domingo, 18 de junho de 2017

Sistema Límbico - Memória, Aprendizado e Emoções

E engraçado ouvir profissionais da psicologia falando sobre as emoções em entrevistas de TV. Os neurologistas preferem não entrar neste terreno, apesar de ser afeto ao seu cotidiano profissional, e de também conhecerem profundamente o aparelhamento cerebral que dispara as reações resultantes daquilo que conhecemos como emoções.

E é por este aspecto, em uma parte voluntarioso dos psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, e de outra parte um tanto omisso por parte dos neurologistas, que temos ideias erradas sobre nossas emoções.

Acompanhem o raciocínio absolutamente técnico desta matéria.

O Cérebro possui um sistema dedicado às emoções

Nossas emoções não apenas afloram de nosso ser, como algo puramente metafísico. Elas são provocadas pelo contexto em que vivemos. Portanto, nossas emoções são REAÇÕES. Não existe um TEMPERAMENTO do indivíduo, por simplesmente ele ter nascido de um jeito ou de outro, como expressão puramente humana, como se viesse do Espírito deste indivíduo. Vamos separar as coisas.

O Sistema Límbico

O primeiro fato, ponto de partida de nosso raciocínio, é o de que POSSUÍMOS UM SISTEMA BIOLÓGICO QUE LIDA COM AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS denominado SISTEMA LÍMBICO. Do ponto de vista técnico, constitui-se de máquina BIOLÓGICA, denominada SISTEMA LÍMBICO.

Podemos avançar, dizendo que, por ser um Sistema Biológico, por ser baseado em princípios físico-químicos (neurotransmissores, hormônios, proteínas, íons e outros compostos), que ele INTERPRETA A REALIDADE, com todas as suas limitações peculiares.

Já dissemos, em artigo anterior, que o Cérebro é um Simulador da Realidade.

A parte deste Simulador que lida com os DISPARADORES DE ALARMES, mantenedores de nossa sobrevivência, é justamente este Sistema Límbico, do qual estamos falando.

Ele lida com aquilo que conhecemos como MEDO. Tecnicamente (temos a pretensão de definir tal coisa) o Medo é um alarme disparado pelos sentidos, que atinge a nossa Amígdala (um pequeno órgão cerebral) que faz parte deste Sistema Límbico, que evoca Memórias que trazem consigo lembranças de Sofrimento, ou ensinamentos que recebemos (também armazenados na Memória), Certos ou Enganosos, que dizem que aquele Contexto apresentado provocará sofrimento.

As Memórias Enganosas são justamente o objeto com que os psicólogos ou psicanalistas lidam em seu dia a dia.

Os sentidos

Todos os nossos sentidos podem ativar o pequeno órgão citado, a Amígdala, caso um outro órgão cerebral, o TÁLAMO,  que se coloca entre os sentidos e a Amígdala, interprete, baseado também em nossas Memórias, que a situação é uma situação de Perigo, ou digna de despertar simplesmente nossas conhecidas Emoções.

Primeira Conclusão

As Emoções e a sensação de Perigo são frutos de uma interpretação cuidadosa, dependente de um Sistema Biológico, que também consulta a nossa Mamória. Caso estas memórias sejam enganosas, do ponto de vista lógico, porque as experiências do indivíduo podem ter sido traumáticas, o resultado da interpretação pode ser uma falsa sensação de Perigo.

A Memória

A Memória é popularmente conhecida como Lembrança. No entanto, a Memória é muito mais do que isto. A Memória humana não é um conjunto de bits armazenado em um pendrive de Computador, ou em seu disco interno. Fomos privilegiados pela natureza, pois a nossa Memória é "temperada" pelas nossas emoções. O que isto quer dizer ? Quer dizer que os indivíduos só armazenam aquilo que é importante para as suas aspirações em particular.

