segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O que o Respeito à Autoridade faz no Cérebro

Desde os anos 70, o Respeito à Autoridade tem caído vertiginosamente. Nesta década começou, notadamente nos Estados Unidos, um movimento de anarquia, porém com contornos de algo organizado, com expressão aberta e coberta pela mídia, que iria atingir o mundo todo.

A rebeldia da juventude sempre foi um traço social de fundo biológico, quando o Cérebro ainda está em formação e não possui seu Centro de Planejamento suficientemente desenvolvido, para afastar as pessoas dos perigos mais explícitos.

Mas até os anos 1970, esta rebeldia era refreada através da força paterna e materna, notadamente a física. No entanto, a Psicologia começou a questionar o uso desta força, dirigindo a energia dos pais para o Diálogo.

Expressar

O Diálogo abre o terreno para os jovens imaturos se expressarem, e obterem as explicações do porquê não devem fazer determinadas coisas antes de serem satisfeitas determinadas condições. Diálogo é a colocação dos anseios, pelo lado que conhece pouco, e das cadeias de CONsequência, pelo lado que conhece mais, o lado da Autoridade.

Autoridade

A Autoridade conhece mais, e alias DEVE conhecer o suficiente para construir regras. As Regras não podem ser também estáticas, pois sobre qualquer Regra diversa existe a soberana Regra do Tempo. O Tempo passa e exige adaptação, pois os contextos mudam.

Se uma prerrogativa da Autoridade, pelo seu maior conhecimento, é a de fazer as Regras e fazer com que sejam obedecidas, também ela tem o dever de estudar continuamente a alteração do contexto que originou estas regras, para que obedeça ao soberano Princípio do Tempo que passa.

O Jovem, passageiro do Tempo

O Jovem vem empurrado pelo tempo. Alguns são tão rebeldes que parecem mais os ponteiros do Relógio do Tempo. E como ponteiros, não conseguem observar o tempo, e estão sempre embarcando no novo, sem observar para onde ele vai, e nem para que ele serve. Desta forma, ele está sempre imaginando que em outro lugar, ou agindo em antagonismo puro e simples aos pais, ele vai ser mais feliz.

E como se fosse um passageiro do tempo, o jovem também imagina que vai viver pouco, pois a extensão de seus poucos anos de vida não lhe dá elementos conjunturais para ter a noção de que estes anos que já viveu podem se projetar em muitos outros Então ele precisa viver com intensidade cada dia.

E o que pode dar a este jovem a noção de que o Tempo pode ser durável ? Freios psíquicos. Se um veículo diminui a velocidade, o caminho é percorrido em um tempo maior. E de que se constitui estes freios psíquicos ? De ordens e regras. E quem dá estas ordens e estipula as regras ? Uma Autoridade. E quem são as primeiras autoridades na vida do jovem ? Os seus pais.

Uma história de "NÃO PODE"

Vamos desenhar aqui, por meio de uma narrativa, uma situação que mostra o papel da autoridade, que dá os fundamentos fisiológicos da autoridade no cérebro e que demonstra o efeito saudável do NÃO.

Esta é o caso simples de um menino que ganha uma Pipa, no fim da tarde, de um tio. Como menino, ele pensa de forma precipitada. A pipa serve para ser empinada. Com ela na mão, o menino já vai saindo pela porta a fora, para fazer aquilo para o qual essa lhe serve: empinar a pipa no vento.

Mas no caminho ele é interceptado pela mãe. Esta lhe explica que já está ficando escuro, e ele não vai ver a pipa direito no céu, e esta é capaz de se perder engastada em alguma copa de árvore, em algum alto de prédio, pois a pouca luz não permite um controle satisfatório do caminho para onde ela vai, levada pelo vento.Esta é a primeira barreira entre a pipa dada e o divertimento que ela proporciona. Conformado, ele entra em casa, e para onde vai sua amiga pipa o acompanha.

Em estado de enlevo, o menino dorme abraçado com sua paixão do momento.

Nasce o novo dia, e o garoto já corre pela casa, para ir empinar a sua pipa. Novamente, a mãe o intercepta com uma nova REGRA. Ele não pode sair sem tomar café. O ansioso garoto coloca a pipa na cadeira do lado, no seu lugar à mesa, e come um pouco de pão e suco. Mal limpa os cantos da boca com o braço e já levanta com a pipa em direção da rua. Novamente a mãe o intercepta.

"Que foi mãe ?"

A mãe explica que descalço e de pijama ele não pode ir para a rua. A contragosto ele larga a pipa, coloca o chinelo, tira o pijama e põe sua roupa de guerra. Um pouco ressabiado, ele prefere perguntar do que passar mais uma vergonha:

"Agora posso ir ?"

E a mãe:

"Só depois de escovar os dentes".

 E lá vai o menino para o banheiro, muito chateado. Acabada mais esta ETAPA, ele pega rapidamente a pipa e sai correndo, antes que tenha que fazer mais alguma tarefa, para merecer o prazer que lhe espera lá fora.

Efeitos Educacionais

Percebam, através do diagrama, a multiplicidade de Princípios de Preservação Individual. Nas ordens da mãe estão Princípios de Higiene, Proteção Física do Corpo e Manutenção deste, através da Alimentação antes do dispêndio da Energia. A mãe não educa o menino colocando-o sentado à sua frente, e ministrando estes princípios como uma disciplina formal. Ela faz "Educação de Campo", ou seja, educa nas situações limite, isto é, na iminência de algum dano sobrevir ao seu filho.

Pré-conclusões

O que podemos tirar deste quase suplício, uma verdadeira corrida de obstáculos psíquicos até que o menino chegue ao seu propósito ?

Algumas palavras foram enfatizadas nesta narrativa. A primeira foi REGRA. A Regra não é simplesmente um capricho. A Regra é uma expressão de CONsequência. No momento em que ganhou a pipa, houve uma Regra Temporal. Ao fim da tarde, quando já está escurecendo, temos uma condição limitante para quem pretende empinar uma pipa. Qual a graça de não ver direito a pipa alçando seu vôo ? Como direcionar corretamente este objeto, sem conseguir vê-lo direito, pelo fato da pouca luz não favorece o seu controle ?

E quando esta palavra (REGRA) aparece, passamos por algo que quase passa despercebido: a ESPERA. Não falamos de Tempo ? O garoto teve que esperar a noite inteira, talvez sonhando com o ato a ser perpetrado, para satisfazer a sua vontade iminente. Então podemos passar para a segunda regra..

Em nome da saúde, o garoto deve se alimentar. Temos mais uma relação de CONsequência. Se não estiver alimentado, o menino corre o risco de ficar só um pouco na sua brincadeira, parea voltar devido a uma fome intensa. Não se deve fazer atividades sem se alimentar, após passar horas de sono, de estômago vazio.

Depois vem duas novas CONsequências. Sem roupa adequada e sem estar devidamente calçado, nem uma brincadeira pode ser adequada. O pijama vai ser novamente utilizado à noite, e sujo não seria nada agradável. E descalço um menino, de natureza desvairada e hedonista, pode pisar numa pedra, num caco de vidro, num fio elétrico desencapado e dai dar o maior trabalho aos seus pais.

As autoridades, no caso os pais, estabelecem Regras para evitar os males e proporcionar o aproveitamento máximo do tempo, mesmo parecendo que este tempo vai ser desperdiçado. Para o menino, as Regras são como barreiras, e veremos que, biologicamente, ocorre quase isto.

Efeito fisiológico

Quando dissemos que "as Regras são como barreiras", nos expressamos metaforicamente, mas profundamente apoiados em algo já evidenciado no estudo da formação de Redes Neurais. Se pela vontade do garoto, havia uma curta distância entre a Pipa e a Rua (local do divertimento e dos ventos que empinam o artefato de papel). Com as Regras e princípios fornecidos e explicados pela mãe, este curto caminho para a realização do desejo infantil se transformou num percurso mais elaborado, onde cada Regra é estabelecida biologicamente como uma pequena Rede de Neurônios, responsável pelo balanceamento de cada fator, antes que o objetivo pudesse ser alcançado.

E, realmente, o papel da educação pelas Regras é colocar novos pontos de checagem e etapas em nossos comportamentos, para minimizar as possibilidades de erros. Quanto mais o indivíduo planeja e avalia suas atitudes, mais capaz de viver socialmente ele se torna.

Em nossa fisiologia, a educação tem o papel de ser a construtora de Redes Neuronais cada vez mais complexas, minimizando o risco de nos tornarmos voluntariosos, inconsequentes, precipitados e finalmente fracassados.

Em um adulto, a síndrome do menino com a pipa se compararia a alguém que começa um negócio sem ter o dinheiro necessário e sem fazer um planejamento.

