Maquiagem dos Tempos
Esta ideia nasceu e cresceu de um Materialismo Visual das pessoas. Ao caminharem nas ruas ou circularem em seus veículos elas enxergam uma multidão que se locomove em veículos modernos, usa celulares, trabalha em prédios modernos, bonitos, limpos e em escritórios com a última palavra em tecnologia de transmissão de informações.
Nossos veículos falam, calculam o consumo de combustível do momento, andam em vias com semáforos sincronizados, com mostradores eletrônicos informando se existem vias próximas congestionadas, etc.
Ao chegar em casa a pessoa dispõe de Smart TV, ligada por WiFi ao seu roteador e à Internet. As drogarias oferecem medicamentos de última geração, e os hospitais tratamento para todas as doenças. Neles são feitas microcirurgias inimagináveis a 10 anos atrás.
Mas este "aparente" progresso não é uma realidade tão equilibrada. As gerações anteriores lutaram para colocar tudo isto aí para que outros mantivessem e, mais que isto, melhorassem o existente de forma compatível com o andar dos tempos.
O que se observa, no entanto, é uma crise até na manutenção do que está aí. O número de indivíduos cresce, e a qualidade do serviço oferecido cai. Seria somente por causa do crescimento populacional ?
O Raciocínio Cognitivo trata da forma como o ser humano adquire e trata os conhecimentos, transformando-os em conhecimentos derivados. Esta evolução obedece aos princípios enunciados por Piaget, e que coincidem extraordinariamente com os resultados observados em 70 anos de experiências.
Os principais estágios para fins do nosso artigo são os compreendidos entre 7 e 12 anos e 12 anos em diante.
Aos 7 anos, em média, surge um senso de proporcionalidade, onde a criança consegue perceber qual recipiente tem maior volume, sem ser enganada por uma só dimensão (notadamente a altura). A criança é capaz de coordenar pontos de vistas diferentes e integrá-los, porém ela SÓ CONSEGUE IMAGINAR SITUAÇÕES PASSÍVEIS DE SEREM REPRESENTADAS CONCRETAMENTE.
Após os 12 anos, a criança consegue raciocinar com hipóteses e formar ESQUEMAS CONCEITUAIS ABSTRATOS.
Os caminhos do Raciocínio
Sem muita teoria, vamos direto a algum parâmetro que possa servir de indicador para o Raciocínio Humano. Se a maioria acredita que se deve procurar a nata dos pensadores nos meios mais tecnológicos, como a Internet, ela está fragorosamente enganada.
E se acreditarmos que o Raciocínio vem evoluindo com os tempos, encontraremos um desestímulo a esta evolução justamente no conforto que vem sendo oferecido às pessoas. É a dificuldade que excita a busca por novas soluções para velhos problemas, ou soluções para novos problemas.
Um dos maiores períodos de evolução tecnológica foi a 2a. Guerra Mundial. Os tanques de guerra, explosivos, dispositivos de comunicação, radar e a ciência nuclear tiveram de crescer em apenas 2 anos (entre 1941 e 1945), pois a Alemanha estava exercendo uma atividade extremamente predatória em torno de seu território original.
Constatação a partir de diálogos em Redes Sociais
Mostramos o esperado em "Evolução Individual do Raciocínio Cognitivo", e no tópico anterior a eficácia prevista comprovada no período da 2a. Guerra Mundial.
Coletando dados para medir a adequação dos períodos previstos por Piaget nos fóruns de discussão disponíveis na Internet, notamos uma não adaptação da geração dos anos 80 e 90 (notadamente esta última) ao previsto por Piaget. Parece que estas gerações, por motivos não levantados neste estudo, estacionaram na fase do Raciocínio Concreto.
As metáforas não são mais entendidas, mas levadas ao pé da letra. Ideias complementares estão sendo chamadas de contradições. Por exemplo, em um depoimento sobre um assalto, uma pessoa vê a entrada dos assaltantes em uma padaria. Uma segunda pessoa vê a saída de somente um. O ocorrido foi a morte de um dos assaltantes no interior da padaria.
O policial que fez o BO (Boletim de Ocorrência) documenta por escrito que existe contradição entre os dois depoimentos, pois, por preguiça, não entra na padaria. Depois, o dono da padaria, vendo que os policiais estão entrando na viatura, corre para dizer que é preciso recolher um corpo estendido no chão da padaria. O policial, que já tinha anotado os dados, por preguiça, não altera o BO, mas chama o IML.
As interpretações que vemos na Internet são deste tipo, inexato, apressado e preguiçoso.
