sexta-feira, 16 de junho de 2017

Visão dual da Realidade e amadurecimento por parâmetros - Redes Neurais

Em nossa infância de pensamento, tínhamos uma visão simples das coisas. Uma coisa ERA ou NÃO ERA. Esta é uma expressão do básico 8 ou 80.

Pensamentos primitivos

Quando começamos a aprender, em tenra idade, nos acostumamos, pela nossa limitação, a ver as coisas sob o ponto de vista dos extremos:


  • Branco ou preto;
  • Quente ou frio;
  • Grande ou pequeno;
  • Doce ou salgado (opostos não necessariamente técnicos);
  • Alto ou baixo;
  • Cheio ou vazio;


Esta é a abordagem mais simplista, pois a mente de uma criança lida facilmente com estes parâmetros.

Meio termo

Mais tarde, lá pelos 5 ou 7 anos, percebemos que existe um mais ou menos. Isto é evidenciado, por exemplo, na hora de colocar um suco em um copo de plástico, ou mesmo na hora de pegar nas mãos este mesmo copo.

Observe uma criança, ao pegar na mão, pela primeira vez, um copo de plástico. Ela aperta o copo, de tal forma que o comprime, a ponto de forçar o líquido para fora do copo. Por que isto ocorre ?

A preocupação de quem precisa "agarrar" um objeto, à primeira vista, é apenas a de alcançá-lo, e utilizar a força para que ele não caia de nossas mãos. Uma criança, em sua relação com a Realidade, baseia suas ações (nesta fase são mais ações do que raciocínios), imprime o máximo de força para agarrar os objetos. Quando for capaz de compreender o pai e a mãe, poder-se-á dizer à criança:

"Você não precisa segurar o copo com tanta força !"

A criança ainda vai cometer o erro de apertar o copo, a cada vez que lhe for dado um suco ou refrigerante, muitas outras vezes, até que desperte a consciência motora de sua mão, e comece a ajustar a força impressa em relação ao copo.

Algo parecido ocorre com a pessoa que está aprendendo a conduzir um automóvel, na auto-escola. No início do aprendizado, o instrutor pede que ela pressione o pedal de freio para interromper o movimento do veículo. Diante desta ordem, o aluno pisa no pedal do freio com toda força. O carro pára bruscamente, a ponto de o motor "morrer". Então, o instrutor começa a ensinar que o freio deve ser pressionado com uma atenção tal que o candidato a motorista procure "sentir", com os pés sincronizados com os olhos, o veículo ir interrompendo, aos poucos, o movimento.

O que foi explicado se resume a uma expressão: AJUSTE FINO. devemos dosar a nossa força em pequenas quantidades crescentes, até observar o efeito desejado. Tal controle se aplica à força utilizada para fechar a porta da geladeira, fechar a porta do carro, chutar uma bola para chegar aos pés de um colega em um jogo de futebol e lançar a bola de basquete na cesta.

Redes Neurais

O Ajuste Fino a que nos referimos, que regula a nossa força muscular, é estabelecido em nossas redes nervosas, com o recrutamento de novos neurônios, que se colocam entre os já existentes, distribuindo os impulsos nervosos, de forma a moderar nossas ações.

Se existisse apenas um neurônio sensor, e um neurônio atuador, o efeito observado para, por exemplo, a reação do tato ao copo de suco, realmente nós amassaríamos o mesmo como foi explicado.

Quando se aumenta o número de sensores (sensores de tato, por exemplo), e se coloca uma camada intermediária entre eles, existe uma modulação que regula a intensidade do impulso oriundo dos sensores:


Nossa pele está repleta de sensores de tato. Quando o indivíduo se educa para prestar a atenção às sensações que procedem de suas mãos, ele abre a sua Rede Neural primária ao surgimento de novas células nervosas e novas ligações, que vão moderando as suas percepções e as suas ações.

É exatamente desta forma que um atleta vai, através de treinos sucessivos, regulando suas redes nervosas, para possibilitar a execução de movimentos mais complexos.

O desligamento dos absolutos

O mesmo ocorre no terreno do raciocínio lógico, em que, no princípio da avaliação, as pessoas definem uma regra.

