segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O que o Respeito à Autoridade faz no Cérebro

Desde os anos 70, o Respeito à Autoridade tem caído vertiginosamente. Nesta década começou, notadamente nos Estados Unidos, um movimento de anarquia, porém com contornos de algo organizado, com expressão aberta e coberta pela mídia, que iria atingir o mundo todo.

A rebeldia da juventude sempre foi um traço social de fundo biológico, quando o Cérebro ainda está em formação e não possui seu Centro de Planejamento suficientemente desenvolvido, para afastar as pessoas dos perigos mais explícitos.

Mas até os anos 1970, esta rebeldia era refreada através da força paterna e materna, notadamente a física. No entanto, a Psicologia começou a questionar o uso desta força, dirigindo a energia dos pais para o Diálogo.

Expressar

O Diálogo abre o terreno para os jovens imaturos se expressarem, e obterem as explicações do porquê não devem fazer determinadas coisas antes de serem satisfeitas determinadas condições. Diálogo é a colocação dos anseios, pelo lado que conhece pouco, e das cadeias de CONsequência, pelo lado que conhece mais, o lado da Autoridade.

Autoridade

A Autoridade conhece mais, e alias DEVE conhecer o suficiente para construir regras. As Regras não podem ser também estáticas, pois sobre qualquer Regra diversa existe a soberana Regra do Tempo. O Tempo passa e exige adaptação, pois os contextos mudam.

Se uma prerrogativa da Autoridade, pelo seu maior conhecimento, é a de fazer as Regras e fazer com que sejam obedecidas, também ela tem o dever de estudar continuamente a alteração do contexto que originou estas regras, para que obedeça ao soberano Princípio do Tempo que passa.

O Jovem, passageiro do Tempo

O Jovem vem empurrado pelo tempo. Alguns são tão rebeldes que parecem mais os ponteiros do Relógio do Tempo. E como ponteiros, não conseguem observar o tempo, e estão sempre embarcando no novo, sem observar para onde ele vai, e nem para que ele serve. Desta forma, ele está sempre imaginando que em outro lugar, ou agindo em antagonismo puro e simples aos pais, ele vai ser mais feliz.

E como se fosse um passageiro do tempo, o jovem também imagina que vai viver pouco, pois a extensão de seus poucos anos de vida não lhe dá elementos conjunturais para ter a noção de que estes anos que já viveu podem se projetar em muitos outros Então ele precisa viver com intensidade cada dia.

E o que pode dar a este jovem a noção de que o Tempo pode ser durável ? Freios psíquicos. Se um veículo diminui a velocidade, o caminho é percorrido em um tempo maior. E de que se constitui estes freios psíquicos ? De ordens e regras. E quem dá estas ordens e estipula as regras ? Uma Autoridade. E quem são as primeiras autoridades na vida do jovem ? Os seus pais.

Uma história de "NÃO PODE"

Vamos desenhar aqui, por meio de uma narrativa, uma situação que mostra o papel da autoridade, que dá os fundamentos fisiológicos da autoridade no cérebro e que demonstra o efeito saudável do NÃO.

Esta é o caso simples de um menino que ganha uma Pipa, no fim da tarde, de um tio. Como menino, ele pensa de forma precipitada. A pipa serve para ser empinada. Com ela na mão, o menino já vai saindo pela porta a fora, para fazer aquilo para o qual essa lhe serve: empinar a pipa no vento.

Mas no caminho ele é interceptado pela mãe. Esta lhe explica que já está ficando escuro, e ele não vai ver a pipa direito no céu, e esta é capaz de se perder engastada em alguma copa de árvore, em algum alto de prédio, pois a pouca luz não permite um controle satisfatório do caminho para onde ela vai, levada pelo vento.Esta é a primeira barreira entre a pipa dada e o divertimento que ela proporciona. Conformado, ele entra em casa, e para onde vai sua amiga pipa o acompanha.

Em estado de enlevo, o menino dorme abraçado com sua paixão do momento.

Nasce o novo dia, e o garoto já corre pela casa, para ir empinar a sua pipa. Novamente, a mãe o intercepta com uma nova REGRA. Ele não pode sair sem tomar café. O ansioso garoto coloca a pipa na cadeira do lado, no seu lugar à mesa, e come um pouco de pão e suco. Mal limpa os cantos da boca com o braço e já levanta com a pipa em direção da rua. Novamente a mãe o intercepta.

"Que foi mãe ?"

A mãe explica que descalço e de pijama ele não pode ir para a rua. A contragosto ele larga a pipa, coloca o chinelo, tira o pijama e põe sua roupa de guerra. Um pouco ressabiado, ele prefere perguntar do que passar mais uma vergonha:

"Agora posso ir ?"

E a mãe:

"Só depois de escovar os dentes".

 E lá vai o menino para o banheiro, muito chateado. Acabada mais esta ETAPA, ele pega rapidamente a pipa e sai correndo, antes que tenha que fazer mais alguma tarefa, para merecer o prazer que lhe espera lá fora.

