segunda-feira, 23 de maio de 2011

Falta de atenção ou tendência ao erro

Em um dos posts deste blog (a tendência do cérebro é errar) já introduzimos a teoria sobre o assunto. Agora vamos apresentar o caso prático.

Em uma sala da quinta série de uma escola particular, foi apresentada em prova a seguinte questão:


O parque nacional da Serra da Canastra recebe 432.450 visitantes por ano. Calcule o número de visitantes por mês. Dê a resposta sem as casas decimais.

Vejam o cálculo que o aluno colocou no espaço para a resposta:


Olha só a confusão que a criança fez, dividindo o número de visitas não pelo número de meses do ano (12) e sim pelo número de dias do mês.

É muito fácil resumir o problema a um simples "falta de atenção". Não se trata disto. É preciso entender nosso comportamento frente às numerosas e complexas redes neurais de nosso cérebro.

Quando se fala em noção de tempo, temos que acessar os conceitos de ano, mês, semana, dia, hora e minutos. Com tantos conceitos, o indivíduo precisa de um tempo maior para selecionar a informação correta. O aumento da reserva de conceitos (conhecimento) traz, em contrapartida, a maior tendência à acessar as informações erradas.

Observe o diagrama:


A tal da "atenção" chamaríamos de Foco (palavra muito em uso ultimamente). Todo o diagrama representaria as duas redes neurais sendo acessadas: Divisão e Noções de Tempo.

O aluno escolheu corretamente o primeiro número da divisão. Mas o problema não deu o segundo número, pelo qual ele tem que dividir o número de visitantes. Ele deve encontrar este número em sua rede de conceitos sobre o tempo. A ligação entre cada noção de tempo com a outra é o número que relaciona o par. Por exemplo, 60 liga hora a minuto porque a hora tem 60 minutos.

O nosso aluno acessou mês em sua rede neural de tempo, no entanto, devido a um problema de foco escolheu o coeficiente 30, próximo de mês, mas não o valor correto pedido. Quando erramos, não cometemos erros estapafúrdios, mas pequenos erros com consequências muito erradas. O número 30 escolhido pode estar bem longe de 12 (mais que o dobro), mas está localizado, na rede neural, bem próximo do mês.

Como solucionar este "problema de atenção"

Muitos diriam, em suas recomendações para se fazer provas ou concursos, que é preciso respirar antes de resolver uma questão. Nós já dizemos que, para cada conceito envolvido, deve ser feito um diagrama, colocar os conceitos associados, e duvidar da própria escolha.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Exercícios físicos para o cérebro - Brain exercises

Se alguma vez você fez dança, karatê ou tai-chi-chuan, deve ter feito exercícios para o cérebro sem saber. E os mais eficazes são os exercícios de oposição, também usados para aulas de canto avançadas.

O que são os exercícios de oposição ?

Exercícios de oposição combinam movimentos de pés e mãos, de forma que se faça um movimento de mão esquerda ao mesmo tempo em que se movimenta o pé direito, e vice-versa. No princípio, deve-se adotar a posição sentada, para evitar desequilíbrios. Quando a coordenação motora estiver desenvolvida, poder-se-á fazê-los de pé.

Qual é a razão de se fazer este tipo de exercício ?

Já é sabido que o hemisfério esquerdo do cérebro controla os movimentos do lado direito do corpo e vice-versa. Também se sabe que cada metade dos campos visuais é controlada por um hemisfério cerebral, num complexo jogo de complementações da visão em termos físicos e de interpretação.


Pela figura vemos e constatamos que existe um tratamento cruzado do que parece algo contínuo em planos horizontais de percepção. Juntando, então, movimentos cruzados e visões cruzadas, o cérebro exercita sua natureza mais intrínseca, que são as complementações e cruzamentos, exigindo um maior esforço, e portanto preparando o cérebro para desafios maiores.

