - O mundo da criança

Como nosso próximo post será sobre o Nível Casa da Hierarquia da Linguagem, vamos analisar o desenvolvimento da criança para entender como este ambiente caseiro, acolhedor, influencia a sua Linguagem.

A influência sobre a Linguagem da Criança fica mais evidente aos seus 18 meses de vida (1 ano e meio de idade) quando, segundo (MALDONADO et al, 1993) seu vocabulário de 50 palavras começa a ter um crescimento espantoso, talvez conjugado à sua capacidade de falar. Esta idade de 18 meses é crucial. O bebê da espécie humana não chega ao mundo com o cérebro totalmente formado. E nesta idade é que ele começa a falar.


Para delimitar os campos de aquisição da linguagem pelas crianças, pelos motivos apresentados, devemos nos lembrar que elas são um tanto esquizofrênicas, ou seja, a realidade não é totalmente apreendida em sua quase exatidão (pois mesmo os adultos não captam a realidade em sua inteireza) pois se mistura a fantasias. Na pré-adolescência e no curso da adolescência, em magnitudes variáveis, é que a criança se insere totalmente na realidade.


Portanto, quando demonstrarmos as aquisições de linguagem no nível da Casa, devemos ter em mente que este nível está fundido ao imaginário da criança, adquirido em casa. Consideraremos assim de forma a não confundir este nível de hierarquia da Linguagem com o nível abstrato, pois o imaginário da criança não pode ser chamado de abstrato, pois não é fruto de raciocínios, e sim um mundo paralelo estabelecido pelas fábulas, mitos, histórias antigas e fantasias, que se inserem em uma realidade possível mas não abstrata. As princesas e os príncipes, reis, bruxas e magos existiram, não com a carga de imaginação atribuída a elas pelas crianças, mas numa proporção que está dentro do aceitável para educar.


Concluindo: o nível da Casa (e poderia ser a escolinha) é o local onde se adquire e se desenvolve também o imaginário da criança.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Quando pensamos num movimento o cérebro se move

Graças às técnicas de fMRI (functional Magnetic Resonance Image), concretizada por aparelhos de última tecnologia, já é possível fazer o mapeamento das áreas ativadas no cérebro quando olhamos ou ouvimos ou pensamos em alguma coisa.

Quando simplesmente conversamos sobre futebol e fazemos referência a um lançamento efetuado por um jogador, regiões do Córtex associadas à perna e ao pé são ativadas.

No post anterior  (Hierarquia das idéias na linguagem - II) vemos no diagrama o Sistema Motor fazendo parte do Corpo, não para expressar sua fisiologia, mas para mostrar a íntima associação da linguagem com o funcionamento corporal. A linguagem é o canal do Espírito. Os evangelhos afirmam que a fé vem pelo ouvir. Não estamos tecendo comentários religiosos. Estamos nos referindo às associações que já existem no inconsciente coletivo que se transformaram em metáforas do cotidiano, e que conduziram muitos filósofos a estabelecer teorias que estão aí até hoje, confirmadas cientificamente.


Portanto, a linguagem provoca uma "ginástica" interna nos centros motores, preparando-os para a ação. Os atletas conhecem bem este recurso, pois se concentram antes de competir, esquecendo tudo o mais que está a sua volta, como que dizendo aos músculos que vão precisar deles. O mesmo se dá nos comandos dados a uma equipe em qualquer atividade, principalmente na atividade militar. Pilotos americanos, antes de entrar em suas aeronaves, executam toda a missão que virá de olhos fechados, para preparar o seu cérebro para a execução real das ordens recebidas.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Hierarquia das idéias na linguagem - II

Nível 1 - O Corpo

Na linguagem, quando tratamos do Corpo estão implícitos nossos sentidos, os movimentos que somos capazes de fazer e o Eu. O Eu não consegue viver alheio aos sentidos (ao que ouve, ao que vê, ao que sente) e à sua capacidade ou não de fazer as coisas (sistema motor) e, ao mesmo tempo, experimenta sensações oriundas do nível Supra-Abstrato (da mente), por isto já o introduzimos no diagrama abaixo



Quando falamos de nosso Eu, incluímos automaticamente nossos sentidos e nossos movimentos:

"Eu vi a parede caindo e corri rua abaixo", "Tomei o café e fui trabalhar"

Enquanto o nosso ser estiver encerrado dentro do corpo, vai ser difícil eliminarmos totalmente a nossa "máquina" corporal. Bem dizem os evangelhos: "O Corpo é o templo do Espírito". É a melhor definição filosófica e linguística já encontrada para a ligação entre o Eu e o Corpo.