Conclusão

Concluímos facilmente que a educação e a noção de CONsequência só podem ser fornecidos por terceiros, que tenham um maior conhecimento que a pessoa que está sendo educada, que conheçam as diversas Regras que envolvem as diversas situações comuns da vida. À esta pessoa, que tem estas características, damos o nome de AUTORIDADE.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A Natureza filosófica da Reflexão

Os perigosos pensadores populares que tentam se fazer nas Redes Sociais, com discursos sem embasamento nos verdadeiros filósofos, concordando sempre que tanto um lado como o outro de uma questão estão certos, cada um a seu modo, espalham teorias superficiais, para vender livros e ganhar "likes", com o objetivo de autopromoção.

Um dos terrenos que exploram é o o do autoconhecimento, cujos numerosos caminhos, como dizem, podem levar o indivíduo à sua própria essência.

O que é Reflexão segundo John Dewey

John Dewey, como citamos no post anterior, foi um filósofo americano, cuja obra mais importante "How We Think" (como pensamos) explora extensa e profundamente a natureza do pensamento, meios para se pensar corretamente e para evitar conclusões erradas.

Segundo está registrado nesta obra,

"Reflexão não envolve simplesmente uma SEQUÊNCIA de ideias, mas uma CONSEQUÊNCIA das mesmas"

Esta CONsequência (olhando além do significado comum Causa/Consequência) é uma ORDENAÇÃO consecutiva, de forma que cada Termo/Entidade/Fato constituinte determina o próximo pela própria lógica intrínseca apresentada e aparente no Contexto que está sendo examinado, e justifica, ao mesmo tempo o seu Predecessor na mesma lógica.

Cada fase desta CONsequência é um Passo coerente que anda de UMA coisa para a OUTRA, ou tecnicamente um TERMO DO PENSAMENTO. Cada Termo deixa uma evidência Clara ou Implícita do próximo.

O melhor exemplo são os episódios típicos dos acidentes que ocorrem no trânsito.

Acidentes e Cadeias de CONsequência

Os acidentes de trânsito tem como espaço de ocorrência as Ruas e Estradas. O próprio contexto já prenuncia os acidentes. O cerne da ideia de Acidente está em dois tipos de ocorrência:

Condução indevida - O motorista desrespeita os princípios do desgaste das peças ou as Regras de Condução;
Dano próprio - Um dano interno provoca o descontrole do veículo;
Choque - Um veículo se encontra com o outro em um ponto, descarregando a energia cinética de ambos;

Quando as peças se desgastam ou se rompem, por defeitos de fabricação, pelo tempo ou intensidade de uso, temos os Danos próprios. Quando as vias se cruzam, temos um local propício para encontros, e portanto podem ocorrer os Choques. Quando a conveniência do indivíduo se sobrepõe às regras coletivas, ele vai caminhar na direção da desobediência das Regras de Condução.

Para produzir uma constante lembrança de que existem Regras, e de que podem haver Choques, tanto as ruas quanto as estradas tem Placas de Sinalização. Portanto, a todo momento o Condutor está sendo bombardeado com uma mensagem subliminar e contínua:

EXISTE LEI. EXISTE LEI. EXISTE LEI. ...

Seu cérebro é colocado em uma linha rítmica, onde cada Placa de Sinalização é um Toque monótono periódico que estabelece uma "música" de segurança.

Placas e CONsequência

Se uma Placa sinalizadora avisa "curva fechada à direita", tal curva aparece à frente. Se anuncia "declive acentuado", o mesmo aparece em seguida. Já a placa de animais na pista pode ou não oferecer o aparecimento dos mesmos, mas internamente o Cérebro diz:

"Não apareceu, mas poderia ter aparecido"

Aqui a CONsequência existe na forma de uma Probabilidade, de uma Possibilidade, e a cadeia de CONsequência não é rompida. Isto é bem diferente das Sequências rígidas e bitoladas do ensino comum e não flexível.Uma mente imatura poderia ter o seguinte julgamento:

"Se a placa avisou, mas não aconteceu, as placas não são confiáveis"

Portanto, CONsequência no sentido que queremos capturar para nossa ideia de Reflexão é mais do que

AQUILO QUE ACONTECE

ela é melhor expressa por

AQUILO QUE PODE ACONTECER

E num sentido Técnico:

AQUILO QUE POSSUI UMA PROBABILIDADE, PEQUENA OU ELEVADA, DE OCORRER

A Reflexão do homem comum

O Homem comum, sem disciplina de raciocínio, se baseia muito no que vem ocorrendo, no SEMPRE FOI ASSIM. Por exemplo, passam oito anos de seca. O homem desta espécie diz para si mesmo (reflete):

"Não vai mais chover"

Já o homem de mente disciplinada nos corretos ditames da Reflexão diz:

"Não tem chovido, mas há uma possibilidade de chover, mesmo assim. A probabilidade tem diminuído, mas mesmo assim ela existe"

Na antiguidade, muitos erros foram cometidos por esta falta de uma visão de que havia a possibilidade daquilo que tinha pouca probabilidade de acontecer vir a se tornar realidade. Usando a lógica dos antigos, que não admitiam possibilidades fora dos dogmas e daquilo que se podia ver, jamais conseguiríamos cogitar a existência dos neutrinos, dos bósons e de outras partículas constituintes da matéria.

Se nossos instrumentos de detecção e medida, óticos ou magnéticos, dizem NÃO para a existência de ALGO necessário para tornar verdade nossas equações ou teorias, ainda devemos crer que este ALGO pode existir. O que ocorre, nesta situação é a inadequabilidade das ferramentas de que dispomos no momento.

Conclusão

Ao analisar CONsequências, ao fazer a correta Reflexão, o homem deve colocar uma pequena Incerteza nas Sequênbcias de acontecimentos que podem lhe parecer certos ou previsíveis. Ele deve pensar no que é comum de ocorrer entre um Termo do Pensamento e seu sucessor, sem esquecer mesmo das possibilidades mais remotas.


domingo, 26 de novembro de 2017

Como pensamos - Pensar e Pensamento

Extensa é a lista de filósofos tradicionais que deixaram trabalhos recomendados por nossos professores como sendo os pilares para a nossa formação, dos quais citamos os mais famosos:

  • Sócrates;
  • Aristóteles;
  • Platão;
  • John Locke;


No entanto, um filósofo americano foi esquecido, talvez por ser mais recente, ou porque simplesmente não foi compreendido, ou por ser propositalmente retirado da lista dos mais elegíveis para estudo. Sua obra mais notável é "HOW WE THINK" (Como pensamos).de 1910.

O período de 1880 a 1940 foi dos mais férteis em termos de produção de teorias que sustentam o progresso científico que temos hoje. Os homens daquela época sabiam criar ideias sem ter os avançadíssimos laboratórios de hoje para fazer suas experimentações. E mergulhar dentro do próprio pensamento para tentar decifrá-lo é realmente um prodígio.

Vejamos o que este filósofo tem a dizer sobre PENSAR e PENSAMENTO.

Pensamento

Vejamos o que John Dewey diz sobre o Pensamento, no sentido de algo que mobiliza a nossa mente por um tempo. Quando este tempo de mobilização é muito curto, estamos encarando Pensamento como algo fugaz, dispensável e até fútil. Pensamos, neste sentido, por exemplo, sobre um presidente do país cujo nome foi citado em conversa, lembramos de seu rosto e pronto. Este pensamento acaba no rosto e continuamos a conversar ou pensar no que estávamos fazendo.

Já o Pensamento como atributo/dom do ser humano é algo um pouco mais demorado, onde estão incluídos uma linha de tempo e um conjunto de causas e efeitos. Este é o Pensamento real disciplinado.

O leigo chama de Pensamento tudo aquilo que lhe venha à mente, mas existe esta diferença aqui apresentada. Poderíamos chamar este "tudo aquilo" de "flash de pensamento".

O real pensamento tem uma natureza VIRTUAL, ou seja, algo que nos é apresentado, mas que não vemos, não ouvimos não cheiramos ou não provamos. Se pudéssemos fazer um destes atos, o Pensamento seria algo concreto, e sobre o que é concreto não precisamos construir um pensamento, pois a coisa já existe por si só e já está resolvida.

Suportes do Pensamento

Um pensamento pode se apoiar em lembranças, um conjunto de entidades apresentadas ou num conjunto de fatos ou crenças. Dos fatos não se discute, pois são objetivos, conhecidos e disseminados, salvo defraudações. Já sobre as crenças podemos dizer que são como um produto secundário. As Crenças repousam em alguma espécie de evidência ou testemunho. A Evidência pode ser objetiva ou fruto de dedução. Já o Testemunho se baseia em Registro histórico ou de tradição. E aqui da Tradição estamos excluindo dogmas posteriores ao estabelecimento das tradições.

Não devemos diferir Registros ou Testemunhos de hoje daqueles efetuados no passado. As pessoas de hoje tendem a dar mais crédito aos fatos registrados desde o advento da Imprensa do que aqueles que lhes são anteriores. No entanto, atualmente, encontramos mais mentiras nos registros de fatos recentes do que nos de fatos passados, pois entraram em cena os financiadores da Imprensa escrita, notadamente na Imprensa televisada. Portanto, devemos ter cuidado com as fontes das quais tiramos os fatos em que nos baseamos.