Outro exemplo ocorre nos fóruns bíblicos, excelentes para se extrair comportamento e níveis de interpretação. Em uma determinada discussão, lemos:
"os reis da época em que se diz que jesus nasceu é muito diferente primeiro em mateus cita herodes que nasceu em 73 ac e morreu 4 antes de cristo e aparece 4 anos depois, em lucas não herodes e julio cesar que tambem não tem nada ver ja ele nasceu em 100 ac e morreu 44 ac"
Vejam a citação a Júlio César. O texto de onde o leitor da Bíblia que escreveu isto cita somente César. César é um título, epíteto, utilizado em vários livros. O leitor leu César, procurou na memória a referência ao nome, e achou Júlio César, um imperador em particular, que de tão notório originou o título. Em russo Kzar surgiu por causa deste César. E daí, montou esta interpretação inexata, sem levar em conta a metáfora feita.
Mas o exemplo a seguir mostra a que ponto a idiotice humana pode chegar:
"Não há quem não fique extenuado com a enfadonha falácia de fanáticos que usam as belezas naturais para justificar a grandeza de Deus. Quando eu nasci tudo isto já existia, portanto, não serve de referência para provar a existência de um criador. "
Acreditem, isto está escrito em um livro "Uma ilusão chamada Deus" de Carlos Alberto Costa. Na própria parte grifada em vermelho, ao dizer que nasceu, ele já deveria compreender implicitamente que ALGUÉM criou o que ele passou a ver. Ele acha que o Criador só começou a agir depois da existência dele como observador. Qualquer físico daria bomba em algo tão barato.
Outro tipo de constatação que demonstra a pobreza de interpretação dos jovens e até de alguns adultos é sobre a serpente que tentou Eva no Paraíso, tradição escrita e tão conhecida. Isto já gerou comentários como:
"Não posso acreditar num livro em que cobras falam"
Ora, um leitor deste tipo não quer se dar ao trabalho de examinar o contexto histórico da afirmação. Se a palavra serpente se referia a uma cobra ou animal que, por ser desconhecido na época da documentação, foi chamado de serpente.
Esta é a confusão que pode surgir de nomes gerais, como camelo. Existe também dromedário. Jacaré, pode ser tanto um crocodilo, um alligator, quanto o leviatã da antiguidade.
Também temos o famoso caso de Pôncio Pilatos. Se o leitor interpretar "lavar as mãos" como realmente jogar um pouco de água e sabão nas mãos e depois enxugar, ele está longe de se tornar um adulto.
Vejam um exemplo extremo, que revela uma abordagem simplista e quase infantil. Tenho vergonha de ter que reproduzir algo deste tipo aqui, mas é necessário para nossa demonstração:
Para que deus criou os virus se foi pros macacos ou pros humanos foi Deus que criou!
Que deus burro fazer doenças em macacos sem pensar que poderia transmitir os vírus ao homem. Deus burro que fez doenças
Vejam a abordagem infantil. Se tanto se fala em ciência, o homem deveria se atualizar. Claro que vírus transferem fragmentos de DNA (código genético) para o homem, melhorando e adaptando o sistema imunológico ao mundo em que vivemos. Da mesma forma, os mosquitos trocam fatores sanguíneos entre os indivíduos, tornando-o mais adaptado ao meio.
Mas se o homem perpetra o ato sexual com um animal, e recebe um vírus destinado à melhora da raça deste animal, e a contaminação é deletéria, a culpa não é da natureza, nem de Deus e nem do macaco. A culpa é do homem.
Estas situações mostram o grau de raciocínio próximo do concreto, e a preguiça de raciocinar. Isto é a transformação da mente pensativa em mente meramente REATIVA. Estamos nos degradando. Estamos involuindo.
Na educação de filhos
Já pensou se toda mãe que ouve o filho entre 5 e 10 anos lhe dizer "eu te odeio" levar esta frase a sério ? Em breve não teremos adultos, e uma multidão de mulheres estará presa por infanticídio.
Antigamente, quando os homens eram honrados, o homem que se casava com uma mulher que já possuía filhos, cuidava destes como se fossem seus. Hoje, além de falarem, sem cansar "não é meu filho, é meu enteado" ou "não é minha filha, é minha enteada", ou "os filhos da minha mulher", ainda tem coragem de violentar as enteadas, ou matar os enteados. Até umas três gerações atrás, o homem já construía uma nova realidade em sua mente, metaforizando "agora são meus filhos".
O Raciocínio Concreto de hoje leva os homens a "deixar claro" para a sociedade, que enteado ou enteada não são filhos. Este tipo de raciocínio é perigosíssimo para a sociedade.
Os Sofistas
As primeiras escolas filosóficas tentavam compreender o mundo ainda impregnadas do elemento religioso. O pensamento e as primeiras tradições para se explicar as coisas viera, do oriente. O maior expoente da filosofia grega, Sócrates, afirmava este valor da religião para a filosofia, e criticava os Sofistas por tentarem explicar a razão das coisas por pura lógica. Ele pregava que o afastamento da filosofia da espiritualidade só serviria para produzir céticos. A "involução" final do cético seria o escarnecedor, e Sócrates alertava para o fato de que isto destruiria a sociedade.