A consciência

O Eu só se percebe quando está consciente. A situação oposta é o sono, a narcolepsia. Se dormirmos agora umas quatro horas, ao acordarmos parece que dormimos num momento anterior. Nossos afazeres e lides cotidianas servem tão somente para nos mantermos conscientes.

Algumas pessoas sofrem do "muito fazer" ou do "muito falar", ou de ambos. As pessoas que falam o tem,po todo ou que vivem cantarolando tem uma dificuldade interna de manterem a consciência. Trabalhos já mostraram que pensar murmurando ajuda a manter a atenção, expressão da consciência do que se está fazendo. Também quem vive prá lá e prá cá em ritmo frenético, confundido com hiperativo, está tentando manter a sua consciência. Isto ocorre com ex-fumantes e ex-alcóolatras.

A consciência é o convencimento do Eu de que ele está vivo.

Tipos de idéias do nível do Corpo

As idéias do nível do Corpo são os substantivos e verbos que sugiram diretamente os sentidos e movimentos. Dizemos diretamente para não gerar confusão entre raízes e derivados. Por exemplo, para o verbo "ver" ao nível do Corpo existe o verbo "supervisionar" no nível Abstrato. Para o "ouvir" existe o concordar no nível Abstrato e o "prestar atenção" no supra-abstrato, pois prestar atenção está em uma rede de estados do ser muito complexa. Para "andar" no nível do Corpo existe o "viver" no nível Supra-Abstrato. Se você pensar bem vai achar uma série de sentidos metafóricos para palavras do nível do Corpo, e passará a se compreender melhor, ler com mais entendimento e falar com mais propriedade.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Hierarquia das idéias na linguagem - I

O cérebro lida, entre outras coisas, com a linguagem como maior espressão do ser. Aqui nós temos preocupação com o humano, e certas coisas estarão fundidas, por não se ter uma completa compreensão de como o cérebro funciona no seu todo para nos dar a idéia de que estamos conscientes. Nem vamos tentar discutir isto aqui e agora.

Hierarquia

A maior expressão de ordem e sequência é a hierarquia. Instituições militares, que precisam funcionar como um relógio e como um só corpo, utilizam a hierarquia, e até hoje não se achou sistema melhor que este. As empresas, as escolas e o governo funcionam sob este princípio, que quando rompido provoca a implosão da instituição como um todo. Em nossa casa precisamos de hierarquia, pois se não ela gera membros doentes socialmente.

Resumo gráfico

Um diagrama será a melhor forma de introduzir o nosso estudo:



A direção da leitura é vertical, e o sentido de baixo para cima. A medida em que subimos os contextos das idéias se tornam mais abstratos. Não existe contradição na representação do Espírito ao nível do corpo, pois ele é bem concreto quando tratamos do ser humano completo. O cérebro também inclui o Espírito em sua forma de entender o mundo. Em proporções variáveis, TODO HOMEM TEM FÉ EM ALGUMA COISA. Este Espírito é a ligação do nível Corporal com o Supra-abstrato na linguagem do homem, e aqui incluímos os homens que crêem e os que não crêem, pois este é um diagrama geral.

 Nível do Corpo

O Corpo é a primeira referência da criança para entender o mundo. A partir dele ela aprende o que é longe e o que é perto, distância, altura, esquerda e direita, em cima e em baixo. Ou seja, o Corpo dá a primeira dimensão de espaço e geometria. Como nível mais concreto das idéias da linguagem, os conhecimentos a partir dele vão dar todo o subsídio para "medir" o mundo, e estes conhecimentos não são facilmente questionáveis.

Nível da Casa

Representamos a Casa antes da Família porque essa é mais concreta do que a Família. A Casa é um recipiente com formas visíveis bem definidas e o primeiro local geométrico para conter o ser humano. O primeiro local físico de acondicionamento do ser humano é a Casa. Somos seres físicos, e o lugar onde moramos vai nos influenciar em demasia. É para isto que ele olha grande parte do seu tempo. E as idéias que o ser vai ganhar com a Casa são dentro e fora. Vamos também nos comparar à Casa em forma e em tamanho.