E o que é Pensar

Pensar é colocar os Fatos, Crenças, Evidências e Testemunhos em uma balança de quatro pratos, procurando as suas associações segundo escalas de valores e respeitando a linha de tempo em que cada um deles ocorreu, medindo a credibilidade de suas fontes.

Conclusão

Como o objetivo deste artigo é só diferir Pensar e Pensamento, não vamos fazer digressões mais longas. Pretendíamos também apresentar o Pensamento segundo as ideias deixadas por John Dewey.

Nos próximos posts falaremos mais sobre as ideias deste filósofo esquecido.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O Hipocampo e nossa ideia de espaço - (Space Mapping)

Nestas duas últimas décadas, o GPS (localização geográfica) evoluiu a ponto de ser injetado no pequeno espaço de um celular, que cabe na mão de uma pessoa. Antes de conhecermos e nos admirarmos com este termo técnico, e usufruir das maravilhas que a sua teoria nos oferece na prática, conhecíamos algo a que chamávamos de:

SENSO DE DIREÇÃO

Temos, entre nossos amigos e colegas, aqueles a quem reputamos o dom de terem excelente noção de onde estão no momento e como vão chegar a determinado lugar com mais rapidez, pois tem uma capacidade maior de se situarem no espaço do que a maioria das pessoas.

Os taxistas londrinos

Entre as numerosas pessoas que o mundo dispõe, foi observado que os taxistas londrinos tinham um excelente Senso de Direção. A provável causa instrumental era a de que eles, para adquirirem uma licença de taxista, precisam decorar as rotas de taxi de Londres (pois nesta cidade o taxi não pode andar aleatoriamente pelas ruas, em qualquer caminho, mesmo obedecendo a mão de direção).

Tendo sido observado este dom, a doutora Eleanor Maguire e Hugo Spiers, entre os anos de 2010 e 2014, examinaram o cérebro, em funcionamento, de 79 taxistas londrinos e motoristas de ônibus da mesma cidade, para verificar, funcionalmente, o que estes apresentavam de diferente em relação aos cérebros das pessoas comuns, não taxistas (grupo de controle).

Os resultados deste estudo estão no paper "London Taxi Drivers and Bus Drivers: A Structural MRI and Neuropsychological Analysis". A conclusão mais incisiva foi a de que uma região, em especial, era maior do que a observada nas pessoas comuns: o Hipocampo.

O mais impressionante é que este pequeno órgão cerebral (o Hipocampo) já mostrava evidências claras de ser um dos principais responsáveis no processo de formação de memórias, entendimento e aprendizado. Seria a conclusão do estudo, de alguma forma, errada ? Claro que não, pois fora obtida pelas imagens dos "scanners" de Ressonância Magnética.

A metáfora da ideia de localização espacial

O que ocorre, é que a conceituação e a separação das ideias relativas ao entendimento e à localização espacial que nós temos, fruto do quase sempre enganoso SENSO COMUM, está errada.

Observem as metáforas linguísticas com as quais convivemos em nosso dia a dia:

  • "Vamos seguir uma linha de raciocínio";
  • "Em nossa caminhada aprendemos muitas coisas sobre a vida";
  • "Como vai você ?" (Como vai a sua vida ?);
  • "Em que ponto do trabalho você está ?";
  • "Quantas etapas faltam para o fim do seu projeto ?";
  • "Onde você pensa que vai chegar agindo desta forma ?";
  • "Nesta estrada (vida) só quem pode me seguir sou eu." (Música de Fagner);

Nestas metáforas vemos que o pensamento (raciocínio) tem uma linha, a vida é comparada a uma caminhada. Para saber como está a vida de uma pessoa, pergunta-se "Como vai você ?". Um trabalho, um projeto, é comparado a algo como uma estrada. O comportamento da pessoa a conduz a uma "chegada", ou seja, ao fim de um caminho. Na última a vida é comparada a uma estrada.

Em outras palavras, um órgão que parecia ser especializado em localização, senso de direção e percursos TENTA TRANSFORMAR INFORMAÇÕES NÃO ESPACIAIS EM IDEIAS DE ESPAÇO ATRAVÉS DE METÁFORAS. Esta é a constatação com base na evidência linguística. Um centro que parece de exclusiva finalidade geográfica explora as informações disponíveis cujas raízes sejam localizacionais e de percurso, para compatibilizar com as que não tem esta raiz, mas possam se ligar às primeiras.

Explicação na Fisiologia do Hipocampo

Como mostrado no artigo "Circuitos do Hipocampo" , este órgão cerebral recebe informações que ajudam na localização, oriundas do MEC (Medial Entorhinal Cortex). Estas informações são "traduzidas" pelas place-cells nas áreas CA1 e CA3 do Hipocampo, de forma produzir um "mapa" dos locais onde existem Coisas Agradáveis e Coisas Desagradáveis no ambiente. Este "mapa" não é um plano com informações detalhadas como compreendemos os nossos Mapas impressos reais, cheios de detalhes e com uma métrica muito bem definida. Este "mapa" é um espaço de sensações suficiente para que evitemos os perigos e sigamos as "rotas de recompensa", ou seja, caminhos que nos dão algo em troca.

Exemplificando, vamos descrever um mapa sensorial de um bar.

Você acabou de entrar em um bar ao qual nunca foi antes. A porta de entrada é mapeada como um local importante, pois é a sua "possivel rota de fuga" em caso de perigo. As mesas perto da porta são mapeadas como lugares mais tranquilos para você assentar, pois você se encontra em um lugar NOVO. Uma vez sentado, você olha para a mesa à sua frente, e ali tem três moças bonitas, onde apenas uma delas está abraçada a um rapaz. Esta mesa é mapeada como um "local de possível recompensa", pois pode ser que uma das duas moças sem namorado (a priori) corresponda à suas olhadas. A duas mesas de distância à direita, tem quatro rapazes mal encarados. Seu "mapa" interno marca aquele lugar como "local de possível confusão". Mais ao fundo está o balcão onde são feitos os pedidos de bebida. Seu "mapa" interno marca aquele local como "local de possível recompensa".

Em outras palavras. todo o ambiente é "mapeado" com sensações que vão guiar as nossas possíveis reações no ambiente, pois a primeira preocupação do Hipocampo, sendo parte de um sistema maior, o Sistema Límbico, que processa basicamente emoções, é a sobrevivência do indivíduo.

Conclusão

O Hipocampo forma um Ambiente com marcas dos locais onde é seguro ou não estar. E, além disso, influi na construção de metáforas do espaço, ao processar informações que não dizem respeito, à primeira vista, à localização do indivíduo.




domingo, 2 de julho de 2017

Circuitos do Hipocampo I - (Hippocampus circuitry)

No artigo "Introdução ao Estudo do Hipocampo" mostramos basicamente o que este pequeno órgão cerebral faz por nós, os seres humanos. Ele é o intermediário entre a Realidade e a nossa percepção desta Realidade. É também o "gravador" das nossas percepções da Realidade e, como vamos perceber, o "reprodutor" de nossas percepções armazenadas em nossa memória.

Neste artigo, vamos apresentar as áreas do Hipocampo novamente, porém de uma forma mais voltada aos microcircuitos que elas perfazem entre si, e aos circuitos que ultrapassam os domínios deste pequeno e importantíssimo órgão cerebral.

Circuito esquemático

Para a compreensão deste diagrama, é fundamental a absorção prévia da função de regiões cerebrais citadas no mesmo.

Entorhinal Cortex

É um centro de distribuição de informações oriundas do Córtex Cerebral. Portanto, fica entre o Neocórtex e o Hipocampo. Uma das funções já mapeadas deste órgão é a associação das informações provindas do Sistema Ocular e do Sistema Auditivo. As informações do Sistema Ocular se subdividem entre as provenientes do LEC (Lateral Entorhinal Cortex) e do MEC (Medial Entorhinal Cortex).

O primeiro (LEC) cuida dos objetos/entidades individuais de uma cena. O segundo (MEC) traz as informações do cenário, ou seja, estabelece um sistema de coordenadas espaciais, utilizando células especializadas, como as "grid cells", ou células de grade, que dividem o ambiente em quadrados imaginários, e as "border cells", ou células de borda, que marcam os contornos do ambiente em que o indivíduo está. Também temos as "header cells", ou células de "cabeçalho", que dizem para onde os olhos da pessoa estão apontando.

Quando você entra em uma sala, galpão, quarto, banheiro, escritório, seja o ambiente que for, estas células nervosas ajustam seus "disparos" às dimensões do cômodo, e ficam atentas à direção do seu olhar.

O LEC lida, em grande parte, com informações oriundas dos órgãos sensoriais, daí sua característica ser mais a de se preocupar com os objetos da cena. O MEC parece se preocupar mais com a integração do indivíduo aos caminhos e à extensão do ambiente, e muito pouco com as informações sensoriais.

Ainda existe um aspecto interessante sobre o LEC, pois esta região é acionada quando você se pergunta

"Onde está aquele objeto que estava aqui ?"

ou seja, enquanto o MEC lida, durante uma busca, com a cena em si, o LEC também lida com o PASSADO das posições dos objetos da cena. Ele carrega o contexto HISTÓRICO dos objetos, caso já tenha estado na cena em questão.

