sábado, 10 de novembro de 2012

Quebra do cotidiano, consciência e memória

Já temos falado de:

Rituais na Construção e Manutenção da Identidade

Mau humor de fim de semana

O ser humano máquina

No inconsciente coletivo estão os reflexos da Revolução Industrial que perdura até hoje. Mas um agravante se apresenta desde o advento da Internet: a Revolução Digital. Enquanto a primeira "sequestrou" o corpo, a segunda vem "sequestrando" a mente. E uma vez sequestrados, estamos em uma situação de "consciência no limite".

Através da Revolução Industrial estamos sendo tornados aptos a experimentar os limites extremos. Extremos de velocidade, extremos de profundidade com as minas cada vez mais profundas, extremos de altitude com prédios altos, trânsito em aviões, extremos da ciência e tecnologia que levaram à Revolução Digital.

Através da Revolução Digital, estamos sendo levados aos extremos da informação. Esta afeta diretamente a consciência. Somos levados, hoje, a saber o que está ocorrendo no mundo todo, via YouTube, via Google,  via jornais digitais, e o que é pior: a cada segundo. Se uma informação cai na rede, já está visível para todo o mundo (com exceção da China).

Desta forma, nós fomos colocados na rede. Fomos absorvidos pela "MATRIX" do filme que se tornou tão notório. Viramos parte da máquina. Achamos que se não soubermos de determinada coisa sobre a qual se está falando, estamos excluídos. Pela rede, funcionando assim on-line como está, temos a nossa consciência aumentada.

Consciência aumentada e memória

Mas a consciência aumentada apresenta seus prejuízos. Para nos mantermos conscientes, um determinado conjunto de processos mentais deve estar funcionando, para sermos considerados seres que estão prestando a atenção ao seu estado presente a cada segundo. E o cotidiano é uma forma de tratamento destes processos mentais que possibilita à mente funcionar com a menor quantidade de energia. Como tudo é repetido no cotidiano, já o fazemos de forma automática, sem esforço. Com a consciência aumentada, mais processos vem dividir a nossa atenção.

A sucessão de dia e noite, como um ritmo lógico-mental, é como um relógio que possibilita refrescar e realimentar a nossa memória. Talvez 24 horas seja o tempo do ciclo mais perfeito para ritmar a nossa vida, sem permitir que, no final do dia, esqueçamos de tudo o que se passou ao longo do mesmo.

Todos os nossos processo mentais precisam trazer informações para a memória de curta duração, no momento em que elas são necessárias. Podemos até definir Consciência como:

Estado mental de uso constante da memória de curta duração

Memória de curta duração

Estado natural da Memória de Curta Duração


Suponhamos que você precisa se lembrar da senha de sua conta bancária. O cérebro terá que trazer esta informação para a memória de curta duração, até porque você poderá optar pela troca desta senha. Ora, no indivíduo que está neste estado de consciência aumentada, pelo uso frequente dos recursos digitais da atualidade, a memória de curta duração está "apertada". Ali não está cabendo mais nada, mas você precisou de um espaço, mesmo pequeno, para utilizar AGORA.

Estado natural da Memória de Curta Duração na Consciência Aumentada
Ambas as figuras podem ser entendidas em termos de quantidade de energia utilizada pelo cérebro para manter cada processo citado.


Existe portanto a possibilidade de nossa memória falhar.

No caso de uma nova tarefa ou processo ou situação que saia completamente do cotidiano, podemos dizer que, na primeira vez, a não ser que você cole um papel na frente dos olhos, ou amarre um cordão no dedo, ou coloque um peso nos pés, a nossa memória FALHARÁ.

A este fenômeno daremos o nome de Quebra do Cotidiano

 Um exemplo é o caso do pai em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, que deixou a filha dentro do carro, porque, naquele único dia, estava levando a filha de 10 meses para a escolinha. Outro é o do detento que, quase no final da pena, comete um crime dentro da penitenciária, para não sair, pois já se acostumou aquela vida.

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