Nível da Família

A Família contém conceitos muito claros, como Pai, Mãe, Irmãos. E ela trás algo muito importante para a descoberta de um ser humano que se achava único: a idéia de OUTRO. Na compreensão incompleta ou distorcida deste conceito é que residem os problemas sociais e de convivência, desde as brigas até as perversidades. Neste nível incluímos, grosso modo, os amigos e colegas, também espécies de OUTRO.

Nível do ambiente

Neste nível estão idéias fora da Casa, como tudo o que está fora da Casa, como o traçado das ruas por onde caminhamos, instituições, o tempo (no sentido meteorológico), a cidade o estado e o país, situando o ser humano cada vez em contextos mais extensos, até finalmente dar no planeta e no universo.

Nível do abstrato

Neste nível estão os conceitos e idéias, característicos de uma maturidade do ser: a capacidade de descrever interna e externamente, em linguagem, o que vê e o que sente.

Nível do supra- abstrato

Neste nível estão as redes neurais conceituais resultantes do intercruzamento dos conceitos abstratos, deduções e inferências, planejamento e compreensão do que não se vê. Este nível representa o patamar do ser humano evoluído mentalmente e mais adaptado ao meio em que vive.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O que a formiga tem a ver com bolo

Quando somos bem crianças, observamos as formigas caminhando. Muitas são as pessoas que narram que durante a infância fizeram "experiências" com formigas, por serem criaturas muito pequenas e indefesas. Tudo em nome da curiosidade de alguém que acaba de chegar no planeta terra e quer explorar este mundo.

Quando somos crianças também nos dão bolo, e muitas são as que lhe dão nomes reduzidos como "bo" por ainda não terem a audição desenvolvida o bastante para identificar os fonemas concatenados da língua.

Bem, para crianças neste estágio, bolo é bolo, é algo que se come. Neste estágio elas ainda não se associam bolo a comida mas tão somente a doce. Para ela, comida é aquilo que servem na hora do almoço. Portanto, neste estágio, a criança tem redes neurais separadas para bolo e para formiga. Em um belo momento da vida,  a mãe ou pai ou professor vai lhe chamar a atenção para comer logo o bolo, ou embrulhá-lo quando não estiver comendo porque senão as formigas podem atacá-lo. Neste momento, as redes se unem.



O aprendizado é assim. Cada idéia é uma pequena rede. As associações começam a ligar estas redes entre si, proporcionando uma compreensão mais integral da realidade que é descrita pelo nosso "simulador da realidade": o cérebro. As redes unidas formam uma "nuvem" extensa de conhecimento intercruzável, cada vez com mais "pontas" para serem unidas a outras redes no futuro, formando nuvens cada vez maiores.

NOTA: O diagrama não leva em conta as direções da rede. Isto não significa que um bolo pode comer uma formiga.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O cérebro é realmente dois

A ciência e o conhecimento já caminharam muito, e hoje a maior parte das pessoas sabe que nosso cérebro é constituído de dois hemisférios cerebrais. Espere um pouco para perceber o que vamos expor.

Não percebemos a realidade como ela realmente é. Primeiro que tudo chega à nossa compreensão mais ou menos meio segundo de tempo após ter acontecido. Por isto muitas pessoas dizem que viram um carro se aproximar delas e quando deram por si, o carro já as tinha atingido, ou algo acontecido. Segundo que focamos nossa atenção em um ponto da ação, pois é impossível ver todos os detalhes de uma ação que não se repete.

Bem, ligando as duas coisas (dois hemisférios, e não enxergamos a realidade como ela é), percebemos que nosso "equipamento cerebral" é duplo em função da realidade cheia de detalhes, e ainda assim não temos uma percepção completa. Seria como termos 2 para 10 em relação à realidade.

Os dois hemisférios

Enquanto o hemisfério direito "desenha" ou esboça um quadro do que vemos, o esquerdo o auxilia com a razão, trazendo os conhecimentos disponíveis. Um exemplo:

Você vê o cachorro coçando a orelha com a pata traseira. O hemisfério direito "desenha" na sua mente a pata passando várias vezes na orelha, ou seja, o ato visual. O hemisfério esquerdo fica então fazendo conjecturas (hipóteses) como: devem haver pulgas na orelha do cachorro, este cachorro não tomou banho, pode ser uma ferida, etc.