Para se ter uma ideia do modus vivendi dos sofistas, eles foram os primeiros advogados PAGOS. Os efeitos de sua forma de pensar se refletem no estado em que se encontra o par justiça/impunidade no Brasil. São tantas as desculpas e recursos, com argumentos falaciosos, que criminosos perigosos são soltos.
Mas se hoje alguém se levanta e argumenta que lógica é pura razão, esquece que existem costumes na razão que julga outrem ao atentar contra a sociedade. Se esta última existe, e foi formado um comportamento que veio de um direito consuetudinário, e este foi feito lei, então isto significa que nossos vínculos de sociedade, que incluem crenças também devem ser levados em conta. E os Sofistas talvez chamassem isto de Sofisma Social. Mas qual o problema, se esta também é a tática deles. O que observamos é que quanto mais o homem se afasta das crenças religiosas, maior precisa ser a grossura dos compêndios jurídicos.
Segundo Radamés Manosso, o Sofisma é um enunciado falso que parece verdadeiro numa compreensão superficial. Percebe-se o Sofisma quando não existe a aplicabilidade dos argumentos ao verdadeiro contexto da Verdade que inspirou o enunciado. A forma mais primitiva de Sofisma seria ignorar completamente uma metáfora, encarando a coisa colocada como uma verdade literal.
Um exemplo é o "Faça-se a luz" do livro de Gênesis na Bíblia, texto que os leigos interpretam como a luz produzida por corpos incandescentes, como o Sol. O argumento concreto é de que a Luz não poderia ser feita antes do Sol, que só apareceu no terceiro dia. Isto é um raciocínio concreto, que ignora a lógica e os valores judaicos, ou seja, ignoraria a metáfora. Para eles e os antigos que saíram de correntes monoteístas, Deus já era a Luz. Para a interpretação factível pelos gregos, Deus já era o Verbo.
Estes exemplos se prestam mais à situação por estarem em um contexto em que as metáforas eram muito mais utilizadas. O Ocidental foi abandonando o seu uso. O humor ocidental era repleto de metáforas, mas foi abandonado em função do humor visível, através de vídeos, pois estão muito mais próximos da forma de pensar atual. Hoje, tudo é visual. O gosto pela leitura caiu drasticamente.
Semiótica
A Semiótica é a ciência dos sinais, ou seja, a representação dos valores por símbolos. Isto é fundamental para que o indivíduo possa, por meio do que já conhece, dar significado ao que lhe é apresentado. Ela lida com conceitos e ideias. E quando estas são abstratas, a dificuldade é bem maior.
Vamos supor o aluno de Legislação em uma Auto-Escola (ou Centro de Formação de Condutores). O instrutor lhe apresenta a placa com o símbolo de proibido estacionar (um "E" cortado por um traço vermelho). Ele vai precisar interpretar dois simbolismos: (1) A letra "E" como um significando da palavra Estacionar e (2) o traço diagonal vermelho (significando) indicando (significado) proibição.
Estas duas interpretações apresentadas, envolvem o Raciocínio Cognitivo. Mas a interpretação da Placa pode ser considerada semi-abstrata. Vamos examinar uma entidade abstrata e seus significados e significandos. Vamos examinar a Autoridade (significado). Quais os significandos de Autoridade ? Pode ser o pai (primeira por excelência), a mãe, o presidente da República, o Governador, o Prefeito, etc. Mas existe um menos palpável, e por isto esquecido: A Lei.
A Lei não é uma pessoa. Ela está contida num compêndio, no caso Brasileiro, composto pela Constituição, Código Civil e Código Penal, além de alguns tantos Estatutos (da criança, do idoso, do consumidor).
Para os praticantes da Lógica Concreta, a Lei seria algo difícil de se perceber. A Lei é a essência da Autoridade e, erroneamente, as pessoas tomam o guardião da Lei, ou seu representante (Presidente, Governador, Prefeito, Policial) como a Autoridade, e isto não é verdade.
É este o nível de abstração que se exige de um adulto. Neste ponto, regredimos como pessoas.
O que aconteceu ?
Mas quais as explicações para a queda da capacidade de raciocínio ?
A discussão a nivel mundial implicaria em analisar usos e costumes de cada país, sistema educacional e impacto da tecnologia. Vamos nos ater ao Brasil.
A Reforma do Ensino anterior aos anos 70 retirou o ensino de grego e latim das escolas. O ensino do grego facilitava a correta colocação dos termos gregos no contexto filosófico em que foram concebidos. Já o latim, pelo uso de prefixação e sufixação para flexão, forçava o raciocínio dos jovens, e eles tinham que dedicar mais horas ao estudo desta língua para dominá-las. O latim é quase uma língua matemática. Pois bem, retiraram as duas.
