sábado, 13 de maio de 2017

Os modelos primários de nossa matriz de pensamento no Cérebro

Introdução

O empirismo das ciência chamadas Psicologia e Psiquiatria sempre nos apresentou o par PAI e MÃE como algo essencialmente afetivo. Porém, com o estudo atual profundo das estruturas, circuitos e interações do Sistema Cerebral, a coisa mudou um pouco de figura, em direção a algo mais técnico.

O que nos dizia a Psicologia

A psicologia costuma associar o pai ao conceito de Autoridade e a mãe às ideias de proteção, alimentação de nós como bebes, amor maternal e a outros valores, todos definidos em torno do afeto e do contato físico. Freud achou nas mães as culpadas ideais para todo o tipo de trauma que o indivíduo apresentasse.

O Córtex Cerebral armazena modelos

Por meio de nossos sentidos, e isto é mais verdadeiro e evidente quando somos bem crianças (abaixo de 7 anos), apreendemos (melhor que usar aprender neste momento) 2 imagens bem definidas: pai e mãe. Os dois brincam conosco, disputando qual a denominação que vai sair em primeiro lugar de nossa boca: "papá" ou "mamã". Mesmo sem entender os profundos conceitos por detrás destas duas pessoas queridas, vamos perceber que um tem feições daquilo que conheceremos como HOMEM, e outro tem feições daquilo que entenderemos como sendo MULHER. Esta última será, em caso de possibilidade de nos amamentar, o nosso primeiro conceito de fonte de alimentação.

Após efetivado este relacionamento, teremos armazenado em nosso Córtex Cerebral, armazém da nossa Memória de Longa Duração (Long Term Memory - LTM) parte dos conceitos de Homem e Mulher, com suas definições constantes no Córtex Visual. Aqueles modelos de aparência serão uma referência basilar para toda a nossa vida.

O Córtex acrescenta diferenças

O Córtex cerebral é o armazém de conceitos e ideias que compõem a nossa "biblioteca" fundamental para consulta e apoio na condução de nossas vidas.

Para compreender o segundo princípio de funcionamento do Córtex Cerebral, vamos introduzir na vida desta criança em questão um tio. É muito conhecida a reação da criança quando apresentada a um tio por parte de pai. Ela olha para o rosto do tio e para o rosto do pai, repetindo esta inspeção algumas vezes. Esperamos que os dois tenham alguma semelhança pelos fatores genéticos.

A criança não é boba. Ela faz isto porque seu cérebro, vendo dois seres diferentes, quer procurar o sentido daqueles dois que são bem parecidos. Ela não tem nem ideia do que é o conceito de TIO (irmão de pai ou de mãe). Mas sendo tio por parte de pai, será um pouco ou muito parecido com este último, gerando a interrogação no Cérebro da criança.

E a visão, um dos sentidos mais desenvolvidos e utilizados pelo ser humano, vai achar uma diferença, e se a criança tiver muito contato visual com este tio, vai armazenar em sua memória a diferença deste tio para o Pai, pois tendo a primeira imagem masculina já armazenada, não é preciso armazenar um novo modelo de aparência masculina para contemplar a imagem do tio.

Não é preciso nem provar que este tipo de abordagem por diferença vai economizar um bom esforço de memória. Para se ter uma ideia do mundo concreto atual, não seria possível armazenar filmes e vídeos de 2 horas de duração sem este princípio de abordagem das diferenças. No início de cada cena, é guardado um quadro com o cenário (keyframe). A partir daí, até o fim da cena no mesmo lugar, apenas as diferenças são armazenadas. Por exemplo, uma bola vermelha "quicando" em um parque. A cena do parque é armazenada. Depois apenas o movimento da bola é gravado.

Os modelos mais comuns

Algumas cenas do cotidiano são absolutamente previsíveis. Uma sala, uma cozinha, um escritório, uma sala de espera, um parque, um zoológico, uma praça.

Se você entra no escritório de uma empresa, ou em um escritório em algum prédio, ou em um banco, ou em um local de atendimento com guichês, as diferenças conceituais são poucas. Todos tem em comum as divisórias, mesas, pessoas sentadas e um computador à sua frente. Portanto, cabe ao Cérebro apenas armazenar a impressão inicial (provavelmente do primeiro ambiente que mais provocou a sua emoção em sua vida, como o escritório/consultório do pai) e alguns detalhes que diferem um do outro, como a pessoa que mais chamou a sua atenção em cada um (pois vamos a determinados lugares desta natureza para encontrar alguém bem específico).

Nosso Cérebro não armazena um filme de toda a nossa vida, e sim cenários com impressões visuais, olfativas e auditivas, as quais são sobrepostas aos registros iniciais de padrões previamente armazenados durante nosso crescimento.

Modelos e o Tempo

Vamos a um exemplo bem ilustrativo de como estes modelos vão mudando de acordo com o Tempo, porém mantendo uma identidade primitiva. Falamos dos escritórios como um modelo. Quem viveu nos anos 80 e também o início da Era da Informática (meados dos anos 90), viu o modelo de escritório mudar um pouco. As mesas foram substituídas por módulos com divisórias e as máquinas de escrever por microcomputadores. Mas o modelo se manteve: pessoas e um equipamento com teclado.

Eventos e Modelos

Os acontecimentos, notadamente os anunciados em noticiários, são praticamente os mesmos, podendo se encaixar nos seguintes modelos:
- Inaugurações;
- Edição de novas leis;
- Manifestações;
- Homicídios;
- Prisões;
- Anúncio de novo filme ou novela,
- Anúncios de mercadorias.

Ou seja, mesmo em termos de fatos, o universo de modelos é bem restrito.