Efeitos Educacionais

Percebam, através do diagrama, a multiplicidade de Princípios de Preservação Individual. Nas ordens da mãe estão Princípios de Higiene, Proteção Física do Corpo e Manutenção deste, através da Alimentação antes do dispêndio da Energia. A mãe não educa o menino colocando-o sentado à sua frente, e ministrando estes princípios como uma disciplina formal. Ela faz "Educação de Campo", ou seja, educa nas situações limite, isto é, na iminência de algum dano sobrevir ao seu filho.

Pré-conclusões

O que podemos tirar deste quase suplício, uma verdadeira corrida de obstáculos psíquicos até que o menino chegue ao seu propósito ?

Algumas palavras foram enfatizadas nesta narrativa. A primeira foi REGRA. A Regra não é simplesmente um capricho. A Regra é uma expressão de CONsequência. No momento em que ganhou a pipa, houve uma Regra Temporal. Ao fim da tarde, quando já está escurecendo, temos uma condição limitante para quem pretende empinar uma pipa. Qual a graça de não ver direito a pipa alçando seu vôo ? Como direcionar corretamente este objeto, sem conseguir vê-lo direito, pelo fato da pouca luz não favorece o seu controle ?

E quando esta palavra (REGRA) aparece, passamos por algo que quase passa despercebido: a ESPERA. Não falamos de Tempo ? O garoto teve que esperar a noite inteira, talvez sonhando com o ato a ser perpetrado, para satisfazer a sua vontade iminente. Então podemos passar para a segunda regra..

Em nome da saúde, o garoto deve se alimentar. Temos mais uma relação de CONsequência. Se não estiver alimentado, o menino corre o risco de ficar só um pouco na sua brincadeira, parea voltar devido a uma fome intensa. Não se deve fazer atividades sem se alimentar, após passar horas de sono, de estômago vazio.

Depois vem duas novas CONsequências. Sem roupa adequada e sem estar devidamente calçado, nem uma brincadeira pode ser adequada. O pijama vai ser novamente utilizado à noite, e sujo não seria nada agradável. E descalço um menino, de natureza desvairada e hedonista, pode pisar numa pedra, num caco de vidro, num fio elétrico desencapado e dai dar o maior trabalho aos seus pais.

As autoridades, no caso os pais, estabelecem Regras para evitar os males e proporcionar o aproveitamento máximo do tempo, mesmo parecendo que este tempo vai ser desperdiçado. Para o menino, as Regras são como barreiras, e veremos que, biologicamente, ocorre quase isto.

Efeito fisiológico

Quando dissemos que "as Regras são como barreiras", nos expressamos metaforicamente, mas profundamente apoiados em algo já evidenciado no estudo da formação de Redes Neurais. Se pela vontade do garoto, havia uma curta distância entre a Pipa e a Rua (local do divertimento e dos ventos que empinam o artefato de papel). Com as Regras e princípios fornecidos e explicados pela mãe, este curto caminho para a realização do desejo infantil se transformou num percurso mais elaborado, onde cada Regra é estabelecida biologicamente como uma pequena Rede de Neurônios, responsável pelo balanceamento de cada fator, antes que o objetivo pudesse ser alcançado.

E, realmente, o papel da educação pelas Regras é colocar novos pontos de checagem e etapas em nossos comportamentos, para minimizar as possibilidades de erros. Quanto mais o indivíduo planeja e avalia suas atitudes, mais capaz de viver socialmente ele se torna.

Em nossa fisiologia, a educação tem o papel de ser a construtora de Redes Neuronais cada vez mais complexas, minimizando o risco de nos tornarmos voluntariosos, inconsequentes, precipitados e finalmente fracassados.

Em um adulto, a síndrome do menino com a pipa se compararia a alguém que começa um negócio sem ter o dinheiro necessário e sem fazer um planejamento.

Conclusão

Concluímos facilmente que a educação e a noção de CONsequência só podem ser fornecidos por terceiros, que tenham um maior conhecimento que a pessoa que está sendo educada, que conheçam as diversas Regras que envolvem as diversas situações comuns da vida. À esta pessoa, que tem estas características, damos o nome de AUTORIDADE.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A Natureza filosófica da Reflexão

Os perigosos pensadores populares que tentam se fazer nas Redes Sociais, com discursos sem embasamento nos verdadeiros filósofos, concordando sempre que tanto um lado como o outro de uma questão estão certos, cada um a seu modo, espalham teorias superficiais, para vender livros e ganhar "likes", com o objetivo de autopromoção.

Um dos terrenos que exploram é o o do autoconhecimento, cujos numerosos caminhos, como dizem, podem levar o indivíduo à sua própria essência.

O que é Reflexão segundo John Dewey

John Dewey, como citamos no post anterior, foi um filósofo americano, cuja obra mais importante "How We Think" (como pensamos) explora extensa e profundamente a natureza do pensamento, meios para se pensar corretamente e para evitar conclusões erradas.