Por exemplo, dois estão numa aula de tricô. Um homem, que queria ver o significado de tricô e uma moça, muito interessada em aprender esta arte, Quando a aula começa, a moça fica atenta a cada palavra falada pela professora, e aos movimentos que ela faz com a agulha de tricô. Já o homem, decepcionado, pois a aula não é nada que o interesse, dispersa e, ainda que olhe a professora e a ouça, não aompanha as palavras e nem os movimentos que a professora faz.

No caso da moça interessada, seu Sistema Límbico é ativado pela sua CURIOSIDADE (a curiosidade é uma categoria de emoção), e sua Amígdala amplifica a intensidade das informações recebidas pelos sentidos em seu Tálamo, provocando a neurogênese em seu HIPOCAMPO, trazendo memórias do Sistema Motor associadas aos movimentos das mãos, Memorizando os novos movimentos que a professora está apresentando, tornando suas mãos mais ágeis para o manuseio das agulhas de tricô.

Fizemos uma descrição a grosso modo, desta forma, da formação de uma memória estimulada pela Emoção.

No caso do homem, que dispersou, por absoluto desinteresse na aula, seu Sistema Límbico simplesmente fez com que sua estadia na sala de tricô não fosse registrada como devia, captando os detalhes. Se o ser humano fosse um computador, este aluno registraria o que foi dito e mostrado na aula, mesmo sem se interessar pela matéria.

Segunda Conclusão

A Memória é uma faculdade humana dependente de nossas emoções. Memorizar e aprender não é o mesmo que passar o conteúdo de um CD-ROM ou DVD para dentro de um computador.

Situação do Aprendizado nas Escolas

De acordo com as estatísticas  do IPM (Instituto Paulo Montenegro), apenas 8% das pessoas que trabalham, no Brasil, tem condições de Ler e Interpretar o que lêem. Ler e Escrever, simplesmente, não basta.

E como chegamos a esta situação ? De acordo com o que foi exposto aqui, esta situação se deve ao DESINTERESSE dos alunos pelo conteúdo formal apresentado nas escolas.

Quais são as consequências desta situação ?

Não pensemos apenas na dificuldade de emprego. Pensemos em quais serão as consequências para o seu Comportamento. O analfabetismo funcional será, como já é, por definição, uma DEFICIÊNCIA. Uma vez percebida, o indivíduo não terá condições de ter acesso aos empregos e carreiras que exijam uma capacidade mais apurada de Planejar, Executar e Controlar os contextos que lhe forem apresentados.

Teremos uma legião de pessoas trabalhando em tarefas já todas delineadas previamente por aqueles 8 % que são capazes de compreender contextos, de interpretá-los, de melhorá-los e de, inclusive, selecionar aqueles que serão capazes de executá-los, com instruções prévias bem delineadas, Teremos o "Reino dos Procedimentos Padrão prédefinidos". No final, poucos pensarão, e muitos executarão.

Conclusão

O Ser Humano não é só um "homo sapiens"; ele é um "homo sapiens emocionalis". Se ele não se empenhar na escola, se não se conscientizar de que precisa ter curiosidade a respeito dos fatos e dos conhecimentos que a vida lhe apresenta, ele se trannsformará numa mera ferramenta de execução de procedimentos concebidos por uns poucos. Será o novo tipo de portador de uma Deficiência invisível, mas talvez a pior de todas:

A IGNORÂNCIA




sexta-feira, 16 de junho de 2017

Visão dual da Realidade e amadurecimento por parâmetros - Redes Neurais

Em nossa infância de pensamento, tínhamos uma visão simples das coisas. Uma coisa ERA ou NÃO ERA. Esta é uma expressão do básico 8 ou 80.

Pensamentos primitivos

Quando começamos a aprender, em tenra idade, nos acostumamos, pela nossa limitação, a ver as coisas sob o ponto de vista dos extremos:


  • Branco ou preto;
  • Quente ou frio;
  • Grande ou pequeno;
  • Doce ou salgado (opostos não necessariamente técnicos);
  • Alto ou baixo;
  • Cheio ou vazio;


Esta é a abordagem mais simplista, pois a mente de uma criança lida facilmente com estes parâmetros.