Header Cells - Direção da cabeça

A camada III do MEC contribui para a localização pessoal por meio de suas "Header Cells", ou seja, células que disparam seus potenciais para cada direção em que a cabeça do indivíduo aponta. Pela observação da figura acima, vemos que esta informação é dirigida para a área CA1 do Hipocampo.

Grid Cells - Células de Grade

A camada II do MEC contribui para a localização pessoal por meio de suas "Grid Cells", ou seja, células que disparam seus potenciais para cada local específico de coordenada espacial em que a o indivíduo está. Pela observação da figura acima, vemos que esta informação é dirigida para as áreas DGCA3 do Hipocampo. A camada III do MEC também possui Grid Cells.

Border Cells - Células de borda

As camadas II e III do MEC também contribuem para a localização pessoal por meio de suas "Border Cells", ou seja, células que disparam quando o indivíduo está nas beiradas do ambiente de seu contexto.

Área DG

DG é a sigla em inglês para Dentate Gyrus, em português, Giro dentado, devido à sua forma dentro do órgão que os contem (Hipocampo). Esta área é ativada na formação das memórias, MAS NÃO PARTICIPA DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO das mesmas (lembrança, consultade informações armazenadas na memória).

Nesta área ocorre a neurogênese, ou seja, o nascimento de novas células nervosas. No caso do computador, poderíamos comparar estas células às memórias em branco, ou virgens, ainda não ocupadas. Um computador NÃO CRIA MEMÓRIAS e sim APROVEITA AS DESOCUPADAS, revelando como o cérebro é um equipamento muito mais poderoso.

Um dos tabus que existia até a década de 1990 era o de que o cérebro de pessoas mais velhas não criava novas células para as novas memórias, um absurdo que caiu por terra.

Giro Dentado, camada escondida da Rede Neural

Existe um método para resolução de problemas, denominado Redes Neurais Artificiais (RNA), que vem ganhando projeção em virtude justamente das pesquisas de Neurocientistas. No entanto, eles mesmos não utilizam este conceito na prática, ficando esta tarefa a cargo dos matemáticos, dos Analistasa de Sistemas e dos Programadores.

Em nosso artigo "Visão dual da Realidade e amadurecimento por parâmetros" , mostramos basicamente a ideia de uma Rede Neural. Sem tecer maiores detalhes, vimos que havia uma camada de "neurônios" entre os parâmetros de entrada e o resultado fornecido pela rede. Era a camada escondida.

O Giro Dentado fornece justamente este expediente, provendo um meio de ajuste entre os estímulos despertados por um fato novo e informações parecidas que já foram armazenadas em nosso Cortex, durante a nossa vida prática.

Como já deixamos mais ou menos claro em artigos anteriores, depois de algum tempo, pouca coisa pode ser classificada, na Realidade dos fatos, como algo NOVO para a nossa Memória. Portanto, o que é reconhecido por nossos estímulos só COMPLEMENTA ideias existentes com algum DETALHE A MAIS. Você pode notar isto nos noticiários. Os fatos são mais ou menos os mesmos, mudando apenas o autor, a data, o local, e uma ou outra condição. O resto é todo REPETIDO.

Área CA1

Em se tratando de Circuitos, finalidade deste artigo, o CA1 é, a exemplo da área DG, mais uma camada de ajuste de Rede Neural, com a diferença de não prover novos neurônios à Rede, apenas aproveitando os estímulos da camada III do Cortex Entorhinal.

Área CA3

Em se tratando de Circuitos, finalidade deste artigo, o CA1 é, a exemplo da área DG, mais uma camada de ajuste de Rede Neural, com a diferença de não prover novos neurônios à Rede, apenas aproveitando os estímulos da camada II do Cortex Entorhinal.

E acrescente-se o fato de que esta área possui ligações recorrentes com os seus próprios neurônios. Atribui-se a esta área a "Memória Associativa", justamente por suportar este tipo de ligação. Mas é preciso lembrar que as ligações sinápticas entre neurônios (ou com o próprio neurônio, neste caso), diferem, dependendo de ser concretizada na camada proximal, medial ou distal.

Cabe ressaltar que esta área funciona como uma espécie de Amplificador dos sinais processados, e como um INTEGRADOR do Local, dos Objetos neste Local, do Evento acontecendo e do Contexto (o papel do EU naquele local e naquele Evento) Daremos mais detalhes no artigo "Microcircuitos e Memória Associativa".

Perforant Pathway

Como a tradução desta espressão fica muito feia - "Caminho perfurante" - vamos utilizá-la em inglês mesmo, para evitar uma aparência deselegante, e nos referir a ela pela sua abreviatura "PP".

Este feixe de fibras é composto de axônios oriundos do Cortex Entorhinal, das áreas já distinguidas no item "Cortex Entorhinal" no início do artigo. De acordo com o tipo de objeto do contexto, elas são dirigidas para destinos diferentes. As informações a respeito de objetos e entidades da cena observada pelo indivíduo (LEC), oriundas da camada II, bem como as informações da cena observada pelo indivíduo (MEC), oriundas da camada II, tem o mesmo destino: os dendritos das Células de Mossy no Giro Dentado.

As informações a respeito de objetos e entidades da cena observada pelo indivíduo (LEC), oriundas da camada II, bem como as informações da cena observada pelo indivíduo (MEC), oriundas da camada II, tem o mesmo destino: os dendritos das Células Piramidais , da área CA3.

As informações a respeito de objetos e entidades da cena observada pelo indivíduo (LEC), oriundas da camada III, bem como as informações da cena observada pelo indivíduo (MEC), oriundas da camada III, tem o mesmo destino: os dendritos das Células Piramidais da área CA1.

Os axônios das células piramidais da área CA3 formam ligações associatiovas com seus próprios neurônios, emitindo, ao mesmo tempo, prolongamentos para a área CA1 em um feixe de fibras conhecido como Schaffer Collaterals.

Conclusão

Todos estes circuitos estabelecem exatamente as "camadas escondidas" (hidden layers) para modular os impulsos originados do Córtex Cerebral com as demais áreas do Sistema Límbico, não mostradas, com o objetivo de formar novas memórias.

Caso os impulsos sejam estabelecidos apenas para a recuperação de memórias, o Giro Dentado não é envolvido.

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Bibliografia:

Role of the dual entorhinal inputs to Hippocampus - John E. Lisman
Hippocampus, microcircuits and associative memory - Vassilis Cutsurides, Thomas Wennekers


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domingo, 18 de junho de 2017

Sistema Límbico - Memória, Aprendizado e Emoções

E engraçado ouvir profissionais da psicologia falando sobre as emoções em entrevistas de TV. Os neurologistas preferem não entrar neste terreno, apesar de ser afeto ao seu cotidiano profissional, e de também conhecerem profundamente o aparelhamento cerebral que dispara as reações resultantes daquilo que conhecemos como emoções.

E é por este aspecto, em uma parte voluntarioso dos psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, e de outra parte um tanto omisso por parte dos neurologistas, que temos ideias erradas sobre nossas emoções.

Acompanhem o raciocínio absolutamente técnico desta matéria.

O Cérebro possui um sistema dedicado às emoções

Nossas emoções não apenas afloram de nosso ser, como algo puramente metafísico. Elas são provocadas pelo contexto em que vivemos. Portanto, nossas emoções são REAÇÕES. Não existe um TEMPERAMENTO do indivíduo, por simplesmente ele ter nascido de um jeito ou de outro, como expressão puramente humana, como se viesse do Espírito deste indivíduo. Vamos separar as coisas.

O Sistema Límbico

O primeiro fato, ponto de partida de nosso raciocínio, é o de que POSSUÍMOS UM SISTEMA BIOLÓGICO QUE LIDA COM AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS denominado SISTEMA LÍMBICO. Do ponto de vista técnico, constitui-se de máquina BIOLÓGICA, denominada SISTEMA LÍMBICO.

Podemos avançar, dizendo que, por ser um Sistema Biológico, por ser baseado em princípios físico-químicos (neurotransmissores, hormônios, proteínas, íons e outros compostos), que ele INTERPRETA A REALIDADE, com todas as suas limitações peculiares.

Já dissemos, em artigo anterior, que o Cérebro é um Simulador da Realidade.

A parte deste Simulador que lida com os DISPARADORES DE ALARMES, mantenedores de nossa sobrevivência, é justamente este Sistema Límbico, do qual estamos falando.

Ele lida com aquilo que conhecemos como MEDO. Tecnicamente (temos a pretensão de definir tal coisa) o Medo é um alarme disparado pelos sentidos, que atinge a nossa Amígdala (um pequeno órgão cerebral) que faz parte deste Sistema Límbico, que evoca Memórias que trazem consigo lembranças de Sofrimento, ou ensinamentos que recebemos (também armazenados na Memória), Certos ou Enganosos, que dizem que aquele Contexto apresentado provocará sofrimento.