Repare que estamos descrevendo o processo de ver o cachorro neste ato com dois assistentes apenas (os hemisférios cerebrais), como se um fosse o "cameraman" e o outro (esquerdo) fosse o repórter. Esta metáfora está muito de acordo com a nossa vivência frente aos noticiários de TV. Mas a operação dentro de cada hemisfério é muito complexa. A narração implica que o repórter pesquisou ou adquiriu conhecimentos (como muitos de nós) sobre o cachorro, sobre sua relação com as pulgas, sobre os benefícios do banho, etc. O trabalho do cameraman é mais simples, mas contou com o sofisticado mecanismo da câmera para receber os reflexos da luz sobre os objetos e gravá-los.

Conclusão

Os fatos que chegam à nossa percepção e que adentram o nosso cérebro são como notícias que a realidade envia, e isto o tempo todo, como um canal de TV 24 horas, ou durante o período de nossa vigília. Um hemisfério é o narrador bem informado e o outro é o cameraman.
Então, a grosso modo, o hemisfério direito "filma" ou "fotografa" a ação, o o hemisfério esquerdo coloca a legenda no filme ou na foto produzida.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Inteligência e Alzeimer

Existe uma relação inversa entre o mal de Alzeimer (que ataca idosos principalmente) e a inteligência.

O mal de Alzeimer

Este mal é uma destruição gradativa de tecidos cerebrais que vai prejudicando a "alimentação" das células nervosas, provocando sua destruição. As descobertas recentes mostram que esta destruição é aleatória no sentido em que vai ocorrendo em pontos isolados do cérebro, provocando o "esquecimento" de uma ou outra coisa e uma incapacitação de uma ou outra parte dos sentidos.

Em um belo dia, o equilíbrio e o engajamento das redes necessárias ao entendimento ou execução de uma tarefa fica tão comprometido em suas ligações que o indivíduo não mais consegue fazer ou lembrar de determinada coisa. Um exemplo é o ato de andar de bicicleta. Ele depende do sentido da visão, da audição (equilíbrio) e do controle muscular. Quando a rede neural do controle muscular é prejudicada, os efeitos visíveis são apenas dificuldades de movimentação. Quando a visão é prejudicada, a pessoa vai ao oculista e regula o grau do óculos ou lente de contato, sem perceber que não é apenas um problema ocular que está ocorrendo. Quando a rede da audição é prejudicada, o indivíduo mais velho acha normal, pois acha que o problema é da idade. Se estas três redes estiverem com danos sérios ao mesmo tempo, o equilíbrio e a sua manutenção muscular estarão finalmente falidos, e o indivíduo incapacitado.

A inteligência

A inteligência se manifesta (ela não existe o tempo todo) quando as redes neurais construídas em resposta ao processo de aquisição de conhecimento nos diversos ramos vão adquirindo mais e mais ligações por meio da metaforização, dedução e comparação.

Tomemos como exemplo um estudante. Ele adquire os conhecimentos básicos de matemática, física, química, sociologia, meio ambiente e outros na escola. Vamos supor que ele tenha o artesanato como hobbie (ocupação paralela), e faça pulseiras e colares. Ele precisa de arame e pedras semi-preciosas para o seu trabalho. Ele começa a viajar para adquirir tais matérias-primas a preços melhores e as mais atraentes possíveis.

Dentro do cérebro deste indivíduo, estão sendo formadas redes neurais para reter conhecimentos de economia, atratividade, mercados consumidores de suas criações, manipulação de metais e engastes de pedras, polimento, ferramentas mais apropriadas, etc.

Em determinado momento, as ligações são tantas, que até dormindo este nosso indivíduo exemplo cria, pois recebe sensações das redes "conversando entre si". Quando sua rede que segura o conhecimento sobre a manipulação e molde dos arames "conversa" com a rede que conhece as pedras e suas características, ele começa a perceber novas formas de prender a pedra com o arame, fazendo desenhos que disfarçam o envolvimento de um no outro.

Conclusão

Se entendermos como o cérebro é destruído pelo Alzeimer, poderemos intuir o processo de construção de suas redes para produzir o fenômeno conhecido como inteligência. E estudaremos o de destruição pelo fato de ser o mais comum, segundo um princípio de nome entropia da física, que se traduz para o leigo como desorganização.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O que existe por detrás do gato correr atrás do rato

Vamos discutir a frase "o gato correu atrás do rato" para uma criança. Você acha uma discussão tola ? Então leia e pense. Esta "dupla dinâmica" de entidades (pois só são isto a princípio), em nosso tempo, é apresentada às crianças no desenho animado Tom e Jerry. Este é o referencial para as crianças. A primeira pergunta da criança para os pais é:

Por que o gato está correndo atrás do rato ?