Vamos dar o exemplo das decisões judiciais. Em termos primários, se uma pessoa mata a outra, é condenada a 30 anos de prisão. Os juristas, no entanto, devem ser razoáveis, analisando os fatores que podem influenciar no contexto de um homicídio. Temos a legítima defesa, temos a premeditação, temos o homicídio executado a mando, onde o matador foi pago, e quem realmente tem a culpa é o mandante. Temos o homicídio por disparo acidental, por troca de tiros entre a autoridade policial e os meliantes, etc.

Na avaliação de um contexto, deve-se estabelecer critérios, com valores para os parâmetros, modulando-se os efeitos conforme as causas.

Um exemplo

No caso do homicídio, teríamos:

  • Intenção (o ato foi planejado, deliberado, desejado);
  • Grau de participação (executor, mandante, apoiador);
  • Grau de perversidade (a tiros, a faca, enforcado, queimado, decapitado, esquartejado);
  • Proximidade (parente, vizinho, professor, namorado, cônjuge);

A cada um foi dado um valor de entrada, segundo as seguintes tabelas:

Intenção

1Seguir para catalogar os hábitos
2Esboçar plano para matar
3Ter lista de matadores para o serviço
4Ter o matador, a arma e a munição, local, data e hora
5Matar por vingança pessoal
6Matar por vingança de terceiros
7Matar por inveja
8Matar por motivo fútil
9Matar por prazer

Grau de Participação

1Apenas efetuou a compra da arma
2Apenas serviu de motorista
3Apenas serviu de olheiro
4Deu acesso ao local do crime
5Rendeu a vítima
6Ajudou a torturar a vítima
7Atirou na vítima

Perversidade

1Matar a Tiro
2Matar a faca
3Esfaquear e deformar as feições
4Esquartejar e queimar as partes

Proximidade

1Desconhecido da vítima
2Ex-empregado da vítima
3Parente não filho(a) nem cônjuge
4Filho da vítima
5Ex-cônjuge da vítima
6Pai/mãe da vítima

Sob estes parâmetros, podemos fazer a seguinte Rede Neural ilustrativa:



A saída da Rede, resultado dos cálculos, será a pena em anos de reclusão. Vejamos então um caso, para ilustrar o uso desta rede simplificada.

Para dar a pena a um indivíduo que esboçou o plano para um homicídio (julga-se os criminosos, e não o crime), mas apenas serviu de motorista no ato, não participando do ato criminoso, e sendo completamente desconhecido pela vítima, teremos os seguintes valores para aplicar na rede:

Intenção: 2

Participação: 2

Perversidade: 0

Proximidade: 1

Façamos os cálculos, até antes da camada do meio da rede (nós laranjas)::

2 x 0.8 + 2 x 0.4 + 0 x 0.9 + 1 x 0.7 = 3.1

Apliquemos à camada laranja, denominada camada invisível de uma Rede Neural, desconsiderando qualquer equação que regule o limite de disparo dos nós.

1º nó laranja:

3.1 x 0,1 = 0.31

2º nó laranja:

3.1 x 0.2 = 0.62

3º nó laranja:

3.1 x 0.35 = 1.09

4º nó laranja:

3.1 x 0.45 = 1.4

5º nó laranja:

3.1 x 0.5 = 1.55

Somando os valores, para obter o output, ou seja, o número de anos da pena:

0.31 + 0.62 + 1.09 + 1.4 + 1.55 = 4.97

Ou seja, a pena para o meliante que fez este papel no homicídio é de 4.97 anos, ou seja, 4 anos, 11 meses e 19 dias.

Redes Neurais

O princípio de aplicação de parâmetros é fruto de um amadurecimento. É o desligamento dos absolutos, e o reconhecimento de que existem parâmetros crescentes na ordem da intensidade de influência destes parâmetros.

Este é o próprio princípio de funcionamento de nossas redes neurais biológicas no arrazoamento das questões presentes na realidade.

Conclusão

Não podemos tomar nossas decisões baseados em extremos. Precisamos dissecar um contexto em seus componentes e quantificá-los, um a um, em ordem de importância, para obtermos resultados corretos na avaliação dos problemas que encontramos, para sermos não só técnicos, mas justos.



















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