As Memórias Enganosas são justamente o objeto com que os psicólogos ou psicanalistas lidam em seu dia a dia.

Os sentidos

Todos os nossos sentidos podem ativar o pequeno órgão citado, a Amígdala, caso um outro órgão cerebral, o TÁLAMO,  que se coloca entre os sentidos e a Amígdala, interprete, baseado também em nossas Memórias, que a situação é uma situação de Perigo, ou digna de despertar simplesmente nossas conhecidas Emoções.

Primeira Conclusão

As Emoções e a sensação de Perigo são frutos de uma interpretação cuidadosa, dependente de um Sistema Biológico, que também consulta a nossa Mamória. Caso estas memórias sejam enganosas, do ponto de vista lógico, porque as experiências do indivíduo podem ter sido traumáticas, o resultado da interpretação pode ser uma falsa sensação de Perigo.

A Memória

A Memória é popularmente conhecida como Lembrança. No entanto, a Memória é muito mais do que isto. A Memória humana não é um conjunto de bits armazenado em um pendrive de Computador, ou em seu disco interno. Fomos privilegiados pela natureza, pois a nossa Memória é "temperada" pelas nossas emoções. O que isto quer dizer ? Quer dizer que os indivíduos só armazenam aquilo que é importante para as suas aspirações em particular.

Por exemplo, dois estão numa aula de tricô. Um homem, que queria ver o significado de tricô e uma moça, muito interessada em aprender esta arte, Quando a aula começa, a moça fica atenta a cada palavra falada pela professora, e aos movimentos que ela faz com a agulha de tricô. Já o homem, decepcionado, pois a aula não é nada que o interesse, dispersa e, ainda que olhe a professora e a ouça, não aompanha as palavras e nem os movimentos que a professora faz.

No caso da moça interessada, seu Sistema Límbico é ativado pela sua CURIOSIDADE (a curiosidade é uma categoria de emoção), e sua Amígdala amplifica a intensidade das informações recebidas pelos sentidos em seu Tálamo, provocando a neurogênese em seu HIPOCAMPO, trazendo memórias do Sistema Motor associadas aos movimentos das mãos, Memorizando os novos movimentos que a professora está apresentando, tornando suas mãos mais ágeis para o manuseio das agulhas de tricô.

Fizemos uma descrição a grosso modo, desta forma, da formação de uma memória estimulada pela Emoção.

No caso do homem, que dispersou, por absoluto desinteresse na aula, seu Sistema Límbico simplesmente fez com que sua estadia na sala de tricô não fosse registrada como devia, captando os detalhes. Se o ser humano fosse um computador, este aluno registraria o que foi dito e mostrado na aula, mesmo sem se interessar pela matéria.

Segunda Conclusão

A Memória é uma faculdade humana dependente de nossas emoções. Memorizar e aprender não é o mesmo que passar o conteúdo de um CD-ROM ou DVD para dentro de um computador.

Situação do Aprendizado nas Escolas

De acordo com as estatísticas  do IPM (Instituto Paulo Montenegro), apenas 8% das pessoas que trabalham, no Brasil, tem condições de Ler e Interpretar o que lêem. Ler e Escrever, simplesmente, não basta.

E como chegamos a esta situação ? De acordo com o que foi exposto aqui, esta situação se deve ao DESINTERESSE dos alunos pelo conteúdo formal apresentado nas escolas.

Quais são as consequências desta situação ?

Não pensemos apenas na dificuldade de emprego. Pensemos em quais serão as consequências para o seu Comportamento. O analfabetismo funcional será, como já é, por definição, uma DEFICIÊNCIA. Uma vez percebida, o indivíduo não terá condições de ter acesso aos empregos e carreiras que exijam uma capacidade mais apurada de Planejar, Executar e Controlar os contextos que lhe forem apresentados.

Teremos uma legião de pessoas trabalhando em tarefas já todas delineadas previamente por aqueles 8 % que são capazes de compreender contextos, de interpretá-los, de melhorá-los e de, inclusive, selecionar aqueles que serão capazes de executá-los, com instruções prévias bem delineadas, Teremos o "Reino dos Procedimentos Padrão prédefinidos". No final, poucos pensarão, e muitos executarão.

Conclusão

O Ser Humano não é só um "homo sapiens"; ele é um "homo sapiens emocionalis". Se ele não se empenhar na escola, se não se conscientizar de que precisa ter curiosidade a respeito dos fatos e dos conhecimentos que a vida lhe apresenta, ele se trannsformará numa mera ferramenta de execução de procedimentos concebidos por uns poucos. Será o novo tipo de portador de uma Deficiência invisível, mas talvez a pior de todas:

A IGNORÂNCIA




sexta-feira, 16 de junho de 2017

Visão dual da Realidade e amadurecimento por parâmetros - Redes Neurais

Em nossa infância de pensamento, tínhamos uma visão simples das coisas. Uma coisa ERA ou NÃO ERA. Esta é uma expressão do básico 8 ou 80.

Pensamentos primitivos

Quando começamos a aprender, em tenra idade, nos acostumamos, pela nossa limitação, a ver as coisas sob o ponto de vista dos extremos:


  • Branco ou preto;
  • Quente ou frio;
  • Grande ou pequeno;
  • Doce ou salgado (opostos não necessariamente técnicos);
  • Alto ou baixo;
  • Cheio ou vazio;


Esta é a abordagem mais simplista, pois a mente de uma criança lida facilmente com estes parâmetros.

Meio termo

Mais tarde, lá pelos 5 ou 7 anos, percebemos que existe um mais ou menos. Isto é evidenciado, por exemplo, na hora de colocar um suco em um copo de plástico, ou mesmo na hora de pegar nas mãos este mesmo copo.

Observe uma criança, ao pegar na mão, pela primeira vez, um copo de plástico. Ela aperta o copo, de tal forma que o comprime, a ponto de forçar o líquido para fora do copo. Por que isto ocorre ?

A preocupação de quem precisa "agarrar" um objeto, à primeira vista, é apenas a de alcançá-lo, e utilizar a força para que ele não caia de nossas mãos. Uma criança, em sua relação com a Realidade, baseia suas ações (nesta fase são mais ações do que raciocínios), imprime o máximo de força para agarrar os objetos. Quando for capaz de compreender o pai e a mãe, poder-se-á dizer à criança:

"Você não precisa segurar o copo com tanta força !"

A criança ainda vai cometer o erro de apertar o copo, a cada vez que lhe for dado um suco ou refrigerante, muitas outras vezes, até que desperte a consciência motora de sua mão, e comece a ajustar a força impressa em relação ao copo.

Algo parecido ocorre com a pessoa que está aprendendo a conduzir um automóvel, na auto-escola. No início do aprendizado, o instrutor pede que ela pressione o pedal de freio para interromper o movimento do veículo. Diante desta ordem, o aluno pisa no pedal do freio com toda força. O carro pára bruscamente, a ponto de o motor "morrer". Então, o instrutor começa a ensinar que o freio deve ser pressionado com uma atenção tal que o candidato a motorista procure "sentir", com os pés sincronizados com os olhos, o veículo ir interrompendo, aos poucos, o movimento.

O que foi explicado se resume a uma expressão: AJUSTE FINO. devemos dosar a nossa força em pequenas quantidades crescentes, até observar o efeito desejado. Tal controle se aplica à força utilizada para fechar a porta da geladeira, fechar a porta do carro, chutar uma bola para chegar aos pés de um colega em um jogo de futebol e lançar a bola de basquete na cesta.

Redes Neurais

O Ajuste Fino a que nos referimos, que regula a nossa força muscular, é estabelecido em nossas redes nervosas, com o recrutamento de novos neurônios, que se colocam entre os já existentes, distribuindo os impulsos nervosos, de forma a moderar nossas ações.

Se existisse apenas um neurônio sensor, e um neurônio atuador, o efeito observado para, por exemplo, a reação do tato ao copo de suco, realmente nós amassaríamos o mesmo como foi explicado.

Quando se aumenta o número de sensores (sensores de tato, por exemplo), e se coloca uma camada intermediária entre eles, existe uma modulação que regula a intensidade do impulso oriundo dos sensores:


Nossa pele está repleta de sensores de tato. Quando o indivíduo se educa para prestar a atenção às sensações que procedem de suas mãos, ele abre a sua Rede Neural primária ao surgimento de novas células nervosas e novas ligações, que vão moderando as suas percepções e as suas ações.

É exatamente desta forma que um atleta vai, através de treinos sucessivos, regulando suas redes nervosas, para possibilitar a execução de movimentos mais complexos.

O desligamento dos absolutos

O mesmo ocorre no terreno do raciocínio lógico, em que, no princípio da avaliação, as pessoas definem uma regra.

Vamos dar o exemplo das decisões judiciais. Em termos primários, se uma pessoa mata a outra, é condenada a 30 anos de prisão. Os juristas, no entanto, devem ser razoáveis, analisando os fatores que podem influenciar no contexto de um homicídio. Temos a legítima defesa, temos a premeditação, temos o homicídio executado a mando, onde o matador foi pago, e quem realmente tem a culpa é o mandante. Temos o homicídio por disparo acidental, por troca de tiros entre a autoridade policial e os meliantes, etc.

