sábado, 4 de agosto de 2012

Ouvir, dialogar e olhar no olho - Crescimento pessoal

Um bebê aprende a falar de tanto ouvir. Isto é parte de um gigantesco trabalho, completado pelo cérebro. Concomitantemente, ele troca olhares com a mãe, com o pai, com a babá, com os tios, primos e vizinhos.

Até dominar as frases complexas, o indivíduo humano dá, inconscientemente, grande valor a estas trocas visuais e auditivas. Na adolescência, no entanto, por se achar senhor da verdade, o indivíduo passa a evitar o excesso de troca e se recolhe mais de forma a desenvolver seu próprio pensamento.

Isto é natural, e nisto não existe engano.

Mas imagine que o indivíduo continuasse, pelo menos, ouvindo e "pesando" os fatos em sua cabeça. Ele aumentaria o seu depósito de idéias e conceitos, formando uma infra-estrutura de raciocínio muito maior. Tente dizer isto a um adolescente.

Os adultos também, nos locais de trabalho, pensam que sabem tudo, escolhem demais as suas companhias e podem chegar a se fechar completamente. É o "indivíduo individualista". Temos tendência natural a evitar conversas chatas, companhias que falam o que não concordamos e grupos que julgamos de baixo nível cultural.

Pelo menos até os quarenta anos, o brasileiro tem que se avaliar como total ignorante, e hoje ainda mais, pois a leitura é um hábito muito distante e até desprezado.

As opiniões diversas

Seja qual for nossa opinião ou visão sobre algo, é importante ouvir pelo menos mais duas, pois haverá diversidade e possibilidade indubitável de desempate. Qualquer opinião traz um ponto de vista, e mesmo com um vício da faceta abordada, seu exagero pode ser registrado para ser refutado em sua natureza. Não que toda opinião seja válida, mas oferecendo um lado absurdo, constitui-se em um erro registrado para não ser imitado e ponto de apoio para se achar a verdade.

A conversa chata

O que mais nos incomoda em uma conversa é o indivíduo "do contra". Por um problema de formação de raciocínio este tipo de indivíduo não sai da "adolescência cerebral". Este tipo não inicia conversa nenhuma, a não ser que esteja estimulado por algum acontecimento que lhe tocou o ego. Ele embarca na conversa dos outros, contando casos e dando "o contra". É mais fácil. Diálogo de reação. Repare como estas pessoas frequentemente iniciam frases com "não".

Até esta conversa é proveitosa, pois traz os "elementos do senso comum". Sempre se oferece uma faceta mais absurda e mundana do raciocínio humano. E preste atenção, pois uma vez em cem, ou menos ainda, este indivíduo pode dar uma contribuição que você nunca imaginou, quando o seu íntimo ficar excessivamente exposto. Então ele vira um sábio por alguns minutos. Este pode contribuir muito, se você tiver a paciência de um pescador esperando um peixe em uma lagoa que quase não os tem.

O ouvir

Fique então sem ouvir muito tempo uma conversa, um ouvinte. Você murcha. Somos acostumados à ativação pelo que vemos. O sentido da visão fica ligado e recebendo informação de doze à dezesseis horas por dia. Mas o ouvir só se realiza por pouquíssimas horas somadas. Ouvir é importante. A língua é aprendida pelo sentido da audição.

E qualquer audição besta, aparentemente insignificante, é necessária para nos manter vivos e sadios psicologicamente. Não basta as pessoas se movendo à nossa volta. É preciso que falem, e se estiverem fazendo isto se dirigindo a nós é melhor ainda.

O aspecto linguístico

A conversa humana ativa de forma capital duas áreas do cérebro conhecidas como área de Wernicke e de Broca, responsáveis pela manipulação e compreensão linguística das palavras. E todo o cérebro vem participar da conversa. No post "No cérebro as decisões são tomadas em Assembléia" vimos que o próprio cérebro adotou o modelo "parlamentarista" para não estranhar muito a vida linguística social.

O olhar

Recentemente foi descoberto que os olhos não são propriamente órgãos de um sentido, e sim uma parte do cérebro. O "olho no olho" pode revelar se a pessoa está ou não falando a verdade. O olho que insiste em "cair" em direção do pescoço ou tronco da pessoa com quem se conversa pode revelar submissão, medo, insegurança ou traição. Quem não consegue sustentar o olhar frente ao outro provavelmente está tendo uma conversa tensa.

O olho é a janela da alma, e a correta interpretação de sua posição e movimentos traz muito conhecimento sobre a natureza de nossos interlocutores. O lado bom é que um simples olhar sincero ajuda muito a manter a nossa saúde mental e física.

A migração dos diálogos para redes sociais perverteu o sentido da verdadeira conversa presencial, com a audição e com a troca de olhares que lhe são peculiares. O facebook e os chats são a falência da conversa sadia.

O homem sozinho

Ao homem sozinho resta se olhar no espelho, mas isto não lhe acrescenta nada. Somos animais sociais (não sei se sociáveis no estágio em que o mundo se encontra). E o mais profundo é que formamos UM GRANDE ORGANISMO SOCIAL, com a necessidade de aproximação corporal, diálogo e observação. O inteligentíssimo Machado de Assis descreve em suas obras os cacoetes que personagens solitários desenvolvem ao tentar "casar com si mesmos".

A mais tempo via os solitários com uma garrafa de cerveja como sua companheira, cumprindo um horário bem constante, e sendo conhecidos dos garçons, sentando-se sempre no mesmo lugar. A cerveja lhes servia de apoio (e ainda serve) e desculpa para a falta de uma companhia. Então passavam horas observando as outras pessoas, e se alimentando de suas presenças. Após umas horas, pagavam a conta e iam embora satisfeitos. Isto ainda ocorre em nossos dias.

Uma versão atualizada deste tipo é o solitário que assenta na praça de alimentação, abre o notebook, netbook ou tablet, e inicia seu passeio virtual. Mas se está interagindo nas redes sociais da Internet, para que precisa sair de casa ? Para "sentir em seus ossos" que está perto dos outros. É uma necessidade visceral. Melhor seria se marcasse para encontrar com os "corpos físicos" dos colegas, e manter sua saúde psíquica.

Conclusão

Converse, e olhe seus interlocutores no olho, para se desenvolver totalmente, e observe se eles te olham no olho. Ouça até aquelas pessoas que, em seu julgamento, não lhe acrescentarão nada. Este é o lado científico do amor entre as pessoas.


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