Conclusão

Após esta exposição, conceitual apenas, o leitor vais observar que o Cérebro não precisa de muito esforço para memorizar o mundo. As ordem das coisas no espaço, e mesmo os acontecimentos, obedecem a um padrão. É a observação pessoal que faz com que elas possam ser armazenadas distintamente, baseadas no conhecimento intrínseco da pessoa, que vai adaptando aos modelos que conhece, as coisas que lhe são apresentadas.

sábado, 6 de maio de 2017

O Cérebro e nossas opções

Estou vivo

Este nosso sentimento de ESTARMOS VIVOS assistindo, ou participando, ou mesmo determinando dos Eventos deste mundo orbita sempre em torno de:

1. Estou gostando da situação;
2. Não estou gostando da situação;
3. Não estou gostando da situação, mas vou continuar nela, pois é minha única opção;
4. Não estou gostando da situação, mas vou continuar nela, mas vou procurar uma forma de mudá-la;
5. Estou gostando dela, e farei tudo para que ela continue assim, pois é minha sobrevivência que está em jogo;

O dilema do Cotidiano

As opções de vida apresentadas no item anterior (“Estou vivo”) traduzem a oscilação de nossos estados emocionais, e podem ser encaradas como o DILEMA DO COTIDIANO. Faço, não faço, deixo como está, procuro alterar ou procuro evitar que alterem ? Quem vai ditar a ação na direção de uma destas opções é o nosso ESTADO EMOCIONAL. Em certos momentos, podemos optar pela opção 4, outras pela opção 5, mas na maior parte das situações somos tomados pelo comodismo, e caímos na opção 3. A maior parte das pessoas está limitada a esta opção.
Decisão e Solidariedade
Uma sexta opção seria:

“6 - Estou gostando da situação, porém existem muitos que não estão gostando dela, e vou colaborar para que ela mude”.

Esta é uma emoção que vai mobilizar o Centro Executivo do Cérebro deste indivíduo em particular, e vai fazer com que ele, mobilizado pela Solidariedade, tome uma Decisão firme. Este é o tipo de indivíduo que vai usar seu Cérebro de forma mais nobre.


Racionalidade

A Racionalidade permeia as Decisões pelas opções que mais se adaptam ao indivíduo, em seu Estado Emocional corrente, conjuntamente com os Conhecimentos que auferiu até este seu momento da vida.

Podemos ter um indivíduo que gostaria de escolher a opção 4, no entanto não tem os Conhecimentos suficientes em seus bancos de ideias (Memória). Outro indivíduo pode ser um perverso que entende a opção 5 como forma de impedir que outros tenham acesso a uma situação de bem-estar, pois pode ser que os outros consigam e ele não ou, pior ainda, lhe dá gosto negar o bem-estar aos outros, pois não os acha dignos.

Uma Racionalidade pura e lógica de escolha do indivíduo seria a Opção 6. Ela dita um comportamento de construção de uma Sociedade e de uma Civilização autêntica. Ela extrapola os limites do Cérebro individual e constrói a consciência coletiva.


Humanidade

Então temos de um lado as opções puramente Emocionais e do outro lado a Racionalidade Pura. Nem um nem outro é um comportamento humano, individual. O verdadeiro Comportamento Humano é resultado de um balanceamento entre as Emoções e a Racionalidade, que tem como modulador o nosso Histórico Pessoal, gravado em nossa Memória.

O indivíduo estritamente Emocional é como uma bomba relógio. O exclusivamente Racional é um chato, um “mister Spock”. O humano é aquele que tem Emoções mas tem um certo Controle sobre elas, resultado da vivência de uma série de experiências (Memória), que lhe dão uma noção estimada dos riscos que se apresentam nas situações a que é exposto.

Fisiologia Cerebral

Em termos de órgãos do Sistema Cerebral, apresentamos a seguir os responsáveis para cada atribuição citada:

Emoções – As emoções tem um Sistema dedicado, denominado Sistema Límbico, cujo principal componente é a Amígdala. Algumas memórias de alta importância são armazenadas na Amígdala, por estarem muito ligadas à sobrevivência do indivíduo.
Histórico – Fica distribuído pelas diversas partes do Sistema Cerebral, de acordo com a sua natureza: auditiva, visual, motora, etc. A este histórico damos o nome de memória.
Racionalidade – O centro absoluto da Racionalidade é a última região a amadurecer do Sistema Cerebral. Trata-se do Córtex pré-frontal.

A Humanidade também vem da Racionalidade do Córtex pré-frontal em disputa com as Emoções do momento e com o Histórico da pessoa.

Este é o princípio geral da Humanidade, ou seja, um balanceamento dependente do contexto em que o indivíduo está, que lhe desperta determinadas Emoções, mas que ele procura superar utilizando o seu Histórico (currículo de vida) e avaliar com a sua Racionalidade o quanto pode passar por cima de suas Limitações no momento com o seu Conhecimento.

A Humanidade depende do momento. Não estamos discutindo Caráter. O Caráter é contínuo, mas não é capaz de ditar a ação em momentos críticos, em que há limitações por absoluta ausência no Histórico da pessoa de Conhecimentos para superar as dificuldades apresentadas no momento. Em um exemplo exagerado, o sujeito pode ter um Caráter decidido, mas não tem força e nem um guindaste apropriado para remover uma rocha de 700 toneladas que está em seu caminho.

Conclusão

O Cérebro nos faz mais do que A MÁQUINA MAIS PERFEITA DO UNIVERSO pois nos dá opções e utiliza bilhões de históricos de vida diferentes. Ele nos torna, por vezes, imprevisíveis, para que não sejamos vistos como meros robôs.