Na avaliação de um contexto, deve-se estabelecer critérios, com valores para os parâmetros, modulando-se os efeitos conforme as causas.

Um exemplo

No caso do homicídio, teríamos:

  • Intenção (o ato foi planejado, deliberado, desejado);
  • Grau de participação (executor, mandante, apoiador);
  • Grau de perversidade (a tiros, a faca, enforcado, queimado, decapitado, esquartejado);
  • Proximidade (parente, vizinho, professor, namorado, cônjuge);

A cada um foi dado um valor de entrada, segundo as seguintes tabelas:

Intenção

1Seguir para catalogar os hábitos
2Esboçar plano para matar
3Ter lista de matadores para o serviço
4Ter o matador, a arma e a munição, local, data e hora
5Matar por vingança pessoal
6Matar por vingança de terceiros
7Matar por inveja
8Matar por motivo fútil
9Matar por prazer

Grau de Participação

1Apenas efetuou a compra da arma
2Apenas serviu de motorista
3Apenas serviu de olheiro
4Deu acesso ao local do crime
5Rendeu a vítima
6Ajudou a torturar a vítima
7Atirou na vítima

Perversidade

1Matar a Tiro
2Matar a faca
3Esfaquear e deformar as feições
4Esquartejar e queimar as partes

Proximidade

1Desconhecido da vítima
2Ex-empregado da vítima
3Parente não filho(a) nem cônjuge
4Filho da vítima
5Ex-cônjuge da vítima
6Pai/mãe da vítima

Sob estes parâmetros, podemos fazer a seguinte Rede Neural ilustrativa:



A saída da Rede, resultado dos cálculos, será a pena em anos de reclusão. Vejamos então um caso, para ilustrar o uso desta rede simplificada.

Para dar a pena a um indivíduo que esboçou o plano para um homicídio (julga-se os criminosos, e não o crime), mas apenas serviu de motorista no ato, não participando do ato criminoso, e sendo completamente desconhecido pela vítima, teremos os seguintes valores para aplicar na rede:

Intenção: 2

Participação: 2

Perversidade: 0

Proximidade: 1

Façamos os cálculos, até antes da camada do meio da rede (nós laranjas)::

2 x 0.8 + 2 x 0.4 + 0 x 0.9 + 1 x 0.7 = 3.1

Apliquemos à camada laranja, denominada camada invisível de uma Rede Neural, desconsiderando qualquer equação que regule o limite de disparo dos nós.

1º nó laranja:

3.1 x 0,1 = 0.31

2º nó laranja:

3.1 x 0.2 = 0.62

3º nó laranja:

3.1 x 0.35 = 1.09

4º nó laranja:

3.1 x 0.45 = 1.4

5º nó laranja:

3.1 x 0.5 = 1.55

Somando os valores, para obter o output, ou seja, o número de anos da pena:

0.31 + 0.62 + 1.09 + 1.4 + 1.55 = 4.97

Ou seja, a pena para o meliante que fez este papel no homicídio é de 4.97 anos, ou seja, 4 anos, 11 meses e 19 dias.

Redes Neurais

O princípio de aplicação de parâmetros é fruto de um amadurecimento. É o desligamento dos absolutos, e o reconhecimento de que existem parâmetros crescentes na ordem da intensidade de influência destes parâmetros.

Este é o próprio princípio de funcionamento de nossas redes neurais biológicas no arrazoamento das questões presentes na realidade.

Conclusão

Não podemos tomar nossas decisões baseados em extremos. Precisamos dissecar um contexto em seus componentes e quantificá-los, um a um, em ordem de importância, para obtermos resultados corretos na avaliação dos problemas que encontramos, para sermos não só técnicos, mas justos.



















sábado, 10 de junho de 2017

Iniciando o estudo do Hipocampo

Os Sinais do Corpo e os Pensamentos

Nossa existência é percebida por nós mesmos na forma de Sensações e de Pensamentos. Pensamentos podem nascer (ser ativados) independentemente, ou por Sensações oriundas dos nossos sentidos (sinais de nossos órgãos internos, tato, visão, audição e olfato). Não vamos incluir a dor.

O Centro Cerebral que vamos estudar trabalha, basicamente, em conjunto, a grosso modo, com o Tálamo e com a camada de neurônios que está no topo da hierarquia da Memória e do processamento dos Pensamentos: o Córtex.

Não se preocupe se não conseguir captar todo o funcionamento da estrutura em estudo, pois este artigo fas uma apresentação para a qual o leitor terá que retornar a cada etapa do estudo.

Tálamo

O Tálamo é uma estação de "relay" (retransmissão) dos impulsos que chegam às sinapses nervosas, para que o corpo tome conhecimento das sensações do Corpo e para que possa ficar longe do perigo. Todas as sensações oriundas de nossos órgãos dos sentidos passam pelo Tálamo.

Córtex

O Córtex se constiutui de uma fina camada de 2 mm de espessura abaixo do crânio e de suas membranas protetoras, onde estão armazenadas nossas memórias. Temos o Córtex motor, Córtex visual, Córtex auditivo, e assim por diante, cada um especializado numa categoria dos sentidos.

Estando esta abordagem voltada para o estudo do Hipocampo, que se relaciona mais à memória, não vamos levar em conta as emoções processadas pelo Sistema Límbico, como colocado no post "O Cérebro e nossas opções",

Diagrama:


Nossa "visão" do mundo vem, basicamente, de nossos órgãos dos sentidos. O Tálamo tem a função de codificar as informações dos sentidos em impulsos elétrico-ondulatórios em impressões passíveis de serem posteriormente armazenadas na memória.

HIPOCAMPO

O Hipocampo é um órgão avançado, que vamos apresentar, primeiramente, como um SUPERVISOR de tudo o que entra pelos sentidos, já na forma de impulsos sinápticos (pois já foram processados pelo Tálamo), e como INTEGRADOR destes impulsos com aqueles que provém do Córtex em resposta ao Contexto e com as memórias armazenadas no Córtex, anteriormente, em resposta aos mesmos estímulos ou estímulos parecidos com os que foram detectados neste Contexto.

A primeira decisão a ser tomada pelo Hipocampo é a de distinguir se uma situação (contexto) tal como a que está ocorrendo agora é NOVA, PARECIDA com alguma anterior, ou IGUAL à que já se encontra armazenada em algum lugar do Córtex. Isto faz do Hipocampo um COMPARADOR.

Sendo o Contexto completamente NOVO, é disparado o processo de Neurogênese neste Hipocampo, que vai, segundo a Lei de Hebb (neurônios que disparam juntos se produzem ligações entre si. ou seja, formam uma pequena rede) gerar Sinapses entre os Neurônios sensibilizados pelo Contexto. Esta Neurogênese ocorre no Giro Dentado (DG).

Sendo o Contexto PARECIDO com algum anterior, o Hipocampo acusa tal situação pois faz uma checagem de PADRÕES, complementando o que falta, para não desperdiçar espaço e neurônios com algo que já existe um pouco diferente em nosso Córtex. Esta operação se assemelha muito à operação OR da Álgebra Booleana.

Hipocampo: uma "filmadora" da vida

De acordo com a visão do CCN Book, Wiki mantido pela Universidade do Colorado, o Hipocampo é uma espécie de câmera filmadora de todas as experiências pelas quais o indivíduo passa no seu dia a dia.

De acordo com o que foi citado anteriormente, em que se disse que ele é um órgão comparador, tal colocação faz sentido. Ao mesmo tempo em que ele decide se uma experiência é PARECIDA com uma anterior, ou completamente NOVA, ele complementa as redes, no primeiro caso, ou estabelece redes novas no segundo caso.

No entanto, como no correr da vida as situações do dia a dia são praticamente as mesmas ("NÃO HÁ NADA DE NOVO DEBAIXO DO SOL") , podemos dizer que o Hipocampo, na maior parte das vezes, complementa as Redes Neurais existentes.

Seria o Hipocampo nossa Unidade Central de Processamento

A resposta, devido à natureza de nosso modo de Pensar é ABSOLUTAMENTE NÃO.

Cada neurônio associado à memória armazenada, como uma lembrança de um cheiro, de um ruído, de um tipo de ambiente, de um som, de uma sequência de sons, de uma dor localizada em uma parte do corpo, é como um "link" de Internet, que faz uma determinada Rede Neural começar a oscilar. Se for uma sensação de muito curta duração, a Rede Neural vai parar de oscilar rapidamente, e a sensação vai sumir. Se a duração desta sensação tiver uma duração significativa, tal que nossa emoção do momento, ao lembrar desta sensação, seja importante para o contexto, ou seja tão importante para aquilo que somos, mesmo fora do contexto, os neurônios que se ligam a este, serão ativados, e todo o "QUADRO IMPRESSIONISTA" associado será colocado à nossa frente.

