terça-feira, 7 de abril de 2020

Em busca da fisiologia do Cortex Pre Frontal - PFC

Introdução

Consulte a literatura, e ao invés de obter informações precisas sobre o PFC (Cortex Pré Frontal em inglês), você se depara com as mesmas informações vagas que atribuem a ele:

  • Planejamento;
  • Previsão de ações futuras;
  • Estratégias de interação social;
  • Função executiva;
  • Atenção;
  • Memória de trabalho;
  • Tomada de decisões;
  • Memorização de procedimentos;

Todas estas atribuições foram levantadas na base de lesão X função perdida.

Apesar de ser um método espirituoso, o pesquisador continua na mesma. Qual é, pelo menos em termos esquemáticos e úteis o princípio que este "subórgão" ou "subsistema" cerebral usa ?

Sequência

Todos os processos que aprendemos, desde crianças, seja o de montar as peças de um brinquedo, até nossas difíceis tarefas de adultos, se compõem, basicamente de uma sequência de etapas. Cada etapa se beneficia da anterior concluída, levando-nos cada vez para mais próximo do objetivo.

No caso do cérebro, como isto é feito, em termos neuronais ?

Já falamos das Colunas neuronais em um post anterior. O cérebro já se organiza fisiologicamente para ficar sensível ao estabelecimento de uma CADEIA DE EXCITAÇÃO DOS NEURÔNIOS PRÓXIMOS.

A estrutura em Colunas Neuronais coloca os objetos de um procedimento ou processo próximos entre si. Como em uma Planilha do Excel, temos as Colunas, com os Conceitos de uma categoria de ideias que descrevem o mundo, e as linhas, com as possíveis ligações entre as Colunas, para fazer associações que surgem num processo.

Vamos dar um exemplo muito simples, que não exija muitos subprocessos, sem levar em conta embalagens, lavagem de louça e nem verificação se existe ou não aquilo de que precisamos. 

Exemplo da fritura de um bife

O que faremos, a grosso modo será:
  • Pegar uma frigideira ou até uma panela que não seja funda no armário da cozinha;
  • Pegar os temperos no armário da cozinha;
  • Pegar a carne na geladeira; 
  • Pegar o óleo no armário da cozinha;
  • Temperar a carne;
  • Colocar o óleo na frigideira;
  • Ligar o queimador do fogão debaixo da frigideira;
  • Colocar o bife em cima do óleo;
  • Fritar o bife;
  • Comer o bife.

Veja que não fizemos subprocedimento perguntando se existe tempero, óleo ou bife, colocando etapas como "Se não tiver carne, prepare a compra da carne", "Se for comprar a carne, verifique se tem dinheiro", etc, subetapas que tornariam o nosso procedimento muito longo e complexo.

Como estas informações PODEM estar armazenadas em suas colunas neuronais, para facilitar o processo de fritura do bife ? Uma pessoa que já tenha observado a mãe ou pai ou tia ou avó fazendo o bife tem uma organização cerebral que não precisa necessariamente ter estas entidades citadas (frigideira, bife, óleo) próximas. Como esta pessoa só conhece os conceitos, mas nunca pegou na massa, estas entidades não estão bem próximas.

Já uma cozinheira tem uma organização cerebral destas entidades muito mais coesa e próxima, inclusive com uma outra característica de que vamos falar. Em seu cérebro, existem colunas bem específicas com as entidades envolvidas no cozimento e fritura de alimentos, mais ou menos desta forma que vamos enumerar:

Organização das colunas neuronais básicas de uma cozinheira


Coluna 1: Containers de comida
Frigideira pequena;
Frigideira média;
Frigideira grande;
Panela rasa;
Panela funda;

Coluna 2: Utensílios para mover e cortar o bife
Garfo longo de 2 dentes;
Garfo longo de 3 dentes;
Garfo médio de 2 dentes;
Garfo médio de 3 dentes;
Facão de 1 corte;
Facão de corte duplo;
Escumadeira para retirar o bife;

Coluna 3: Temperos para carne
Sal grosso;
Sal fino de cozinha;
Molho Barbecue;
Molho de tomate;

Coluna 4: Tipos de aceleradores da fritura
Azeite;
Óleo;
Banha;
Manteiga;
Margarina;

Coluna 5: Tipos de cortes de carne
Filé mignon;
Contra-filé;
Alcatra;
Maçã de peito;

Quando surge a decisão de fritar um bife, no cérebro desta pessoa de colunas mais especializadas, a Coluna 5 já excita a Coluna 1, que excita a Coluna 2. Antes de colocar o bife na frigideira, ou em um dos containers enumerados, surge uma certa ansiedade, pois a pessoa sabe que precisa de um meio intermediário entre a frigideira e o bife, para que ele não queime (aprendeu com alguém da família ou em curso de culinária). Esta ansiedade é necessária para excitar a Coluna 4.

A ansiedade em relação à Coluna 3 é menor, pois não existe um temor relacionado a ela do bife estragar. Mas a pessoa sabe, pela experiência, que o gosto fica mais apurado se forem utilizados os temperos apropriados na fritura do bife.

O valor da experiência

Esta organização criteriosa, extensa e boa candidata para que a pessoa possa ser conhecida como boa cozinheira só é atingida com muitas experimentações, muitos erros, constatações e opiniões e conselhos de outras pessoas. A isto chamamos experiência. E experiência pode ser redefinida como:

ESTADO PRIVILEGIADO DE ORGANIZAÇÃO NEURONAL APÓS EXPERIMENTAÇÕES E APERFEIÇOAMENTOS.




A experiência, agora redefinida em bases mais científicas, é um processo que veio, ao longo do tempo:

Agrupando entidades afins em colunas organizadas;
Agrupando categorias cuja relação de excitação, num tempo comum, é frequente;

Isto se adequa à Lei de G. M. Edelman que diz que:


"Neurônios que se ativam juntos, conectam-se juntos"

Organizados em colunas próximas, eles tem condições de responder com mais facilidade e eficiência à esta sábia lei.

Um índice, e não a biblioteca inteira

No entanto, a região do cortex pré-frontal não tem o gigantismo necessário para conter a biblioteca inteira de entidades separadas nas diferentes regiões do cérebro. Como as fichas de uma grande biblioteca, cujo arquivo se chama "Indice remissivo", o Córtex Pré-Frontal possui a organização das ligações para numerosas regiões do cérebro, para um conhecimento só de conceitos, acrescido de ligações para os centros emocionais, de modo a fazer as decisões corretas  no terreno social.

Isto se assemelha ao conceito utilizado na computação de "Memória Virtual". A memória física de um computador, mesmo na quantidade de que dispomos com a tecnologia de hoje, ainda não atinge a capacidade de Terabytes (AINDA NÃO). No entanto, técnicas de indexação (uso de índices, como o índice de um livro) possibilitam acessar todo o conteúdo de um banco de dados gigantesco, com um índice que só armazena o número dos registros contidos no disco armazenado na CPU do computador (chamado de HD).

Conclusão

O PFC, ou Cortex pré-frontal, faz uma indexação bem parecida com a resultante das técnicas utilizadas pelos computadores, que o ser humano "SEM QUERER" colocou em prática no seu trabalho de construção de sistemas operacionais que fazem funcionar desde celulares até computadores. Não tem mistério nenhum.

 Falaremos mais sobre este processo em outros posts.









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