Segundo está registrado nesta obra,

"Reflexão não envolve simplesmente uma SEQUÊNCIA de ideias, mas uma CONSEQUÊNCIA das mesmas"

Esta CONsequência (olhando além do significado comum Causa/Consequência) é uma ORDENAÇÃO consecutiva, de forma que cada Termo/Entidade/Fato constituinte determina o próximo pela própria lógica intrínseca apresentada e aparente no Contexto que está sendo examinado, e justifica, ao mesmo tempo o seu Predecessor na mesma lógica.

Cada fase desta CONsequência é um Passo coerente que anda de UMA coisa para a OUTRA, ou tecnicamente um TERMO DO PENSAMENTO. Cada Termo deixa uma evidência Clara ou Implícita do próximo.

O melhor exemplo são os episódios típicos dos acidentes que ocorrem no trânsito.

Acidentes e Cadeias de CONsequência

Os acidentes de trânsito tem como espaço de ocorrência as Ruas e Estradas. O próprio contexto já prenuncia os acidentes. O cerne da ideia de Acidente está em dois tipos de ocorrência:

Condução indevida - O motorista desrespeita os princípios do desgaste das peças ou as Regras de Condução;
Dano próprio - Um dano interno provoca o descontrole do veículo;
Choque - Um veículo se encontra com o outro em um ponto, descarregando a energia cinética de ambos;

Quando as peças se desgastam ou se rompem, por defeitos de fabricação, pelo tempo ou intensidade de uso, temos os Danos próprios. Quando as vias se cruzam, temos um local propício para encontros, e portanto podem ocorrer os Choques. Quando a conveniência do indivíduo se sobrepõe às regras coletivas, ele vai caminhar na direção da desobediência das Regras de Condução.

Para produzir uma constante lembrança de que existem Regras, e de que podem haver Choques, tanto as ruas quanto as estradas tem Placas de Sinalização. Portanto, a todo momento o Condutor está sendo bombardeado com uma mensagem subliminar e contínua:

EXISTE LEI. EXISTE LEI. EXISTE LEI. ...

Seu cérebro é colocado em uma linha rítmica, onde cada Placa de Sinalização é um Toque monótono periódico que estabelece uma "música" de segurança.

Placas e CONsequência

Se uma Placa sinalizadora avisa "curva fechada à direita", tal curva aparece à frente. Se anuncia "declive acentuado", o mesmo aparece em seguida. Já a placa de animais na pista pode ou não oferecer o aparecimento dos mesmos, mas internamente o Cérebro diz:

"Não apareceu, mas poderia ter aparecido"

Aqui a CONsequência existe na forma de uma Probabilidade, de uma Possibilidade, e a cadeia de CONsequência não é rompida. Isto é bem diferente das Sequências rígidas e bitoladas do ensino comum e não flexível.Uma mente imatura poderia ter o seguinte julgamento:

"Se a placa avisou, mas não aconteceu, as placas não são confiáveis"

Portanto, CONsequência no sentido que queremos capturar para nossa ideia de Reflexão é mais do que

AQUILO QUE ACONTECE

ela é melhor expressa por

AQUILO QUE PODE ACONTECER

E num sentido Técnico:

AQUILO QUE POSSUI UMA PROBABILIDADE, PEQUENA OU ELEVADA, DE OCORRER

A Reflexão do homem comum

O Homem comum, sem disciplina de raciocínio, se baseia muito no que vem ocorrendo, no SEMPRE FOI ASSIM. Por exemplo, passam oito anos de seca. O homem desta espécie diz para si mesmo (reflete):

"Não vai mais chover"

Já o homem de mente disciplinada nos corretos ditames da Reflexão diz:

"Não tem chovido, mas há uma possibilidade de chover, mesmo assim. A probabilidade tem diminuído, mas mesmo assim ela existe"

Na antiguidade, muitos erros foram cometidos por esta falta de uma visão de que havia a possibilidade daquilo que tinha pouca probabilidade de acontecer vir a se tornar realidade. Usando a lógica dos antigos, que não admitiam possibilidades fora dos dogmas e daquilo que se podia ver, jamais conseguiríamos cogitar a existência dos neutrinos, dos bósons e de outras partículas constituintes da matéria.

Se nossos instrumentos de detecção e medida, óticos ou magnéticos, dizem NÃO para a existência de ALGO necessário para tornar verdade nossas equações ou teorias, ainda devemos crer que este ALGO pode existir. O que ocorre, nesta situação é a inadequabilidade das ferramentas de que dispomos no momento.

Conclusão

Ao analisar CONsequências, ao fazer a correta Reflexão, o homem deve colocar uma pequena Incerteza nas Sequênbcias de acontecimentos que podem lhe parecer certos ou previsíveis. Ele deve pensar no que é comum de ocorrer entre um Termo do Pensamento e seu sucessor, sem esquecer mesmo das possibilidades mais remotas.