Meio termo

Mais tarde, lá pelos 5 ou 7 anos, percebemos que existe um mais ou menos. Isto é evidenciado, por exemplo, na hora de colocar um suco em um copo de plástico, ou mesmo na hora de pegar nas mãos este mesmo copo.

Observe uma criança, ao pegar na mão, pela primeira vez, um copo de plástico. Ela aperta o copo, de tal forma que o comprime, a ponto de forçar o líquido para fora do copo. Por que isto ocorre ?

A preocupação de quem precisa "agarrar" um objeto, à primeira vista, é apenas a de alcançá-lo, e utilizar a força para que ele não caia de nossas mãos. Uma criança, em sua relação com a Realidade, baseia suas ações (nesta fase são mais ações do que raciocínios), imprime o máximo de força para agarrar os objetos. Quando for capaz de compreender o pai e a mãe, poder-se-á dizer à criança:

"Você não precisa segurar o copo com tanta força !"

A criança ainda vai cometer o erro de apertar o copo, a cada vez que lhe for dado um suco ou refrigerante, muitas outras vezes, até que desperte a consciência motora de sua mão, e comece a ajustar a força impressa em relação ao copo.

Algo parecido ocorre com a pessoa que está aprendendo a conduzir um automóvel, na auto-escola. No início do aprendizado, o instrutor pede que ela pressione o pedal de freio para interromper o movimento do veículo. Diante desta ordem, o aluno pisa no pedal do freio com toda força. O carro pára bruscamente, a ponto de o motor "morrer". Então, o instrutor começa a ensinar que o freio deve ser pressionado com uma atenção tal que o candidato a motorista procure "sentir", com os pés sincronizados com os olhos, o veículo ir interrompendo, aos poucos, o movimento.

O que foi explicado se resume a uma expressão: AJUSTE FINO. devemos dosar a nossa força em pequenas quantidades crescentes, até observar o efeito desejado. Tal controle se aplica à força utilizada para fechar a porta da geladeira, fechar a porta do carro, chutar uma bola para chegar aos pés de um colega em um jogo de futebol e lançar a bola de basquete na cesta.

Redes Neurais

O Ajuste Fino a que nos referimos, que regula a nossa força muscular, é estabelecido em nossas redes nervosas, com o recrutamento de novos neurônios, que se colocam entre os já existentes, distribuindo os impulsos nervosos, de forma a moderar nossas ações.

Se existisse apenas um neurônio sensor, e um neurônio atuador, o efeito observado para, por exemplo, a reação do tato ao copo de suco, realmente nós amassaríamos o mesmo como foi explicado.

Quando se aumenta o número de sensores (sensores de tato, por exemplo), e se coloca uma camada intermediária entre eles, existe uma modulação que regula a intensidade do impulso oriundo dos sensores:


Nossa pele está repleta de sensores de tato. Quando o indivíduo se educa para prestar a atenção às sensações que procedem de suas mãos, ele abre a sua Rede Neural primária ao surgimento de novas células nervosas e novas ligações, que vão moderando as suas percepções e as suas ações.

É exatamente desta forma que um atleta vai, através de treinos sucessivos, regulando suas redes nervosas, para possibilitar a execução de movimentos mais complexos.

O desligamento dos absolutos

O mesmo ocorre no terreno do raciocínio lógico, em que, no princípio da avaliação, as pessoas definem uma regra.

Vamos dar o exemplo das decisões judiciais. Em termos primários, se uma pessoa mata a outra, é condenada a 30 anos de prisão. Os juristas, no entanto, devem ser razoáveis, analisando os fatores que podem influenciar no contexto de um homicídio. Temos a legítima defesa, temos a premeditação, temos o homicídio executado a mando, onde o matador foi pago, e quem realmente tem a culpa é o mandante. Temos o homicídio por disparo acidental, por troca de tiros entre a autoridade policial e os meliantes, etc.