A resposta óbvia é:

Porque o gato quer pegar o rato para comer.

Quem acompanhou Tom e Jerry nestes anos todos sabe que esta é a intenção do gato Tom, que não teve êxito e nem o terá no tempo, senão a dupla acaba, a história acaba e é o fim da magia. Outras gerações precisam do conhecimento que esta relação entre os dois quer transmitir.

Então vem a próxima pergunta:

Por que o gato quer comer o rato ?

A resposta simples:

Porque gatos comem ratos.

Talvez a criança fique satisfeita. Aí reside uma verdade estabelecida. A criança come comida e sabe que tem fome, e come arroz, carne, batata frita, hamburguer. Ela sabe que comer faz parte do seu instinto, e isto é automático. Por isto a resposta "gatos comem ratos" faz sentido para ela. Instinto básico. E instinto básico não se questiona.

Este par, esta dupla, é a sua primeira associação válida de comer com o mundo interno que ela já conhece. Neste mundo interno ela come comida, porque tem fome.

Diagrama de contexto



As perguntas mais inocentes podem surgir:

- Papai, o gato pode me comer também ?

- O gato é menor que você. Ele não vai te comer.

- O gato pode comer a minha comida ?

- Pode.

- O rato também ?

- Também.

- Eu posso comer o gato ?

- Nós não comemos carne de gato.

- Por que ? (Uma negação quase sempre trás outra pergunta.)

- Porque gente não come carne de gato.

- Por que gente não pode comer carne de gato ?

- Porque não faz bem.

- Dá dor de barriga ?

- Tem outros bichos que a gente pode comer: galinha, peixe, vaca, mas gato e rato não. Os homens não estão acostumados a comer carne de gato, e rato é um bicho que anda na sujeira.

- Mas porco também anda no sujo e a gente come.

- O porco que comemos sai de uma fazenda, e lá é tudo muito limpo.

Não vamos descer a discussões mais profundas de saúde e nutrição, pois queremos tirar as relações básicas de uma pura conversa de criança, ainda não poluída por abstrações adultas, e poder investigar o cérebro em ação.

Comer é uma ação. Por não ser uma entidade de fácil assimilação, as ações precisam ser fortemente caracterizadas no que acaba sendo uma rede de conhecimentos. Vocês viram pelo tamanho do diálogo o quanto foi preciso conversar com a criança para lhe dar uma idéia do ato de comer em suas diversas relações.

O referencial humano

Em sendo cada um de nós nosso primeiro referencial (e isto é ainda mais forte no caso das crianças), a primeira pergunta foi algo bem visceral, ligado à sobrevivência, e ao medo:

Papai, o gato pode me comer também ?

As crianças são egocêntricas, e diante da ameaça de um animal comê-la, ela quis logo saber do pai se o gato podia comê-la. Nossa primeira medida somos nós mesmos. O cérebro está encerrado dentro de nosso crânio. Ele fica preocupado sobre os riscos que estão à sua volta.

Para tranquilizar a criança, o pai lhe apresenta a relação mais básica na frase:

O gato é menor que você. Ele não vai te comer.

Aqui está a relação mais básica para o raciocínio a respeito de muitas coisas: o tamanho. O maior subjuga o menor. O maior é mais forte que o menor. Para a criança isto é absolutamente satisfatório, e um ponto de partida que não pode ter muitas ramificações, até que ela amadureça um pouco (por volta dos sete anos). A resposta do pai tranquiliza a criança para muitas relações entre ela e outras entidades que apareçam diante dela, como formigas, pássaros, etc.


Depois vem associações que a criança explora relacionando as entidades deste seu momento frente ao gato e ao rato, como:

"Eu posso comer o gato ?" , "por que gente não pode comer carne de gato", "mas porco também anda no sujo e a gente come ?"

A criança cruza as entidades entre si, procurando relações válidas. Qualquer negativa é questionada. O cérebro, o herói por detrás das perguntas, age desta forma, procurando as relações e, ao se surpreender com um "não", "se revolta" e pergunta o por quê. Existe agressividade quando se pergunta algo que não se sabe, e este instinto agressivo ajuda a investigação.