Dissemos "QUADRO IMPRESSIONISTA" porque não captamos a Realidade exatamente como ela é, pois esta conteria tantas informações que o nosso cérebro ficaria saturado em pouco tempo, e sim um esboço com o mínimo necessário para as nossas necessidades neste mundo. Quanto a isto, leia o post "O Cérebro é um Simulador".

Neste sentido, temos Neurônios como "atalhos", que disparam uma Rede Neural inteira. E Estas Redes Neurais são como processadores dispersos pelo Cérebro. Isto faz com que, mesmo com um CLOCK (nome que se dá ao relógio que marca o passo do computador) de frequência muito inferior ao de nossos computadores, tenhamos um desempenho global muito superior ao destes equipamentos eletrônicos.

Portanto, não temos um Processador Central, algo evidenciado no fato de que podemos pensar em duas ou três coisas ao mesmo tempo.

As regiões do Hipocampo

A fisiologia de um órgão como o Hipocampo se destina a ajustar as Redes Neurais de nosso Cérebro às novas condições experimentadas na Realidade.

O Hipocampo tem as seguintes regiões grosseiramente identificadas:

DG - Dentate Gyrus (Giro Dentado) - Região onde ocorre a neurogênese (geração de novos neurônios), e onde ocorre o que se chama tecnicamente de Pattern Separation (Separação ou distinção de padrões);

CA3 - Cornu Ammonis 3 - Região responsável pelo que se chama tecnicamente de Pattern Completion (preenchimento do padrão). É responsável pelo estabelecimento do Contexto Espacial das memórias episódicas;

CA2 - Cornu Ammonis 2 - Alguns veem esta área como uma região intermediária entre CA1 e CA3. No entanto, segundo o trabalho de Douglas A. Caruana, esta região tem na sua função conotações de fim social. Isto significa a modulação da memória das relações sociais, bem como o reconhecimento social (grau do vínculo afetivo, de confiança e de hierarquia no contexto). Esta área é afetada pela ingestão de cafeína. Também responsável pelo estabelecimento do contexto Temporal.

CA1 - Cornu Ammonis 1 - O papel desta região é o de atualizar e integrar a memória estabelecida na região CA3 com as informações oriundas do Cortex Entorhinal. Destas últimas duas regiões é que a região CA1 recebe as suas entradas. Especial crédito, com relação a este papel deve ser dado a Nanthia A. Suthana. Responsável pela integração do Contexto Temporal com o Espacial oriundo da área CA2.

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Bibliografia:
Comprehensive computational model for memory processing in the Hippocampus and Entorhinal Cortex - Marianne Fyhn
Hippocampal neurogenesis: Leraning to remember - Orly Lazarov, Carolyn Hollands
Relating Hippocampal Circuitry to Function: Recall of Memory Sequences by Reciprocal Dentate-CA3 Interactions - John E. Lisman
Pattern Separation, Completion and categorisation in the Hippocampus and Neocortex - Edmund T. Rolls







sábado, 13 de maio de 2017

Os modelos primários de nossa matriz de pensamento no Cérebro

Introdução

O empirismo das ciência chamadas Psicologia e Psiquiatria sempre nos apresentou o par PAI e MÃE como algo essencialmente afetivo. Porém, com o estudo atual profundo das estruturas, circuitos e interações do Sistema Cerebral, a coisa mudou um pouco de figura, em direção a algo mais técnico.

O que nos dizia a Psicologia

A psicologia costuma associar o pai ao conceito de Autoridade e a mãe às ideias de proteção, alimentação de nós como bebes, amor maternal e a outros valores, todos definidos em torno do afeto e do contato físico. Freud achou nas mães as culpadas ideais para todo o tipo de trauma que o indivíduo apresentasse.

O Córtex Cerebral armazena modelos

Por meio de nossos sentidos, e isto é mais verdadeiro e evidente quando somos bem crianças (abaixo de 7 anos), apreendemos (melhor que usar aprender neste momento) 2 imagens bem definidas: pai e mãe. Os dois brincam conosco, disputando qual a denominação que vai sair em primeiro lugar de nossa boca: "papá" ou "mamã". Mesmo sem entender os profundos conceitos por detrás destas duas pessoas queridas, vamos perceber que um tem feições daquilo que conheceremos como HOMEM, e outro tem feições daquilo que entenderemos como sendo MULHER. Esta última será, em caso de possibilidade de nos amamentar, o nosso primeiro conceito de fonte de alimentação.

Após efetivado este relacionamento, teremos armazenado em nosso Córtex Cerebral, armazém da nossa Memória de Longa Duração (Long Term Memory - LTM) parte dos conceitos de Homem e Mulher, com suas definições constantes no Córtex Visual. Aqueles modelos de aparência serão uma referência basilar para toda a nossa vida.

O Córtex acrescenta diferenças

O Córtex cerebral é o armazém de conceitos e ideias que compõem a nossa "biblioteca" fundamental para consulta e apoio na condução de nossas vidas.

Para compreender o segundo princípio de funcionamento do Córtex Cerebral, vamos introduzir na vida desta criança em questão um tio. É muito conhecida a reação da criança quando apresentada a um tio por parte de pai. Ela olha para o rosto do tio e para o rosto do pai, repetindo esta inspeção algumas vezes. Esperamos que os dois tenham alguma semelhança pelos fatores genéticos.

A criança não é boba. Ela faz isto porque seu cérebro, vendo dois seres diferentes, quer procurar o sentido daqueles dois que são bem parecidos. Ela não tem nem ideia do que é o conceito de TIO (irmão de pai ou de mãe). Mas sendo tio por parte de pai, será um pouco ou muito parecido com este último, gerando a interrogação no Cérebro da criança.

E a visão, um dos sentidos mais desenvolvidos e utilizados pelo ser humano, vai achar uma diferença, e se a criança tiver muito contato visual com este tio, vai armazenar em sua memória a diferença deste tio para o Pai, pois tendo a primeira imagem masculina já armazenada, não é preciso armazenar um novo modelo de aparência masculina para contemplar a imagem do tio.

Não é preciso nem provar que este tipo de abordagem por diferença vai economizar um bom esforço de memória. Para se ter uma ideia do mundo concreto atual, não seria possível armazenar filmes e vídeos de 2 horas de duração sem este princípio de abordagem das diferenças. No início de cada cena, é guardado um quadro com o cenário (keyframe). A partir daí, até o fim da cena no mesmo lugar, apenas as diferenças são armazenadas. Por exemplo, uma bola vermelha "quicando" em um parque. A cena do parque é armazenada. Depois apenas o movimento da bola é gravado.

Os modelos mais comuns

Algumas cenas do cotidiano são absolutamente previsíveis. Uma sala, uma cozinha, um escritório, uma sala de espera, um parque, um zoológico, uma praça.

Se você entra no escritório de uma empresa, ou em um escritório em algum prédio, ou em um banco, ou em um local de atendimento com guichês, as diferenças conceituais são poucas. Todos tem em comum as divisórias, mesas, pessoas sentadas e um computador à sua frente. Portanto, cabe ao Cérebro apenas armazenar a impressão inicial (provavelmente do primeiro ambiente que mais provocou a sua emoção em sua vida, como o escritório/consultório do pai) e alguns detalhes que diferem um do outro, como a pessoa que mais chamou a sua atenção em cada um (pois vamos a determinados lugares desta natureza para encontrar alguém bem específico).

Nosso Cérebro não armazena um filme de toda a nossa vida, e sim cenários com impressões visuais, olfativas e auditivas, as quais são sobrepostas aos registros iniciais de padrões previamente armazenados durante nosso crescimento.

Modelos e o Tempo

Vamos a um exemplo bem ilustrativo de como estes modelos vão mudando de acordo com o Tempo, porém mantendo uma identidade primitiva. Falamos dos escritórios como um modelo. Quem viveu nos anos 80 e também o início da Era da Informática (meados dos anos 90), viu o modelo de escritório mudar um pouco. As mesas foram substituídas por módulos com divisórias e as máquinas de escrever por microcomputadores. Mas o modelo se manteve: pessoas e um equipamento com teclado.

Eventos e Modelos

Os acontecimentos, notadamente os anunciados em noticiários, são praticamente os mesmos, podendo se encaixar nos seguintes modelos:
- Inaugurações;
- Edição de novas leis;
- Manifestações;
- Homicídios;
- Prisões;
- Anúncio de novo filme ou novela,
- Anúncios de mercadorias.

Ou seja, mesmo em termos de fatos, o universo de modelos é bem restrito.