Na avaliação de um contexto, deve-se estabelecer critérios, com valores para os parâmetros, modulando-se os efeitos conforme as causas.

Um exemplo

No caso do homicídio, teríamos:

  • Intenção (o ato foi planejado, deliberado, desejado);
  • Grau de participação (executor, mandante, apoiador);
  • Grau de perversidade (a tiros, a faca, enforcado, queimado, decapitado, esquartejado);
  • Proximidade (parente, vizinho, professor, namorado, cônjuge);

A cada um foi dado um valor de entrada, segundo as seguintes tabelas:

Intenção

1Seguir para catalogar os hábitos
2Esboçar plano para matar
3Ter lista de matadores para o serviço
4Ter o matador, a arma e a munição, local, data e hora
5Matar por vingança pessoal
6Matar por vingança de terceiros
7Matar por inveja
8Matar por motivo fútil
9Matar por prazer

Grau de Participação

1Apenas efetuou a compra da arma
2Apenas serviu de motorista
3Apenas serviu de olheiro
4Deu acesso ao local do crime
5Rendeu a vítima
6Ajudou a torturar a vítima
7Atirou na vítima

Perversidade

1Matar a Tiro
2Matar a faca
3Esfaquear e deformar as feições
4Esquartejar e queimar as partes

Proximidade

1Desconhecido da vítima
2Ex-empregado da vítima
3Parente não filho(a) nem cônjuge
4Filho da vítima
5Ex-cônjuge da vítima
6Pai/mãe da vítima

Sob estes parâmetros, podemos fazer a seguinte Rede Neural ilustrativa:



A saída da Rede, resultado dos cálculos, será a pena em anos de reclusão. Vejamos então um caso, para ilustrar o uso desta rede simplificada.

Para dar a pena a um indivíduo que esboçou o plano para um homicídio (julga-se os criminosos, e não o crime), mas apenas serviu de motorista no ato, não participando do ato criminoso, e sendo completamente desconhecido pela vítima, teremos os seguintes valores para aplicar na rede:

Intenção: 2

Participação: 2

Perversidade: 0

Proximidade: 1

Façamos os cálculos, até antes da camada do meio da rede (nós laranjas)::

2 x 0.8 + 2 x 0.4 + 0 x 0.9 + 1 x 0.7 = 3.1

Apliquemos à camada laranja, denominada camada invisível de uma Rede Neural, desconsiderando qualquer equação que regule o limite de disparo dos nós.

1º nó laranja:

3.1 x 0,1 = 0.31

2º nó laranja:

3.1 x 0.2 = 0.62

3º nó laranja:

3.1 x 0.35 = 1.09

4º nó laranja:

3.1 x 0.45 = 1.4

5º nó laranja:

3.1 x 0.5 = 1.55

Somando os valores, para obter o output, ou seja, o número de anos da pena:

0.31 + 0.62 + 1.09 + 1.4 + 1.55 = 4.97

Ou seja, a pena para o meliante que fez este papel no homicídio é de 4.97 anos, ou seja, 4 anos, 11 meses e 19 dias.

Redes Neurais

O princípio de aplicação de parâmetros é fruto de um amadurecimento. É o desligamento dos absolutos, e o reconhecimento de que existem parâmetros crescentes na ordem da intensidade de influência destes parâmetros.

Este é o próprio princípio de funcionamento de nossas redes neurais biológicas no arrazoamento das questões presentes na realidade.

Conclusão

Não podemos tomar nossas decisões baseados em extremos. Precisamos dissecar um contexto em seus componentes e quantificá-los, um a um, em ordem de importância, para obtermos resultados corretos na avaliação dos problemas que encontramos, para sermos não só técnicos, mas justos.



















sábado, 10 de junho de 2017

Iniciando o estudo do Hipocampo

Os Sinais do Corpo e os Pensamentos

Nossa existência é percebida por nós mesmos na forma de Sensações e de Pensamentos. Pensamentos podem nascer (ser ativados) independentemente, ou por Sensações oriundas dos nossos sentidos (sinais de nossos órgãos internos, tato, visão, audição e olfato). Não vamos incluir a dor.

