quarta-feira, 6 de julho de 2011

Oposição e comparações demandam esforço linguístico

Nossas primeiras expressões depois de conhecer um pouco mais o mundo são coisas como:

- O homem é forte. Ele é alto. O outro é fraco.

O correto seria dizer que o homem é mais alto que outro que servisse de base de tamanho. O mesmo se aplica para forte e fraco, grande e pequeno.

Este é um embrião do que vai se transformar na operação mental de comparação. O primeiro passo é reconhecer um padrão, expressão da média, do comum, do aceito, do praticado. Depois de reconhecê-lo, questione-se se este padrão se aplica a todos os contextos e a todos os tempos. Por exemplo, entre as formigas, o tamanduá é conhecido como grande. Já entre os elefantes ele é um ser pequeno.

Portanto, é preciso ter cuidado na aplicação dos adjetivos conforme o contexto. Por contexto podemos entender agora, neste artigo realmente esclarecedor, um conjunto de parâmetros médios que tem relação linguística lógica com aquilo que está sendo estudado ou observado.

Novamente falando das formigas, vamos nos reduzir ao seu tamanho, pensar em um ser que tem pernas mas não tem dedos e que utiliza como matéria-prima para o seu alimento as folhas, principalmente. Vamos pensar no parâmetro de tamanho em dimensões de cerca de 2 centímetros, no de população em milhares, no provável local de vida a terra (se bem que agora elas invadiram as nossas casas).

É por não levar em conta o contexto, que escutamos e lidanmos com absurdos em nossa vida, como o horário dos bancos, que é quase exatamente o nosso, nos obrigando a usar o horário do almoço para fazer as transações bancárias. Ao analisar o seu horário de funcionamento, os banqueiros colocam como contexto o horário comercial de trabalho (ainda diminuído de 3 horas), ao invés de colocarem neste contexto o horário disponível dos clientes para fazerem operações bancárias. Por este motivo, os bancos espalharam caixas eletrônicos sob os quais não tem nenhum controle sobre a sua segurança. As câmeras de vigilância só possibilitam correr atrás dos assaltantes quando o roubo já foi efetuado.

Percebendo o contexto

Ora, para levantar um contexto, para depois serem possíveis as operações de oposição e comparação, é preciso levantar todo o vocabulário envolvido naquele contexto. Para o caso das formigas:

Formiga, antena, patas, terra, grama, formigueiro, saúva, soldados, fazendeiras, fungo, folhas, floresta, árvores, tatu, etc.

Comparação

Para a comparação, é preciso conhecer contextos parecidos com o da vida das formigas, como por exemplo comparar o formigueiro com uma grande metrópole ou com um quartel militar.

Exemplo

Vamos analisar o trecho inicial do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas do inteligentíssimo Machado de Assis:


Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que
o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também
contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.

Este período contém as duas operações mentais de comparação e oposição, esquematizadas a seguir:


A oposição pode ser feita entre dois contextos (oposição de direção), no caso entre a direção em que o os autores escrevem suas memórias e obras (ordem cronológica) e a direção escolhida por Brás Cubas (a inversa). E também pode ser feita pela ordem na oração e pela inversão substantivo adjetivo de palavras que possuem ao mesmo tempo estas duas funções gramaticais.

Conclusão

É preciso conhecer as funções sintáticas e ter a capacidade de colocar mais de um contexto em uma idéia para se obter relações lado a lado e analisá-las, linguisticamente, para fazer as comparações e oposições, aumentando a capacidade de visão proporcionada pela linguagem do ser humano. Em outras palavras, você faz um esforço linguístico para aumentar seu poder linguístico, como nos exercícios físicos: você exercita o músculo para fazê-lo mais forte.

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