Na matemática, as demonstrações verbais de teoremas geométricos também foram reduzidas. Ora, estas demonstrações, além de mobilizar mais permanentemente a memória, desenvolviam a disciplina para se expor sequências de raciocínios. A régua de cálculo, instrumento que precedeu a calculadora eletrônica, exigia uma quantidade razoável de memória humana, para a manipulação das casas decimais, desenvolvendo a mente de quem trabalhava com ela (e nesta época os prédios não caíam).
Com estas alterações, aluno não precisava estudar mais tanto tempo. Menos tempo de estudo, mais ócio intelectual. Mas a explosão de tecnologia dos anos 80 acabou de "reformar" o ensino e a rotina dos alunos de vez. Computadores ajudaram a memória e os centros de raciocínio humano a relaxarem. O resultado: mentes preguiçosas. E com os programas úteis vieram os jogos e redes inúteis (para desenvolver raciocínio). As mentes foram abduzidas pela máquina.
As redes sociais tem o potencial de abduzir seus usuários e nivelar os raciocínios pela média. Então a média vira o parâmetro de conhecimento. Não é novidade para ninguém a proliferação de besteiras e falsas verdades na Internet. Jovens se cercam das verdades que eles CONSEGUEM CAPTAR. Se não conseguem, reputam as mesmas como mitos e inverdades. Isto é melhor explicado no artigo "Diagnóstico do Início do Século XXI". Mas isto só perdura até o momento em que o jovem entra no mercado de trabalho, no entanto, os níveis de sofrimento para queda de suas falsas convicções são variáveis em intensidade e em novas consequências.
O mundo visual, o crescimento dos recursos midiáticos, REDUZIU drasticamente a capacidade das pessoas de produzirem símbolos não visíveis em sua mente. Se algo não puder ser representado em um vídeo do Youtube, dificilmente será aceito.
Imaginem o caso da divindade, expressão abstrata de último nível. Impossível. Deus não pode ser filmado em uma entrevista. Portanto, nunca poderá ser aceito sem ser visto.
O ser humano precisa voltar a procurar maneiras de representar as entidades abstratas em sua mente, e isto só se adquire por meio da leitura, pois ela estimula a produção de significandos mentais para as ideias apresentadas no mundo em que vivemos.
Bernardo, grande comentário exatamente o que penso,infelizmente os jovens e a maioria dos adultos estão alienados (os que podem) ao conforto dos que no passado inventaram, construiram e aí por diante, estamos vivendo em uma sociedade em que valores sociais,morais,civicos,intelectuais se perderam,por isso temos que ouvir, uma pessoa sem conhecimento algum, querer abordar relatos "BIBLICOS" com tamanha falta de conhecimento, é mais um pobre coitado que na verdade quer daqui a pouco escrever um livro, para tambem se aproveitar dessa falência de conhecimento desta geração e vender porcaria, mal sabe ele que o maior escritor que já existiu ou vier a existir, jamais superará a "BIBLIA" é uma pena que ele, ainda se é que está lendo para interpreta-la não entendeu nada...mas ainda acho que é um aproveitador, mas vou orar por ele. Um abraço de Leonel Luy/Pr
ResponderExcluirO que eu vejo de comportamento cultural em pontos de ônibus, em filas e dentro do ônibus é o celular. As trocas de ideias entre nos jovens viraram um "ce viu isto" ou "ce viu aquilo", aquele filminho, aquela figurinha no Watsap.
ResponderExcluirOpinião idiota como essas que tão escritas nesse texto tem de montão. Tem gente mais velha que tá influenciado por estes novinhos. Essas turminhas de meninos de Shopping deram pro modismo de ateus. Se acham. Só pensam em boné e festas (as MOVIs). Tem Deus prá eles não.
Mas adulto entrar na dos jovens é demais. E também ficam olhando prás novinha, prá vêr se conseguem sair com elas, pois estão todas muito bandidas.
Não sei se é por causa do Mercado Livre, ou das Americanas, ou do churrasco todo fim de semana, mas tô vendo que tá todo mundo ficando muito burro mesmo.
ResponderExcluirEu leio cada besteira comentada, seja em notícia, seja debaixo dos filmes do Youtube, que dá dó.
Os livros de lógica, tão consultados quando os computadores chegaram nas lojas, e todo mundo queria aprender a manusear, foram substituídos pelos de auto-ajuda, com verdades instantâneas.
A estupidez tem aumentado tanto quanto o consumo.
Até Tarcísio Meira, macaco velho, teve o desplante de afirmar numa entrevista que só acredita no que vê. E, no entanto, se diz espírita. Pensei que era um pouco mais evoluído, mas se revelou um medíocre, porque foi influenciado por esta época do tudo fácil, tudo a mão, imediatista e consumista.