O Centro Cerebral que vamos estudar trabalha, basicamente, em conjunto, a grosso modo, com o Tálamo e com a camada de neurônios que está no topo da hierarquia da Memória e do processamento dos Pensamentos: o Córtex.

Não se preocupe se não conseguir captar todo o funcionamento da estrutura em estudo, pois este artigo fas uma apresentação para a qual o leitor terá que retornar a cada etapa do estudo.

Tálamo

O Tálamo é uma estação de "relay" (retransmissão) dos impulsos que chegam às sinapses nervosas, para que o corpo tome conhecimento das sensações do Corpo e para que possa ficar longe do perigo. Todas as sensações oriundas de nossos órgãos dos sentidos passam pelo Tálamo.

Córtex

O Córtex se constiutui de uma fina camada de 2 mm de espessura abaixo do crânio e de suas membranas protetoras, onde estão armazenadas nossas memórias. Temos o Córtex motor, Córtex visual, Córtex auditivo, e assim por diante, cada um especializado numa categoria dos sentidos.

Estando esta abordagem voltada para o estudo do Hipocampo, que se relaciona mais à memória, não vamos levar em conta as emoções processadas pelo Sistema Límbico, como colocado no post "O Cérebro e nossas opções",

Diagrama:


Nossa "visão" do mundo vem, basicamente, de nossos órgãos dos sentidos. O Tálamo tem a função de codificar as informações dos sentidos em impulsos elétrico-ondulatórios em impressões passíveis de serem posteriormente armazenadas na memória.

HIPOCAMPO

O Hipocampo é um órgão avançado, que vamos apresentar, primeiramente, como um SUPERVISOR de tudo o que entra pelos sentidos, já na forma de impulsos sinápticos (pois já foram processados pelo Tálamo), e como INTEGRADOR destes impulsos com aqueles que provém do Córtex em resposta ao Contexto e com as memórias armazenadas no Córtex, anteriormente, em resposta aos mesmos estímulos ou estímulos parecidos com os que foram detectados neste Contexto.

A primeira decisão a ser tomada pelo Hipocampo é a de distinguir se uma situação (contexto) tal como a que está ocorrendo agora é NOVA, PARECIDA com alguma anterior, ou IGUAL à que já se encontra armazenada em algum lugar do Córtex. Isto faz do Hipocampo um COMPARADOR.

Sendo o Contexto completamente NOVO, é disparado o processo de Neurogênese neste Hipocampo, que vai, segundo a Lei de Hebb (neurônios que disparam juntos se produzem ligações entre si. ou seja, formam uma pequena rede) gerar Sinapses entre os Neurônios sensibilizados pelo Contexto. Esta Neurogênese ocorre no Giro Dentado (DG).

Sendo o Contexto PARECIDO com algum anterior, o Hipocampo acusa tal situação pois faz uma checagem de PADRÕES, complementando o que falta, para não desperdiçar espaço e neurônios com algo que já existe um pouco diferente em nosso Córtex. Esta operação se assemelha muito à operação OR da Álgebra Booleana.

Hipocampo: uma "filmadora" da vida

De acordo com a visão do CCN Book, Wiki mantido pela Universidade do Colorado, o Hipocampo é uma espécie de câmera filmadora de todas as experiências pelas quais o indivíduo passa no seu dia a dia.

De acordo com o que foi citado anteriormente, em que se disse que ele é um órgão comparador, tal colocação faz sentido. Ao mesmo tempo em que ele decide se uma experiência é PARECIDA com uma anterior, ou completamente NOVA, ele complementa as redes, no primeiro caso, ou estabelece redes novas no segundo caso.

No entanto, como no correr da vida as situações do dia a dia são praticamente as mesmas ("NÃO HÁ NADA DE NOVO DEBAIXO DO SOL") , podemos dizer que o Hipocampo, na maior parte das vezes, complementa as Redes Neurais existentes.