Um exemplo de código

Suponhamos a codificação de um material esportivo. O gestor de conhecimento da indústria deste tipo de material codifica tipo do material, tecido e cor:

Tipo do material

0001 - Agasalho
0010 - Camiseta
0100 - Calça
1000 - Tênis

Tecido

0001 - poliamida
0010 - nylon
0100 - elastano
1000 - algodão

Cor

00000000 - Branca
00000001 - Amarela
00000010 - Laranja
00000100 - Vermelha
00001000 - Verde clara
00010000 - Verde escura
00100000 - azul
01000000 - marrom
10000000 - preta

Para compor um artigo Tênis - Nylon - Amarelo, alguém poderia sugerir a justaposição:

1000 0010 00000001

Mas para maior complexidade, já que se trata de um código, poderiamos entrelaçar tipo do material justaposto com o tecido (8 números) com a cor (8 números):

1000 0010
0000 0001

para obter (extraindo um número ora de um e ora de outro):

1000000 00001001

Os códigos de barra são compostos de forma semelhante, proporcionando maior codificação.

Ir lendo códigos deste tipo, separando e identificando as partes, você vai aumentar a sua capacidade cerebral.

Um exemplo com uma frase:

"O gato angorá saltou sobre o telhado"

Ficaria (respeitado o tamanho diferente das palavras e a separação dos sintagmas):

" o gaantgoorá ssaolbtrue o telhado"

Interessante, não ?

Escrever

Um dos exercícios mais úteis para o cérebro é escrever, e escrever com lápis ou caneta, e não através de teclado de computador, tablet ou telefone celular. Escrever é desenhar de forma contínua, com o acompanhamento cerebral da cadeia de ideias.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O mecanismo de repetição na aprendizagem e nos vícios

Nossa rede neural difere de mecanismos "frios" de memória pelo fato de ser "movida" por processos químicos.

Somos naturalmente dependentes químicos da dopamina, serotonina, melatonina e outros neurotransmissores. Ora, se a transmissão dos impulsos nervosos se dá por meio de fenômenos químicos, precisamos "bombear" estes neurotransmissores (e também ions de cálcio) pelas redes nervosas para efetuar as tarefas tão características da máquina cerebral: aprender, que consiste em experimentar um movimento ou tese, avaliar, fazer novo ajuste e experimentar novamente, num ciclo.

Se temos um ciclo, temos repetição. É como fazemos os exercícios, como aprendemos a andar de bicicleta, jogar pingue-pongue (tênis de mesa), damas, xadrez, etc:

Movimento1/tese1 => Avaliação => Ajuste => Movimento2/tese2 => ...

Portanto, a chave para se chegar à excelência de um movimento (ginastas) ou teses (cientistas) é o ciclo de aperfeiçoamento apresentado. Daí a necessidade da persistência, da vontade, da paciência. Em nossos anos de crianças, fomos "empurrados" pelos nossos pais a repetirmos pedaços de rotinas, rituais. Os professores nos faziam repetir exercícios aparentemente sem utilidade, mas importantes para o treino cerebral.

O lado obscuro da repetição

No entanto, em sua sede de neurotransmissores, o cérebro, se mal conduzido por distúrbios neuróticos, pode sair constantemente em busca de suas substâncias excitadoras, e se entregar a vícios que lhe dêem, bem rápido, as sensações que os neurotransmissores trazem. Daí vem as manias, neuroses, repetições desnecessárias da lavagem das mãos, da limpeza da casa, da escolha interminável de roupas, de compras compulsivas, de sexo, de agressão, de fumo. Qualquer coisa serve para colocar o cérebro em ritmo de produção constante de substâncias.

Por isto existe um nível do bom ou do ótimo que ao ser atingido DEVE interromper o ciclo. Deixe que alguém, na próxima geração, conseguirá melhorar aquilo que você fez.

O lado Modelo de Gestão da repetição

Releia o último parágrafo do item anterior e você vai associá-lo ao Ciclo de Melhoria de Processos tão falado ultimamente em Administração. Este ciclo é a ferramenta utilizada na Gestão Corporativa para que uma Corporação ou Empresa aperfeiçoe seus processos de modo a atingir um Padrão de Excelência.

Cada setor vai repetindo seus Processos, aperfeiçoando etapas, numa busca digamos "neurótica" pelo cada vez melhor desempenho e qualidade. Mas até isto pode trazer neuroses gerenciais, e uma possível opressão sobre os empregados executores. Por isto, deve-se estabelecer metas humanas, sem exageros.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Neurônios espelho

A natureza arquitetou em nosso organismo sistêmico a chave para recebermos e afixarmos a educação e os comportamentos sociais: os neurônios espelho.