Conclusão

Após esta exposição, conceitual apenas, o leitor vais observar que o Cérebro não precisa de muito esforço para memorizar o mundo. As ordem das coisas no espaço, e mesmo os acontecimentos, obedecem a um padrão. É a observação pessoal que faz com que elas possam ser armazenadas distintamente, baseadas no conhecimento intrínseco da pessoa, que vai adaptando aos modelos que conhece, as coisas que lhe são apresentadas.

sábado, 6 de maio de 2017

O Cérebro e nossas opções

Estou vivo

Este nosso sentimento de ESTARMOS VIVOS assistindo, ou participando, ou mesmo determinando dos Eventos deste mundo orbita sempre em torno de:

1. Estou gostando da situação;
2. Não estou gostando da situação;
3. Não estou gostando da situação, mas vou continuar nela, pois é minha única opção;
4. Não estou gostando da situação, mas vou continuar nela, mas vou procurar uma forma de mudá-la;
5. Estou gostando dela, e farei tudo para que ela continue assim, pois é minha sobrevivência que está em jogo;

O dilema do Cotidiano

As opções de vida apresentadas no item anterior (“Estou vivo”) traduzem a oscilação de nossos estados emocionais, e podem ser encaradas como o DILEMA DO COTIDIANO. Faço, não faço, deixo como está, procuro alterar ou procuro evitar que alterem ? Quem vai ditar a ação na direção de uma destas opções é o nosso ESTADO EMOCIONAL. Em certos momentos, podemos optar pela opção 4, outras pela opção 5, mas na maior parte das situações somos tomados pelo comodismo, e caímos na opção 3. A maior parte das pessoas está limitada a esta opção.
Decisão e Solidariedade
Uma sexta opção seria:

“6 - Estou gostando da situação, porém existem muitos que não estão gostando dela, e vou colaborar para que ela mude”.

Esta é uma emoção que vai mobilizar o Centro Executivo do Cérebro deste indivíduo em particular, e vai fazer com que ele, mobilizado pela Solidariedade, tome uma Decisão firme. Este é o tipo de indivíduo que vai usar seu Cérebro de forma mais nobre.


Racionalidade

A Racionalidade permeia as Decisões pelas opções que mais se adaptam ao indivíduo, em seu Estado Emocional corrente, conjuntamente com os Conhecimentos que auferiu até este seu momento da vida.

Podemos ter um indivíduo que gostaria de escolher a opção 4, no entanto não tem os Conhecimentos suficientes em seus bancos de ideias (Memória). Outro indivíduo pode ser um perverso que entende a opção 5 como forma de impedir que outros tenham acesso a uma situação de bem-estar, pois pode ser que os outros consigam e ele não ou, pior ainda, lhe dá gosto negar o bem-estar aos outros, pois não os acha dignos.

Uma Racionalidade pura e lógica de escolha do indivíduo seria a Opção 6. Ela dita um comportamento de construção de uma Sociedade e de uma Civilização autêntica. Ela extrapola os limites do Cérebro individual e constrói a consciência coletiva.


Humanidade

Então temos de um lado as opções puramente Emocionais e do outro lado a Racionalidade Pura. Nem um nem outro é um comportamento humano, individual. O verdadeiro Comportamento Humano é resultado de um balanceamento entre as Emoções e a Racionalidade, que tem como modulador o nosso Histórico Pessoal, gravado em nossa Memória.

O indivíduo estritamente Emocional é como uma bomba relógio. O exclusivamente Racional é um chato, um “mister Spock”. O humano é aquele que tem Emoções mas tem um certo Controle sobre elas, resultado da vivência de uma série de experiências (Memória), que lhe dão uma noção estimada dos riscos que se apresentam nas situações a que é exposto.

Fisiologia Cerebral

Em termos de órgãos do Sistema Cerebral, apresentamos a seguir os responsáveis para cada atribuição citada:

Emoções – As emoções tem um Sistema dedicado, denominado Sistema Límbico, cujo principal componente é a Amígdala. Algumas memórias de alta importância são armazenadas na Amígdala, por estarem muito ligadas à sobrevivência do indivíduo.
Histórico – Fica distribuído pelas diversas partes do Sistema Cerebral, de acordo com a sua natureza: auditiva, visual, motora, etc. A este histórico damos o nome de memória.
Racionalidade – O centro absoluto da Racionalidade é a última região a amadurecer do Sistema Cerebral. Trata-se do Córtex pré-frontal.

A Humanidade também vem da Racionalidade do Córtex pré-frontal em disputa com as Emoções do momento e com o Histórico da pessoa.

Este é o princípio geral da Humanidade, ou seja, um balanceamento dependente do contexto em que o indivíduo está, que lhe desperta determinadas Emoções, mas que ele procura superar utilizando o seu Histórico (currículo de vida) e avaliar com a sua Racionalidade o quanto pode passar por cima de suas Limitações no momento com o seu Conhecimento.

A Humanidade depende do momento. Não estamos discutindo Caráter. O Caráter é contínuo, mas não é capaz de ditar a ação em momentos críticos, em que há limitações por absoluta ausência no Histórico da pessoa de Conhecimentos para superar as dificuldades apresentadas no momento. Em um exemplo exagerado, o sujeito pode ter um Caráter decidido, mas não tem força e nem um guindaste apropriado para remover uma rocha de 700 toneladas que está em seu caminho.

Conclusão

O Cérebro nos faz mais do que A MÁQUINA MAIS PERFEITA DO UNIVERSO pois nos dá opções e utiliza bilhões de históricos de vida diferentes. Ele nos torna, por vezes, imprevisíveis, para que não sejamos vistos como meros robôs.

sábado, 15 de abril de 2017

O Cérebro e os seus componentes funcionais

O cérebro é mais do que um órgão. Ele é um Sistema. É o Sistema mais bem concebido sobre a a face da Terra.



Amígdala - A amígdala é o órgão sentimental do Sistema Cerebral. É o processador de emoções, e fixador de memórias.
Cerebelo - É o processador principal de nossos movimentos corporais.
Corpos Mamilares - Responsáveis pelos sentimentos de afeto e cuidado para com os outros.
Córtex pré-frontal - Órgão executivo do Sistema Cerebral. Responsável pelo planejamento e previsão.
Córtex Entorrinal - Responsável pela memória e pelo sistema de navegação cerebral.
Hipocampo - Integrador de todas as áreas do Sistema Cerebral relacionadas à memória e à sua formação, além da consolidação do aprendizado.
Hipófise - Glândula controlada pelo Sistema Cerebral que dá as ordens ao Sistema Endócrino.
Hipotálamo - Órgão do Sistema Cerebral que dá as ordens à Hipófise, controlando, através dos hormônios secretados por esta, o Sistema Endócrino.
Ponte - Responsável pelo sono e pelo despertar.
Subiculum - Tem um papel não totalmente esclarecido na navegação espacial, no processamento mnemônico e no controle da resposta ao stress.
Tálamo - É um centralizador dos estímulos oriundos de nossos sentidos, além de regulador das respostas de vários órgãos do Sistema Cerebral.

Algumas observações

Os órgãos do Sistema Cerebral não trabalham em separado. Se dissemos que a Amigdala é o "órgão sentimental", foi apenas para uma identificação de seu principal papel. No entanto, este órgão é que determina o "peso emocional" de uma nova memória. Em outras palavras, nossas memórias, assim como nossos movimentos e decisões, recebem um estímulo complementar, do grau de emoção com o qual tem que ser guardados, executados ou lembrados.

De forma semelhante trabalha o Córtex pré-frontal. Além de ser nosso centro executivo, ele também atua no momento da recuperação das memórias, alimentando o Hipocampo de informações quando, por exemplo, precisa processar as interações sociais do indivíduo, dizendo como ele deve agir, baseado em sitiuações anteriores e nos códigos reconhecidos de conduta aceitáveis.

O Hipocampo é mais do que um processador da memória e do aprendizado. Ele conecta quase todos os órgãos do Sistema Cerebral, possibilitando a correta regulação das respostas que serão dadas em cada situação. Alguns artigos (papers) classificam o Hipocampo como um "integrador" de fatos, episódios, conceitos e emoções, decidindo se vale a pena armazenar tais informações, com base no peso da emoção associada.

O cérebro não tem uma CPU

Em nosso comportamento diário, podemos ter ações físicas ou então puramente pensamentos. Não existe um processador central que dita o que fazemos ou pensamos. Cada neurônio (unidade funcional cerebral) pode iniciar uma série de pulsos, em qualquer parte do cérebro, sensibilizando tantas outras, para iniciar um processamento. E para cada processamento, muitas áreas interagem, seja na leitura, seja na escrita, seja na execução de um movimento, seja na interpretação de um som ou de uma visão.

Esta característica torna o cérebro bem superior a qualquer máquina. Mesmo os supercomputadores estão distantes de atingir as cifras cerebrais, como:

- Bilhões de neurônios;
- Até 10 mil ligações possíveis entre um neurônio e seus vizinhos;
- Trilhões de sinapses (ligações entre neurônios);
- Variação de comportamento de disparo, conforme o neurotransmissor selecionado;

A vocação do cérebro

Pela sua natureza e avidez por efetuar ligações, o cérebro de uma pessoa sem problemas mentais aparentes quer aprender o tempo todo, fazendo novas ligações e modificando as anteriores (plasticidade).

Conclusão

Este artigo não tem uma conclusão, pois apenas levanta alguns dos componentes funcionais do Cérebro, e procura caracterizar o equipamento mais capaz do planeta.