Seria o Hipocampo nossa Unidade Central de Processamento

A resposta, devido à natureza de nosso modo de Pensar é ABSOLUTAMENTE NÃO.

Cada neurônio associado à memória armazenada, como uma lembrança de um cheiro, de um ruído, de um tipo de ambiente, de um som, de uma sequência de sons, de uma dor localizada em uma parte do corpo, é como um "link" de Internet, que faz uma determinada Rede Neural começar a oscilar. Se for uma sensação de muito curta duração, a Rede Neural vai parar de oscilar rapidamente, e a sensação vai sumir. Se a duração desta sensação tiver uma duração significativa, tal que nossa emoção do momento, ao lembrar desta sensação, seja importante para o contexto, ou seja tão importante para aquilo que somos, mesmo fora do contexto, os neurônios que se ligam a este, serão ativados, e todo o "QUADRO IMPRESSIONISTA" associado será colocado à nossa frente.

Dissemos "QUADRO IMPRESSIONISTA" porque não captamos a Realidade exatamente como ela é, pois esta conteria tantas informações que o nosso cérebro ficaria saturado em pouco tempo, e sim um esboço com o mínimo necessário para as nossas necessidades neste mundo. Quanto a isto, leia o post "O Cérebro é um Simulador".

Neste sentido, temos Neurônios como "atalhos", que disparam uma Rede Neural inteira. E Estas Redes Neurais são como processadores dispersos pelo Cérebro. Isto faz com que, mesmo com um CLOCK (nome que se dá ao relógio que marca o passo do computador) de frequência muito inferior ao de nossos computadores, tenhamos um desempenho global muito superior ao destes equipamentos eletrônicos.

Portanto, não temos um Processador Central, algo evidenciado no fato de que podemos pensar em duas ou três coisas ao mesmo tempo.

As regiões do Hipocampo

A fisiologia de um órgão como o Hipocampo se destina a ajustar as Redes Neurais de nosso Cérebro às novas condições experimentadas na Realidade.

O Hipocampo tem as seguintes regiões grosseiramente identificadas:

DG - Dentate Gyrus (Giro Dentado) - Região onde ocorre a neurogênese (geração de novos neurônios), e onde ocorre o que se chama tecnicamente de Pattern Separation (Separação ou distinção de padrões);

CA3 - Cornu Ammonis 3 - Região responsável pelo que se chama tecnicamente de Pattern Completion (preenchimento do padrão). É responsável pelo estabelecimento do Contexto Espacial das memórias episódicas;

CA2 - Cornu Ammonis 2 - Alguns veem esta área como uma região intermediária entre CA1 e CA3. No entanto, segundo o trabalho de Douglas A. Caruana, esta região tem na sua função conotações de fim social. Isto significa a modulação da memória das relações sociais, bem como o reconhecimento social (grau do vínculo afetivo, de confiança e de hierarquia no contexto). Esta área é afetada pela ingestão de cafeína. Também responsável pelo estabelecimento do contexto Temporal.

CA1 - Cornu Ammonis 1 - O papel desta região é o de atualizar e integrar a memória estabelecida na região CA3 com as informações oriundas do Cortex Entorhinal. Destas últimas duas regiões é que a região CA1 recebe as suas entradas. Especial crédito, com relação a este papel deve ser dado a Nanthia A. Suthana. Responsável pela integração do Contexto Temporal com o Espacial oriundo da área CA2.

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Bibliografia:
Comprehensive computational model for memory processing in the Hippocampus and Entorhinal Cortex - Marianne Fyhn
Hippocampal neurogenesis: Leraning to remember - Orly Lazarov, Carolyn Hollands
Relating Hippocampal Circuitry to Function: Recall of Memory Sequences by Reciprocal Dentate-CA3 Interactions - John E. Lisman
Pattern Separation, Completion and categorisation in the Hippocampus and Neocortex - Edmund T. Rolls