Os filhos observam os pais, e, em sendo estes os primeiros e mais frequentes fontes de exemplo, tendem até a exagerar a "emulação" de comportamento. Desprovidos, inicialmente, de motivações independentes (pois não sabem fazer nada sozinhos), a única forma de conduta é imitar o comportamento dos pais.

Já fui surpreendido pelo meu filho de 8 anos falando coisas de mim sem a opinião de ninguém, apenas me observando nos atos mais insignificantes de conservação do lar, como lavando louça, varrendo o chão e cozinhando. A linguagem corporal e a decodificação embutida desta linguagem, em todo ser humano, deu a ele subsídios para fazer tais interpretações. Esta é uma forma reflexiva da existência dos neurônios espelho.

Outra forma é a tendência de repetirmos alguns detalhes da posição de seres humanos que estão ao nosso lado, como cruzar os braços ou colocar a mão na cintura EXATAMENTE COMO A PESSOA QUE ESTÁ CONVERSANDO CONOSCO FAZ.

Sem este dispositivo, seria impossível ao ser humano transmitir os hábitos de comportamento e educação para a sua prole, e o mundo estaria um caos muito pior do que o que hoje se nos afigura.

O exemplo

Por isto se diz que nós, os adultos, devemos dar o exemplo, ou seja, agirmos para sermos imitados, mesmo nas situações adversas. Isto é educação e transferência de educação.

A influência do grupo

Pelo aspecto dos neurônios espelho, vemos como a escolha do grupo (nunca sentar na roda dos escarnecedores como dizem os antigos provérbios) determina, de certa forma, a exposição a influências deletérias. Escolha bem suas amizades.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A tendência do cérebro é errar

É algo que observamos a cada ato de nossa vida: a tendência natural ao erro. Mesmo a religião enfatiza esta nossa veia do erro.

Vamos partir do princípio de que o cérebro é O MELHOR SIMULADOR OU TRADUTOR DO MUNDO REAL. E quando dizemos simulador ou tradutor já admitimos um certo coeficiente de erro. As sensações não chegam imediatamente ao cérebro, mas sim meio segundo atrasadas.

Além disto, os órgãos de nossos sentidos percebem apenas "faixas" das manifestações do mundo real. Nossa audição não detecta sons que só os cães ou morcegos detectam. Nossos olhos não percebem o ultra violeta, raios gama, raios X, etc. Vivemos, então, em um universo restrito dentro do grande Universo.

Nossa memória confunde lembranças, à medida em que vamos ficando distantes destas no tempo. Misturamos certas sensações fortes do sonho com lembranças, e criamos uma fantasia. O medo também altera a percepção da realidade. Moças estupradas descrevem o estuprador como sendo louro e de olhos azuis, e quando se acha o criminoso constata-se que ele tem cabelos castanhos e olhos negros. Isto porque algumas vítimas jogam sobre o homem que as possuiu ideais de beleza.

As redes cerebrais

Sendo a rede neural do homem excessivamente intrincada à medida em que adquire novos conhecimentos e pratica novos procedimentos, aperfeiçoando-os, os caminhos de uma idéia podem se tornar uma verdadeira cidade horizontal e vertical, com avenidas, ruas laterais e becos de idéias. Em uma malha tão cruzada, o risco de tomar caminhos errados aumenta, como a malha viária das grandes metrópoles. Isto aumenta a chance de tomarmos caminhos errados, muito mais numerosos do que os poucos certos.

Medo e cansaço

Sendo o funcionamento de nossa rede cerebral dependente de fatores químicos para funcionar de maneira correta, o cansaço pode, como realmente produz, excesso de uns e falta de outros neurotranmsmissores. Isto também nos torna propensos ao erro.

Só estamos realmente prontos pela manhã após as nove horas. No entanto, as pessoas saem de casa para trabalhar entre 7 e 8 da manhã, se expondo mais uma vez aos riscos de erros e de acidentes.